Candidatos periféricos falam por que querem chegar à Alesp
Propostas levam em consideração as experiências dos candidatos que enfrentam falta de reconhecimento e verba para suas campanhas
Investir em escolas técnicas mais próximas de casa, castrar animais em situação de rua e implementar creches noturnas são algumas das propostas pensadas por candidatos das periferias a deputados estaduais em São Paulo.
As eleições 2022 serão no próximo domingo (2) e a Agência Mural buscou ouvir alguns dos candidatos que estão nas quebradas e buscam pela primeira vez uma vaga na Assembleia Legislativa.
Uma delas foi professora Adriana Vasconcellos (MDB), 49, moradora da Parada Inglesa, na zona norte da capital paulista. Com foco em projetos para educação, ela propõe a implantação de espaços para o cuidado de crianças de zero a seis anos no período noturno.
"São os centros de acolhimentos infantis noturnos, que versa sobre essa mãe ter um lugar que vai cuidar da criança para ela estar segura e possa exercer a sua profissão", explica Adriana.
Para a proposta, ela diz pensar inicialmente na primeira infância, mas ressalta que vai dialogar com a população para entender a demanda e saber se é preciso estender o serviço para crianças de até 12 anos.
Morador do Grajaú, na zona sul de São Paulo, o candidato Carlos Fabrini, 59, do Patriota, se define como defensor da causa animal e quer expandir a atuação para todo o estado.
"Luto há mais de 20 anos (pela causa animal) e não é uma emergência exclusiva do Grajaú. Quero criar alternativas de castração em massa para cães e gatos em situação de rua, visando diminuir a superpopulação de animais abandonados, principalmente nas periferias", diz.
De Parelheiros, no extremo sul da cidade, a produtora cultural Keila Pereira (PC do B), 25, faz uma reflexão sobre as demandas da região. "Parelheiros não têm unidades de ensino técnico e superior, mesmo com um potencial enorme de desenvolvimento econômico em áreas como agricultura, turismo e meio ambiente", aponta. "É o tipo de coisa que não vai enxergar quem não enfrenta essas dificuldades de perto".
A candidata relaciona ainda os problemas à falta de representatividade no legislativo. "Sempre tive que estudar longe, meus amigos e familiares também, mas nunca houve qualquer prioridade para esse tipo de pauta", aponta. "Por isso, a proposta é defender e articular uma Escola Técnica nessas áreas em potencial, por exemplo".
O engajamento com a comunidade é parte também da trajetória política desses candidatos. O assistente social Julio Cezar de Andrade, 36, o Julio do Quilombo Periférico (PSOL), iniciou a carreira política cedo em movimentos sociais da região do Lajeado, zona leste da capital.
Na adolescência, esteve no Movimento da Infância e na Pastoral da Juventude do Meio Popular. "A partir desse espaço, sou forjado pela Casa de Axé, e desde então venho consolidando caminho na política, na defesa dos direitos humanos, sociais e políticos", relembra o babalorixá.
Entre as bandeiras que pretende defender na Alesp (Assembleia Legislativa), Julio quer implementar um programa de desenvolvimento e potencialização de habilidades para jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Também diz que buscará recursos para a garantia dos benefícios eventuais no âmbito da Assistência Social para as mulheres em situação de violência doméstica, jovens e população LGBTQIAP+.
Julio concorre à vaga na mandata coletiva Quilombo Periférico, com a professora Vânia Pereira e a ativista Célia Rosana, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Em 2020, foi eleito co-vereador de São Paulo com o coletivo, com mais de 22 mil votos.
Dificuldades
Apesar da atuação, os candidatos apontam uma série de obstáculos para quem tenta chegar pela primeira vez ao posto de deputado estadual. Oportunidade em um partido, busca por reconhecimento popular e verbas para a campanha são algumas das barreiras que se repetem.
"A primeira dificuldade se dá na ausência de investimento, do [repasse do] fundo eleitoral para as candidaturas negras, porém o contato em um território que milito e trabalho tem tido uma receptividade bacana", aponta Julio.
"Estamos em uma conjuntura de avanço do desemprego, do racismo e da violência por tanto o maior desafio é ver as expressões da questão social na dimensão da vida do nosso povo"
Julio, do Quilombo Periférico
Outro desafio é a concorrência na escolha dentro dos próprios partidos. "Quando se é um candidato desconhecido, os partidos não costumam te dar oportunidades porque entendem que você não vai agregá-los pela falta de votos, em vista que os votos são um dos principais fatores que determinam a sobrevivência da sigla", diz Carlos Fabrini (Patriota).
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, 2059 candidatos concorrem a uma das 94 vagas na Assembleia Legislativa paulista. Veja a lista completa das candidaturas aqui.
Para Keila Pereira (PC do B), esse reconhecimento nas periferias é também impactado por questões estruturais. "A dificuldade mesmo é disputar espaço com campanhas que contam com uma estrutura muito maior e por isso garantem votos suficientes para eleger mesmo que não tenham qualquer relação com o território", diz.
A professora Adriana Vasconcellos (MDB) ressalta que o cenário de pandemia ainda impacta e diferencia o modo de fazer campanha nas ruas entre os candidatos.
"Faltam recursos de toda a natureza. Estamos em tempo de pandemia, e as pessoas estão precisando trabalhar", aponta.
"Essa história de colocar como voluntário não é para candidatos periféricos, estão em outro patamar quem pode trabalhar de maneira voluntária. E as dificuldades são muitas"
Adriana Vasconcellos (MDB)