Ovo de Páscoa de tablete é aposta de empreendedoras da periferia de SP
Solução para baratear o preço e manter a clientela usa menos chocolate. Tamanho dos ovos e lucros serão menores neste ano
Empreendedoras das periferias da capital paulista contam suas estratégias para vender na Páscoa em que o preço do chocolate acumula alta de 190% nos últimos dois anos. Criatividade e cautela serão ingredientes básicos para manter as vendas.
Com o chocolate cada vez mais caro, empreendedoras da periferia de São Paulo que fazem ovos e outros produtos de Páscoa vão investir em lembrancinhas, diminuir os lucros e usar a criatividade – neste quesito, o ovo de tablete é uma tendência.
“Está bombando: é uma placa em forma de ovo, e ao invés de ser recheado, tem brigadeiros em cima, por exemplo. É minha aposta, dá para baratear bastante, vai menos chocolate”, explica Elaine Souza, da Batuque na Cozinha, na zona leste de São Paulo.
Do outro lado da cidade, no Jardim São Luís, zona sul, Jéssica Marques de Oliveira, da Doçura Explosiva, diz que vai ofertar “só a placa, com brigadeiro e decoração em cima, acho que vai ser sensacional. É muito mais rápido, prático e econômico. Vai virar bastante”, acredita.
Também na zona sul, na região do Guarapiranga, Erika da Costa Souza, da Kyka Cakes, faz lembrancinhas de chocolate e, pela primeira vez, aposta no ovo de tablete. “Em cima da plaquinha de chocolate vou colocar confeitos, castanhas, amendoim, lasca de coco”, enumera.
Lembrancinhas para manter a clientela na Páscoa
Diminuir o tamanho de ovos é outra estratégia para manter a clientela e o preço em condições de concorrer com os supermercados. Rita Brunnquell, da RBS Chef Gourmet, no Limão, zona norte, aposta em ovos de Páscoa infantis de 250 gramas, recheados de lembrancinhas, sob encomenda.
“Com certeza, ninguém vai ficar sem ovos de Páscoa, mesmo com o aumento do chocolate. Só vai diminuir a quantidade, o tamanho, talvez seja mais simbólico mesmo, lembrancinhas”, diz Brunnquell.
Além do ovo de tablete, Elaine Souza vai fazer “ovos menorzinhos, de 50, 100 gramas”. Ela também produzirá caixinhas com dois brigadeiros, para o mercado corporativo distribuir a funcionários e clientes na Páscoa.
Jéssica de Oliveira vai oferecer como opção aos ovos algumas variações de formas feitas com brigadeiros, com temas da Páscoa, “tipo coelho, cenoura, é um doce que a galera procura bastante”.
Érika Souza faz a mesma aposta. “Meu foco será nas opções menores e lembrancinhas. Assim creio que terá mais saída, por conta do valor do chocolate”, diz a empreendedora da Kyka Cakes.
Lucro será menor na Páscoa deste ano
“Eu costumo multiplicar os gastos por três. Cobre os custos e dá um lucro bacana. Mas neste ano, se fizer assim, vou ter problemas. Com o preço do chocolate, o lucro vai ter que diminuir”, admite Jéssica de Oliveira, cuja clientela periférica está em bairros como Capão Redondo.
Segundo Rita Brunnquell, da RBS Chef Gourmet, na zona norte, “não vou dobrar o preço senão ficaria igual o valor da indústria, do mercado, e perco o cliente”. A diminuição da margem de lucro vai acontecer também em negócios de empreendedoras periféricas ainda mais nichadas.
Danielle Loureiro Thomé Araújo, da Brigadelle, que trabalha com confeitaria vegana na Vila São José, na região de Parelheiros e Grajaú, diz que não pode “elevar muito o preço final, o produtor tem que absorver uma parte do custo, senão perde clientela”.
Segundo a empreendedora, "o valor do chocolate vem aumentando faz tempo, a gente se assusta cada hora que vai no fornecedor".