Fundadora da Wakanda Educação conta trajetória empreendedora
Karine Oliveira, de Salvador, foi reconhecida como Forbes Under 30 e destaque em reality de negócios periféricos
Diretamente do Engenho Velho da Federação, periferia de Salvador, há 5 anos Karine Oliveira fundou uma escola de educação empreendedora voltada para negócios periféricos, a Wakanda Educação. Sua proposta inovadora e impactos acumulados resultaram no reconhecimento como Forbes Under 30 e foi destaque no programa de investidores Shark Tank.
Wakanda Educação Empreendedora é uma empresa que traduz conteúdos do empreendedorismo tradicional para a linguagem informal e regional através de cursos de formação.
Isso permite o acesso e fortalecimento de negócios periféricos - quase 1.000 microempreendimentos foram impactados desde 2018.
Em entrevista para o Visão do Corre, Karine Oliveira conta sobre sua trajetória empreendedora.
Como e quando você se descobriu empreendedora?
Karine Oliveira: Desde pequena tinha essas atividades de como conseguir tentar ganhar grana. Porque eu queria muito jogar videogame, não queria dar esse trabalho para os meus pais, então eu sempre descobri um jeito de conseguir ganhar um dinheirinho extra. Mas eu acho que essa palavra, “empreendedora”, veio somente em 2016, quando eu fiz o meu primeiro curso de empreendedorismo e entendi que ela existia.
Isso virou a chave?
Compreendi que ela estava na minha vida o tempo inteiro, em cada atividade. Quando eu vendia água para conseguir o dinheiro da xerox da faculdade, quando eu vendia a coxinha no Ensino Médio. Criar a Oxente foi minha primeira empresa, até chegar na Wakanda.
Como você acredita que crescer numa realidade periférica contribui para sua formação e desenvolvimento empreendedor?
Eu acredito que crescer dentro da comunidade é como realmente estar dentro de um laboratório vivo, né? Porque, diferente do que o pessoal fala sobre a criminalidade e a prostituição, a comunidade sempre tentou se virar muito antes disso. Eu compreendo que desde cedo existem mulheres empreendedoras com essas atividades dentro da minha família, sabe? Porque, afinal de contas, nunca teve emprego para todo mundo, emprego formal. E aí, nossa, a galera tinha que se virar vendendo coxinha, vendendo acarajé, minha mãe montava banca, depois virou vendedora de roupa, e por aí vai.
Sua família é empreendedora?
Meu pai sempre foi mestre de obras. A gente chama isso de autônomo, mas ele conseguiu ter uma empresa, formou outros jovens da minha comunidade e cresceu. Aqui dentro da periferia, por ter menos recursos, aguça nossa criatividade e resiliência. A gente sempre descobre um jeito diferente de conseguir as mesmas coisas. Nós criamos metodologias o tempo inteiro, só que a gente não tem muito tempo para ficar dando nome a elas, patenteando, a gente vai literalmente seguindo. Então, essa realidade me tornou uma pessoa resiliente, criativa, humilde, que entende várias realidades e compreende diversos olhares, porque eu vim exatamente desse lugar.
Sendo uma mulher negra e periférica, a partir da sua experiência, quais principais desafios e dicas você mencionaria?
Eu vou dar as dicas que eu sempre dou, mas são dicas de ouro, eu acho que a primeira coisa é: independente do lugar onde você esteja, seja apaixonada pelo que você faz. Porque, de qualquer forma, para você poder realizar e viver do seu sonho, vão ser caminhos tortuosos. E quanto mais você estiver apaixonada pelo que faz, vai procurar um jeito, independente do que acontecer, de fazer aquilo dar certo.
Qual a segunda dica?
A importante: é cuidar da sua saúde mental, fazer terapia. Tem vários problemas que a gente enfrenta, principalmente enquanto mulher, que são questões estruturais e que afligem a gente o tempo inteiro. É importante que a gente cuide, né? Se a nossa mente não vai bem, nada vai bem.
E a terceira?
A terceira dica que eu dou é de como superar um desafio. Implica em, literalmente, ter rede de relacionamento, o que separa o empreendedor bom de empreendedor de sucesso é literalmente com quem se relaciona e como ele consegue furar a bolha. Eu não chegaria no lugar onde eu estou se não soubesse me relacionar bem com as pessoas e saísse do Engenho Velho da Federação para conseguir me conectar com grandes empresas.