'3 anos sem justiça', diz mãe de vítima do massacre em Paraisópolis
Caso completa 3 anos nesta quinta-feira (1º), e as famílias seguem aflitas com o andamento das investigações
“Os policiais seguem suas vidas, enquanto nós, familiares, estamos há 3 anos lutando por justiça”. Essa é a fala de Adriana Regina dos Santos, mãe de Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, morto por asfixia na madrugada do dia 1º de dezembro de 2019, após uma ação violenta do 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de São Paulo na favela de Paraisópolis.
Segundo sua mãe, o jovem mostrou ser um ser humano “incrível, apaziguador, atencioso, e educado”, durante seu pouco tempo de vida. “Adorava ajudar quem precisava, dividia ou dava o que era seu ao próximo. Todos sempre me diziam: Como Dennys é bonito, educado e bonzinho”.
Dennys estava prestes a completar 17 anos. Morreu quando faltavam 27 dias para o seu aniversário, que seria comemorado no dia 31 de dezembro. “Não imaginava que estruir não apenas a vida dele, mas a nossa também. Não vi meu filho se barbear. Meu filho não pode pensar em quem votar. Foram muitos sonhos destruídos.”
Para Adriana, o dia 1º de dezembro é um sinônimo de saudade, com uma mistura de revolta e indignação, que as fazem levantar questionamentos. “Por que mataram meu menino? E a justiça, quando será feita? Imagino como ele estaria comigo hoje. Um homem formado. Mas tudo fica na imaginação”.
Adriana pede para que a justiça seja feita, mesmo que tarde, pois quer continuar o legado do seu filho, e de outros jovens da periferia. “A justiça tem de acontece, especialmente lá onde baixa classe ou os negros estão”.
Saiba quem eram as vítimas
Além de Dennys, outros 8 jovens também foram vítimas do massacre. Nenhum dos mortos morava em Paraisópolis. Veja abaixo quem são os nove mortos e como morreram:
Marcos Paulo Oliveira dos Santos – Primeira vítima a ser reconhecida, o jovem tinha 16 anos, era estudante e morava no Jaraguá, Zona Norte de São Paulo. Segundo a família, foi a primeira vez que Marcos foi ao baile funk. A família não sabia que ele tinha ido ao baile. Ele disse para a avó que ia comer uma pizza com os amigos. Ele morreu por asfixia.
Denys Henrique Quirino da Silva – O jovem de 16 anos era da Zona Norte de São Paulo. Trabalhava como ajudante de tapeçaria e gostava de frequentar baile funk. Ele faria 17 anos no dia 31 de dezembro, e morreu por asfixia.
Gustavo Cruz Xavier – A família do jovem passou o domingo procurando pelo rapaz. Na noite daquele dia, o corpo dele foi reconhecido por familiares. No velório, os parentes contaram que Gustavo era um menino quieto que gostava de jogos eletrônicos e sonhava em ser advogado ou jogador de futebol. Ainda bebê, perdeu o pai para o câncer.
Gustavo disse para a família que ia para o baile. Não deu mais notícias. A família, que mora no Capão Redondo, um bairro próximo, ficou sabendo que ele podia ser uma das vítimas ao receber um vídeo no domingo. Nele, o adolescente aparece de camiseta azul, desacordado, já asfixiado.
Gabriel Rogério de Moraes – O jovem foi velado em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde morava. O pai Reinaldo Cabral de Moraes disse que Gabriel foi ao baile por insistência de amigos. Ele também morreu por asfixia.
Mateus dos Santos Costa – Baiano, Mateus havia se mudado para São Paulo há 17 anos. Ele era solteiro e morava sozinho em Carapicuíba, na Grande São Paulo, perto da casa do irmão, com quem trabalhava vendendo produtos de limpeza. Mateus costumava frequentar baile funk. Mateus morreu por traumatismo.
Bruno Gabriel dos Santos – Bruno Gabriel era de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Era o mais novo de quatro irmãos. Ele tinha completado 22 anos dias antes e disse à mãe que ia comemorar com amigos. Bruno também morreu por asfixia.
Eduardo Silva – Eduardo da Silva era ajudante de oficina e morava com a família em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Morto por asfixia, o jovem deixou um filho que hoje tem 5 anos.
Luara Victoria de Oliveira – A jovem é a única mulher vítima da tragédia. Morava com uma amiga em Interlagos, na Zona Sul. Os pais dela já morreram. Criada pela avó, tios e primos, a jovem também morreu por asfixia.
Testemunhas e sobreviventes contaram ter visto policiais militares lançarem bombas de gás contra as pessoas que estavam no baile e fugiram para vielas do bairro na madrugada de 1º de dezembro de 2019. Ao menos nove PMs teriam chegado primeiro ao local. Depois vieram mais policiais.
De acordo com a Defensoria Pública, os agentes da PM encurralaram as vítimas em um beco sem saída, conhecido como Viela do Louro. Depois passaram a agredir os jovens, provocando tumulto. Vídeos gravados por moradores mostram as agressões durante a dispersão.
Muitas pessoas não conseguiram sair da viela e morreram sufocadas, prensadas umas às outras. Laudo pericial confirmou que oito vítimas morreram asfixiadas e a outra, por traumatismo.
Exames apontaram ainda que as vítimas chegaram mortas aos hospitais, algumas com lesões compatíveis com pisoteamento.