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Negros empreendem por necessidade e encontram mais desafios

Como a crise no mercado de trabalho transformou o empreendedorismo em uma necessidade para pessoas negras

1 fev 2022 - 08h00
(atualizado em 3/2/2022 às 18h46)
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Foto: Fabrício Oliveira

Empreender em um país que não oferece aporte por parte do governo é desafiador, mas esse desafio é ainda muito maior para a população negra, como explica Fabrício Oliveira, empreendedor e professor.

Fabrício nasceu no Engenho de Dentro, bairro pertencente ao subúrbio do Rio de Janeiro. Filho de feirante, ele teve ainda pequeno sua primeira referência de empreendedorismo com seu pai.

O que chama a atenção é que, diferentemente de algumas pessoas que empreendem por opção, seu pai empreendeu por necessidade, como boa parte dos empreendedores que moram nas periferias das grandes cidades.

Fruto de iniciativas públicas, Fabrício se formou em administração pelo ProUni. Foi durante esse período que ele começou a pensar em empreender. Após algumas tentativas que não deram certo, Fabrício criou a Fowler, marca dedicada à moda carioca, suburbana e periférica.

Foto: Fabrício Oliveira

O empreendedorismo negro é objeto de pesquisa para Fabrício, que apresentou um TEDx em 2019, foi Top Voice no Linkedin em 2020 e Linkedin Creator em 2021. Hoje, ele conduz sua carreira acadêmica associada à sua atuação como empreendedor.

Cursando doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Fabrício fala sobre o empreendedorismo negro como uma necessidade para pessoas que residem no suburbio e na baixada e que encontram dificuldades em igressar ou se manter no mercado de trabalho formal.

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), três em cada quatro brasileiros pobres são negros. Dessa forma, não podemos analisar o empreendedorismo praticado por pessoas pobres sem levar em consideração o racismo que ele carrega. Trazendo as dificuldades de se empreender para um recorte racial, Fabrício ressalta que as dificuldades que empreendedores negros enfrentam são muito maiores do que as dificuldades enfrentadas por empreendedores não negros.

Ele conta que uma de suas maiores barreiras enfrentadas por ser um empreendedor negro e morador de uma região periférica, foi a falta de acesso ao capital para investir em seu negócio. Outro grande obstáculo foi estabelecer networking no mercado por não conhecer pessoas influentes.

Trazendo essa mesma reflexão para um cenário mais amplo, percebemos que a romantização do empreendedorismo no Brasil acaba mascarando o real motivo que leva boa parte das pessoas a trabalharem por conta própria. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizada no Brasil pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), a taxa de empreendedorismo por necessidade saltou de 37,5% para 50,4%, o mesmo nível de 18 anos atrás.

Com a crise, 82% dos novos empreendedores alegaram que foram motivados pela carência de emprego.

Infelizmente, para pessoas negras e pobres, empreender no Brasil deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade que, sem o aporte adequado do governo, torna todo o processo ainda mais difícil.

ANF
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