Empreendedorismo LGBTQIA+ ganha espaço no Complexo da Maré
“Apoio e incentivo outros profissionais a não desistirem e não se importarem com o que os outros pensam”, diz Tiago Dantas, cabeleireiro
Quando uma empresa se preocupa com o bem estar de pessoas LGBTQIA+, ela é considerada gay friendly, em uma tradução livre do inglês, significa "amigo dos gays". É o caso do Boteco Tô Chegando, localizado na Vila do João, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro.
As empreendedoras do comércio, Elissandra Batista, de 44 anos, e Edinalva Montenegro, de 45, contaram que o bar não foi criado com o intuito de ser um bar gay, mas ele se tornou porque foi acolhido pela comunidade. As sócias lembram que, durante a construção, um amigo disse que deveriam colocar uma bandeira LGBTQIA+ na porta. E Elissandra brinca que "a praga deu certo".
Mais do que clientes, os frequentadores são tratados como amigos. Edinalva conta que os mais assíduos dizem que ali se tornou sua segunda casa e que como as pessoas sempre voltam, pois acabam pegando intimidade e se tornando quase parentes. As sócias contam que os clientes levam amigos para o bar e eles dizem que gostam do ambiente pela forma carinhosa, respeitosa que são tratados e também pelo ambiente ser bem organizado.
Elas se orgulham e retribuem o carinho dado pelas pessoas, contam que colocaram placas das bandeiras LGBTQIA + para que todos, ao entrarem no estabelecimento, saibam que toda forma de amor é bem-vinda e deve ser respeitada. Nillo Benjamin, de 28 anos, administrador da página do Boteco Tô Chegando no Instagram, adiantou para reportagem a realização do primeiro encontro LGBTQIA+ no local. O evento será realizado no sábado, dia 19 deste mês, e estão estudando a possibilidade de ter shows de Drag Queen e DJ.
A vida do empreendedor LGBTQIA+ não é fácil
Tiago Dantas, de 34 anos, mais conhecido como Jujubinha, é natural de Alagoas e veio para o Rio de Janeiro em 2007 para ser bailarino. Exerceu a profissão por quatro anos, mas começou a trabalhar com beleza para ter uma renda fixa. Tiago hoje é maquiador, cabeleireiro, bailarino e drag queen, mas conta que era muito julgado no início da profissão e lutou contra o preconceito. Jujubinha conta que no começo não sabia lidar com as críticas e ficou um ano sem trabalhar com maquiagem.
’As pessoas confundem muito. Eu, Tiago, profissional de beleza, e Jujubinha é drag queen. Hoje o apelido já passa mais credibilidade e confiabilidade para os clientes. Com muito suor, muito esforço e muita dedicação consegui mudar a imagem que muitos tinham a meu respeito. Assim me tornando popular e o profissional que eu sempre quis ser”, afirma.
Segundo o maquiador, na Maré tem profissionais talentosos, com trajetória incrível, que por muitas vezes ficam armazenadas e escondidas por medo de ousar.
Arlane Gonçalves, consultora de diversidade e inovação inclusiva, concorda com Jujubinha ao dizer que historicamente a comunidade LGBTQIA+ luta por igualdade e respeito na sociedade. Segundo a consultora, esta luta também se reflete no empreendedorismo, tanto quanto na busca por lugares que as desejam, as recepcionem e as tratem com respeito, como na atuação como pessoas empreendedoras que buscam formar esses lugares receptivos à comunidade.
“Barreiras para que pessoas empreendedoras LGBTQIA+ não consigam fundar e consolidar seus negócios são mais do que estatisticamente comprovados. Elas vão desde as violências que estas pessoas sofrem simplesmente por existirem, até dificuldades mais específicas de acesso a crédito, contatos, espaços, oportunidades etc. O grande desafio para a sociedade, especialmente para as organizações, é reconhecer essas interseccionalidades e a demanda de estratégias específicas que elas trazem”, conclui Arlane.