Empreendedores de favelas focam na logística para se dar bem
Moradores se reinventam e criam serviços próprios para entregas dentro de periferias, gerando renda e estimulando o consumo.
A falta de infraestrutura nas favelas não gera apenas problemas de locomoção, a logística é também um dos quesitos de maior defasagem neste sentido, já que muitas empresas não realizam entregas nas periferias e, por vezes, os maiores operadores logísticos do País também não, o que impossibilita em diversos momentos que os moradores realizem compras on-line, ou recebam suas correspondências em casa, por exemplo.
Adepta das compras on-line, Laryssa da Conceição, moradora do Morro do Salgueiro na Zona Norte do Rio, falou sobre as dificuldades para comprar nesta modalidade e receber na periferia. “Eu coloco o meu endereço para entrega e não vai, sempre dá como endereço não encontrado, área de risco, aí eles dão outras opções de endereços próximos”, conta.
Esse tipo de situação é recorrente há muitos anos nas favelas, o que levou a diversas iniciativas locais para auxiliar os moradores na recepção de suas encomendas e outras entregas. Correios Comunitários e demais ações como Carteiro Amigo e e-Boxes surgiram e, para além de facilitar a vida dos moradores, isso sempre gerou renda dentro das favelas, já que, em geral, os serviços são administrados com taxas mensais de aproximadamente 15 reais por morador que o utiliza.
Sobre o impacto dessas iniciativas empreendedoras nas favelas, Laryssa ressalta, “"Esses projetos beneficiam muita gente. Existem pessoas que não podem sair de casa porque têm problemas de locomoção ou são muito idosas”, comenta.
O cenário logístico para entregas nas favelas está passando por constantes e significativos avanços. Recentemente Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (CUFA) e Luciano Luft, acionista da Luft Logistics – Soluções logísticas especializadas, se uniram e deram início a Favela LLog, esta, por sua vez, é uma joint-venture que visa melhorar a logística de entregas de produtos para quem vive nas periferias.
A parceria teve início durante a pandemia, enquanto ambas as empresas estavam em mobilização conjunta realizando entregas de doações para famílias em situação de vulnerabilidade social. Agora, para além de facilitar o acesso ao serviço de entrega nas periferias, a Favela Llog também pretende atuar na ressocialização profissional de egressos do sistema prisional.
Kalyne Lima, Co-Presidente nacional da Central Única das Favelas, comenta sobre o recomeço que o projeto proporciona à muitas famílias. “Esse trabalho social vai além da oportunidade no mercado. Estamos proporcionando o recomeço da vida profissional de uma mãe e pai de família, isso é muito gratificante para nós que estamos acompanhando de perto a vontade de cada um deles nessa nova fase”, conclui.
Luciando Luft, definiu a parceria como sendo um investimento pessoal, mas deixou claro que acredita muito no potencial do negócio. Não é para menos, já que atualmente, só no Rio de Janeiro, a Favela Llog está presente em 112 favelas, 12 bairros e, continua em expansão pelo Brasil.