Empreendedores celebram redes criadas na Expo Favela
Cerca de 300 expositores ocuparam o quinto andar do WTC, em São Paulo, para apresentar produtos e serviços a potenciais investidores
Enquanto conversava com a reportagem durante a Expo Favela, a empreendedora Janaina Cristina, de 26 anos, foi surpreendida por um homem bem discreto que gostaria de ter mais informações sobre a empresa dela. Durante três minutos, ele ouviu a apresentação, fez algumas perguntas e deixou o contato para que marcassem uma reunião na próxima semana.
O que aconteceu naquele momento foi um pitch – nome dado no universo das startups às apresentações breves que os empreendedores fazem a possíveis investidores, como era o caso daquele homem. Segundo Janaína, até aquele momento, pelo menos quatro reuniões foram marcadas para depois do evento.
“Falo o que é o projeto e qual é o tamanho do público que posso atender. Fora isso, conto minha história de vida, de pegar latinha para fazer meu intercâmbio. Minha abordagem explica o projeto e depois o case real. Percebi que funciona muito bem dessa forma”, detalha.
Janaina Cristina mora em Guaianases, no extremo leste de São Paulo, e é fundadora da Periferia Portuguesa, uma empresa de impacto social que presta serviços administrativos para quem deseja obter a cidadania em Portugal. O famoso “passaporte vermelho”, destinado a pessoas com descendência europeia, é um fator que facilita na obtenção de vistos e empregos no exterior.
Ela conta que, em mais de um ano de existência, a Periferia Portuguesa já atendeu mais de 140 brasileiros. A empresa também oferece mentoria para pessoas que estão se planejando para um intercâmbio no exterior.
“Com toda experiência que tive aqui, quero que eles consigam entender meu objetivo, minha história, e também mostrar que sou muito determinada em tudo. Tenho meu lado social, mas também tenho um lado investidor, porque ele quer um retorno”, conta Janaína.
Realizada pela Favela Holding em parceria com a Cufa (Central Única das Favelas), a Expo Favela ocorreu nos dias 15, 16 e 17 de abril no World Trade Center, no Brooklin, zona sul da capital. O prédio, ao lado da ponte Estaiada, é um dos mais importantes centros empresariais da cidade.
Além de Janaina, quase 300 empreendedores periféricos de todo o Brasil foram selecionados para ocupar o quinto andar do WTC no último fim de semana. Pouco mais da metade desse número veio do estado de São Paulo.
Apesar de o foco da feira de negócios ser essa troca entre “a favela e o asfalto”, a arena dos expositores também serviu como um grande espaço de networking entre os empreendedores das periferias.
Morador de Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, Josiberto Lourenço, de 44 anos, é fundador do site Salve Favela. O site se propõe a ser uma plataforma de marketplace (shopping virtual) exclusivamente para produtos e serviços de outros empreendedores periféricos.
“Todos que passaram para conhecer nosso produto, se identificaram. Nossa conversão foi de 90%: 9 em cada 10 descobriram que faz sentido ter a plataforma”, comemora Josiberto, que explica porque o Salve Favela chamou tanta atenção dos outros expositores.
“Você estará concorrendo com empresas do mesmo nível. Quando a gente coloca o nosso produto em outros marketplaces maiores, a gente não consegue atingir certa visibilidade porque tem as empresas grandes, então acaba sendo uma concorrência injusta”, diz. “Nossa plataforma consegue uma concorrência bem leal sobre isso.”
Assim como a Periferia Portuguesa, o Salve Favela também conseguiu uma reunião com investidores para os próximos dias.
“Nós já montamos nosso business plan, a gente já sabe nosso valuation. Temos estruturado o que queremos para os próximos cinco anos. Todo dinheiro que entrar de um investidor, vamos colocar no nosso plano de ação para desenvolver mais ainda a plataforma”, conta Josiberto.
Business plan (ou “plano de negócios” em português) é um documento que descreve o empreendimento e os objetivos dele. Já valuation é uma avaliação do valor das empresas e o quanto ela é capaz de dar de retorno ao empreendedor e possíveis investidores.
Outro perfil de “investidor” que circulou entre os expositores foi o de produtores da TV Globo, que selecionou alguns projetos para um reality show que será desenvolvido ainda este ano.
“Eles passaram hoje [sábado] aqui no box, me pediram para apresentar meu pitch e deram algumas dicas do que posso acrescentar”, conta Mariana Rosa, de 26 anos, proprietária do Espaço Boom Box, um salão de estética negra e periférica no Grajaú, na zona sul de São Paulo.
Para ela, um dos pontos negativos da Expo Favela foi a organização dos stands, que priorizavam as startups, mais próximas ao palco, e a impossibilidade de poder vender produtos ao público.
“Conheço vários empreendedores que se prepararam para estar aqui com seus produtos e se depararam com essa notícia. O produtor pequeno não tem um estoque grande, ele teve algum preparo para estar aqui e acaba sendo prejudicado”, conclui.