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Projeto leva arquitetura para periferia de Belo Horizonte

Projeto capacita mulheres para serem protagonistas na reforma e construção do próprio lar

30 ago 2022 - 05h00
(atualizado em 31/8/2022 às 11h47)
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Mulheres da comunidade se preparando para entrar em ação.
Mulheres da comunidade se preparando para entrar em ação.
Foto: Arquivo Pessoal.

O projeto Arquitetura na Periferia foi idealizado pela arquiteta Carina Guedes durante uma pesquisa de mestrado na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Movida pela realidade de presenciar sua profissão sendo vista como restrita ao atendimento de demanda das classes sociais mais privilegiadas, a arquiteta decidiu levar a arquitetura para dentro das periferias.

Carina optou por trabalhar com mulheres, justamente por elas não participarem e serem excluídas das decisões sobre a construção das próprias casas e não terem acesso a esse tipo de serviço. Assim a arquiteta iniciou sua primeira experiência com um grupo de três mulheres moradoras da comunidade Dandara, em Belo Horizonte.

Carina Guedes, fundadora do Arquitetura na Periferia.
Carina Guedes, fundadora do Arquitetura na Periferia.
Foto: Arquivo Pessoal.

Em 2018 a ideia foi formalizada com a fundação da instituição sem fins lucrativos IAMÍ (Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação). Hoje, a equipe conta com cerca de 20 mulheres, incluindo as voluntárias. A modelo comercial Cheyenne Pereira, moradora da Ocupação Paulo Freire é uma das participantes. Até fazer parte do grupo, a modelo passou por uma trajetória marcante e solitária. “Vim morar na lona e na madeirite sozinha com meu filho, saindo de uma situação de violência doméstica”, relembra. Com o tempo ela conseguiu pagar um pedreiro para fazer a alvenaria, mas continuou na casa sem portas e janelas.

Mesmo se sentindo num palácio, morando em dois cômodos, segundo a modelo, havia a necessidade de ter uma casa mais segura. Foi nesse período que conheceu Carina e iniciou o curso teórico e prático de técnicas de projeto e planejamento de obras, proporcionado pela Arquitetura na Periferia. Lá, as alunas aprendem a reformar a própria casa com autonomia e sem desperdícios. A idealizadora do projeto explica que ao invés de oferecer um produto, ela busca capacitar as participantes, ampliando nelas a capacidade de análise, discussão, prospecção, planejamento e cooperação; o que leva ao aumento da autoestima e confiança dessas mulheres.

Cheyenne detalha as atividades do curso e de todo o processo, desde os cálculos de materiais, medir área e volume até as aulas de organização financeira e gerenciamento. “Pra mim foi muito rico e muito maravilhoso. Eu consegui assentar toda a cerâmica da minha cozinha e até trabalhei em outros lugares profissionalmente”, recorda.

Cheyenne com a camisa exclusiva Fazer Ser Morada.
Cheyenne com a camisa exclusiva Fazer Ser Morada.
Foto: Arquivo Pessoal.

O envolvimento e a dedicação no curso resultaram num convite para ela trabalhar na equipe, acompanhando o processo teórico com as arquitetas, e a prática nas casas das mulheres, junto com a mestra de obras. “Geralmente a mulher está na casa, mora na casa e não é ouvida pelos profissionais de obras. E o projeto ensina essas mulheres a tomarem as próprias decisões sobre como os trabalhos devem ser feitos”.  

A vida de Cheyenne se transformou após o projeto — você não faz ideia do quanto — Estamos no corre para fazer com que ele seja ampliado, completou. Essa transformação também faz parte da história da diretora executiva da IAMÍ, a Luhh Dandara. Ela fala sobre a proposta inicial do projeto, que era realizar pequenas melhorias nos barracos que estavam no início da ocupação. “Colocar uma torneira, uma lâmpada, coisas mais simples”, explica Luhh. Com o sucesso e a aceitação pela comunidade, as mulheres foram atrás de recursos a fim de concretizarem a longo prazo, o produto final, que é a conclusão de todas as etapas das construções das casas.

Luhh colocando em prática o aprendizado.
Luhh colocando em prática o aprendizado.
Foto: Arquivo Pessoal.

O projeto já impactou em torno de 750 pessoas, promoveu mais de 300 oficinas e encontros e reformou mais de 50 casas. São em torno de 100 mulheres capacitadas e mais de 1.200 horas aulas. Além dos benefícios profissionais, o projeto auxilia a mulher a sair do lugar de dependência, aumenta sua autoconfiança e contribui para o combate ao machismo estrutural. A equipe reforça que o trabalho só com mulheres tem resgatado e reforçado laços de cooperação e apoio comunitário entre as participantes.

Quem deseja conhecer e ajudar o projeto como pessoa física ou jurídica, basta acessar os links de apoio: https://doe.arquiteturanaperiferia.org.br/doeagora/single_step e https://doe.arquiteturanaperiferia.org.br/seloanp/people/new

 A modelo com a mão na massa pela realização do sonho da casa pronta.
A modelo com a mão na massa pela realização do sonho da casa pronta.
Foto: Arquivo Pessoal.
ANF
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