Carnaval do reggae tem desfile e shows grátis em Salvador
“É o veículo de comunicação do povo que precisa se expressar”, diz regueiro sobre a música de Bob Marley
Por incrível que pareça, ainda não havia acontecido em Salvador, a cidade mais negra do mundo fora da África, uma pipoca de reggae no Carnaval. Mas hoje, 10 de fevereiro, haverá, às 21 horas, saindo do Campo Grande. É a Pipoca Reggae.
Pipoca é um espaço gratuito, nas ruas, para acompanhar os artistas preferidos. É acompanhada por quem está fora das cordas, ou seja, o povão que não comprou abadás de trios elétricos, que dão direito ao cercado e seguranças.
Regueiros tocam de graça há vários carnavais em Salvador, como o Aspiral do Reggae, há 14 anos. Mas esta é primeira vez com estrutura e apoio oficiais.
No trio do Pipoca Reggae se apresentam o DJ Ras Peu, banda Ital Crew e Nollasco, além do veterano Kamaphew Tawa. “O reggae sempre esteve forte, foi um dos motivos que me fez vir de Minas Gerais para Salvador. Só falta maior entendimento do ritmo e visibilidade. É um veículo de comunicação de um povo que precisa se expressar”, diz o regueiro.
Existe uma cadeia produtiva de historiadores, bares, associações culturais e cerca de 170 bandas de reggae na capital e no interior. Em Salvador, são seis blocos carnavalescos.
Além da Pipoca Reggae, regueiros promovem, pelo terceiro ano, o Palco do Reggae, festival que reúne amantes do gênero na Praça Jubiabá, Pelourinho.
As apresentações vão até o dia 13 de fevereiro, em uma construção coletiva de artistas, produtores e agentes da cadeia produtiva do reggae em Salvador. Estão previstas mais de 20 atrações, diariamente, entre 18h e meia-noite. Veja a programação aqui.
Segundo Jussara Santana, idealizadora do desfile, “Pipoca do Reggae vai dar visibilidade a novos talentos e fortalecerá as ações sociopolíticas e culturais do movimento”.
Ela conversou com o Visão do Corre:
Qual a expectativa para estreia oficial da Pipoca Reggae?
Acho muito importante, principalmente porque nasce de uma militante da cultura, que durante os 365 dias do ano fermento a cultura reggae em Salvador. Um bloco sem corda serve para quem estiver com abadá ou não, para poder ir no balanço da música.
Como o reggae se insere no Carnaval de Salvador?
O reggae pulsa muito forte e vem dando régua e composição pra riqueza cultural existente aqui. O Carnaval é a maior festa do mundo e o reggae está cada dia mais forte, com diversas bandas e DJs. É uma ação afirmativa de empoderamento do povo preto.
O reggae tocado no trio elétrico é adaptado aos ritmos carnavalescos?
Não sofre adaptações, levamos pra avenida o que cultivamos o ano todo, a cultura reggae, a música de libertação e a positividade.
Como é a cena de reggae baiana?
Sempre esteve pulsando, mesmo que a televisão não mostre. Os artistas estão desenvolvendo os seus trabalhos, temos cerca de 176 bandas e diversos DJs de reggae. Ele está em toda a cidade, no artesanato, na moda. As mulheres são um fator de resistência, a todo momento pontuando sua importância e valor, como Jo Kallado e Nela Marques.
O filme de Bob Marley acabou de ser lançado em Salvador. O que poderia dizer sobre ele?
Nós mantemos o legado de Bob Marley, disseminamos sua maior ideia: amor e unificação do povo preto.