Conheça o Favela Brasil Xpress no Terê, em Betim, MG
Comunidade é a primeira de Minas Gerais com serviço de entrega, onde compras dos moradores não chegavam
Cada vez mais gente compra pela internet, inclusive, claro, que mora nas favelas, mas a dificuldade em receber os produtos é enorme. O problema virou oportunidade de empreendimento e, para garantir o recebimento de pedidos, surgiu o Favela Brasil Xpress, criado 2020 em Paraisópolis, São Paulo. Agora o serviço atende o Jardim Teresópolis, em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
Mais conhecida como Favela do Terê, é a primeira a receber o serviço da FBX em Minas Gerais. A conquista aconteceu através da Associação Amigos do Terê, criada em 2016 pelo líder comunitário e coordenador estadual da Favela Brasil Xpress, Kenedy Alessandro, 29 anos, que nasceu e sempre viveu na Comunidade do Terê.
A região tem vários becos sem CEP e as transportadoras não chegam lá. Com o novo serviço, todos os produtos adquiridos pela internet são descarregados no Campão do Terê, criado pelos próprios moradores. Ele funciona como Centro de Operações.
“A entrega veio pra destravar esse serviço, levar esse acesso, democratizar, para que os cidadãos das favelas tenham o direito de comprar e receber”, diz Kenedy sobre o Favela Brasil Xpress.
Tecnologia do boca a boca
O coordenador conta que a comunidade tem um perfil empreendedor e de pessoas que buscam emprego e renda. Com o Favela Brasil Xpress, foram gerados dez empregos para motoristas de carros e motos e três para operadores, todos da região.
“A gente não quer ficar dando cesta, cartão, botijão de gás. Queremos que as pessoas empreendam, trabalhem e produzam com capacitação e qualificação”, diz o líder comunitário.
O processo de entrega tem a participação da comunidade. Kenedy explica que a divulgação é feita boca a boca, por redes sociais, por voluntários e pelos presidentes de rua. São 50 famílias mapeadas por rua e um voluntário responsável por cada rua ou beco.
O gerente da base de operações, Fernando Fernandes, 26 anos, nasceu e foi criado na Favela do Terê. Ele conta que antes do serviço de logística presenciou vizinhos com dificuldade de receber as compras.
“Não é só sobre comprar, é sobre receber. Já vi amigo que mora no Beco do Café e teve que dar o endereço da avenida principal pra pegar o produto”, conta o gerente. É a primeira vez que Fernando trabalha no ramo de logística. “Experiência maravilhosa, fantástica e mostra a importância desse trabalho que a gente faz.”
Quase 20 mil entregas
A distância entre Betim e a capital, Belo Horizonte, é de pouco mais de 30 quilômetros. A cidade da Região Metropolitana tem 411 mil habitantes, a sexta maior do estado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a favela do Terê possui 7 mil “aglomerados subnormais”, nome técnico de favela.
É para essas casas que trabalha Diego Duguet, motorista, que tem prática como entregador em outras empresas e levou a experiência para servir o local onde mora. “É gratificante ver a pessoa feliz por receber um produto na casa dela, onde não chegava por preconceito dos entregadores, por ter um certo medo de estar entrando na comunidade”, diz o motorista do Favela Brasil Xpress.
Diego conhece os moradores da Favela do Terê. Quando não é possível entrar com o carro nos becos, para em uma rua próxima e termina a entrega a pé. No Jardim Teresópolis, o FBX começou em outubro de 2022 e entregou 12.700 pedidos no primeiro ano.
Em 2023, até antes do Natal, foram 6.000 entregas. Kenedy quer ir mais longe: pretende implantar o serviço em todas as comunidades de Betim, além de Contagem, a capital Belo Horizonte e toda Minas Gerais.