Conheça o Morro da Babilônia, onde o turismo gera renda
Localização privilegiada favorece a atividade. Empreendimentos de moradores empregam população local e giram a economia
No imaginário popular, o nome Babilônia é associado aos Jardins Suspensos da Babilônia, que supostamente ficavam onde hoje é o Iraque, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Na favela com o mesmo nome, no Rio de Janeiro, mostrar as belezas e realidades locais gera renda em empreendimentos de turismo, fortes no morro, entre outras iniciativas empreendedoras dos moradores.
A explicação principal para a força do turismo é a localização privilegiada. O Morro da Babilônia está entre os famosos bairros da Urca, Leme, Botafogo e Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Seus itinerários e trilhas levam a vistas maravilhosas como a do Pão de Açúcar, Cristo Redentor e praia de Copacabana.
Edson Vander, mais conhecido como Eddie, 42 anos, cria do Morro da Babilônia, é guia na favela. Atua há 24 anos como freelancer em diferentes agências. Para ele, o mais importante é falar para os turistas sobre os pontos positivos: ações de reflorestamento, energia solar, alimentação com comida orgânica.
“A minha proposta não é só levar o turista no Mirante. Não, cara; vamos andar pela favela, escutar um pouquinho sobre as pessoas, falar da história, das narrativas dos mais velhos”, explica Eddie.
Se não há livros escritos sobre o Morro da Babilônia, ele conserva suas narrativas nas memórias dos moradores. Trata-se de um turismo que valoriza a experiência e a escuta de quem tem o que dizer.
Contornando as barreiras
Além das inúmeras histórias para contar e ouvir, a paisagem natural é um trunfo do Morro da Babilônia, cenário de inúmeras locações audiovisuais, como a franquia Tropa de Elite. As produções atraem turistas, principalmente estrangeiros.
Isso gera emprego e renda para trabalhadores como Leonardo Dester, 35 anos, guia de turismo no Projeto Amastour Turismo de Favela. Todos que trabalham no empreendimento são moradores do Morro da Babilônia e recebem formação no Projeto. Um dos valores praticados é a preservação da natureza, um patrimônio local, como o Parque Natural Municipal Paisagem Carioca.
Para vencer as subidas e tortuosidades inevitáveis do morro, os guias promovem a acessibilidade em uma parceria com o Coletivo Inclusão, para levar pessoas com deficiências físicas aos pontos turísticos.
Leonardo Dester cita algumas barreiras de locomoção, como as obras do Morar Carioca. “Na minha opinião, o que as obras deixaram a desejar foram os corrimões nas escadas, que facilitariam a locomoção das pessoas de mais idade”.
Rodas de samba geram renda
Além do turismo, o Morro da Babilônia é palco para muita cultura. O Coletivo Independente Família Campinho, mais conhecido como Família CMP, é um grupo musical que promove eventos, especialmente rodas de samba, mas também campeonatos de pipas e festas beneficentes para crianças.
Tiago de Jesus Severo, construtor, trabalha como apoio de som nas rodas de samba do coletivo CMP. Segundo ele, “o objetivo é promover a melhoria do local e ajudar as famílias que têm barracas. Estamos no terceiro evento, está sendo produtivo, ajudando na renda de pessoas que vendem diferentes tipos de alimentos. Está girando a economia do bairro”.
Favela Orgânica: projeto local com mão de obra do morro
Além do turismo, há outros tipos de empreendimentos, como a Favela Orgânica, idealizada pela chefe de cozinha Regina Tchelly. Ela emprega diversos moradores do Morro da Babilônia. O projeto tem muitas frentes, como uma horta própria, restaurante e um livro aberto de receitas, que são escritas nos muros da favela. Elas colorem as ruas, incentivam a alimentação saudável e o não desperdício de alimentos.
O projeto é destaque em diversos prêmios. Entre outros, conquistou duas vezes o primeiro lugar na categoria de comunidades do Brasil no Prêmio Aliança Empreendedora, em 2013 e 2015. . A chefe de cozinha Regina Tchelly conta que “um dia quis tirar esse projeto dos meus sonhos e concretizá-lo. Juntei algumas mães da comunidade, fizemos uma vaquinha de cento e quarenta reais e realizei a minha primeira oficina. Não parei mais”.