Conheça dez jovens que estão mudando as periferias de SP
Reportagem ouviu jovens que têm buscado novas perspectivas para as bordas da cidade e construído uma nova visão sobre seus bairros
“A favela é potência”. Você já deve ter ouvido isso por aí. Que a periferia é celeiro de gente engajada, de gente produzindo coisas grandes, que luta pela emancipação da própria periferia. Mas quem são os atores por trás dessas histórias?
A Agência Mural ouviu dez jovens das periferias de São Paulo que têm buscado novas perspectivas para as bordas da cidade e construído uma nova visão sobre seus bairros.
São jovens que atuam por meio das artes, dos games, do empreendedorismo, da moda, da política, e buscam novas formas de representação e reconhecimento da quebrada.
De norte a sul e leste a oeste da Grande São Paulo, com idades que variam entre 16 e 26 anos, eles representam uma geração que cresceu desde os anos 2000 e, ao longo da última década, tem cobrado que as periferias são muito mais do que locais de carência – como muitas vezes aparece no noticiário.
A questão da representatividade – seja ela racial, de gênero ou de orientação sexual – esteve em pauta diversas vezes durante o ano de 2020. Mas ainda assim fica a impressão de que a origem dessas pessoas ainda é a mesma: as regiões centrais das grandes cidades. Isso muda aqui.
Neste especial de aniversário de 10 anos da Agência Mural fizemos nossa própria lista. Selecionamos dez jovens, dez “crias” das periferias da região metropolitana de São Paulo, para contar suas histórias, seus “corres” e como é a periferia que eles estão ajudando a construir.
Nesta reportagem, eles também falam sobre o que esperam para o futuro de suas regiões nos próximos anos. Elaboramos ainda um livro com as histórias de cada um deles e ilustrações.
Este retrato simbólico das juventudes das periferias é uma forma de marcar a década de trabalho da Agência Mural e também o desejo dessa geração por mais igualdade, direitos e respeito para as periferias nos próximos anos.
GABRIELA CHAVES
Pretos e dinheiro não são palavras rivais
“Aposto muito que a juventude não está de ‘chapéu’ e a gente vai construir uma narrativa economicamente mais próspera. Não em um ponto de vista individual. A gente precisa de um projeto comunitário de desenvolvimento, de futuro, e isso envolve organização coletiva.”
Gabriela Chaves – Taboão da Serra
ALEXANDRE RIBEIRO
Escrevendo da Quebrada pro Mundo
“Primeiro, eu queria que a violência diminuísse. Segundo, que a gente pudesse transformar a comunidade através da educação. Que a gente fosse conhecido como uma cidade plural, cultural. Hoje você fala ‘eu sou de Diadema’, a pessoa ‘Vish’. Trocar um pouco desse estereótipo.”
Alexandre Ribeiro – Diadema
ISABELA ALVES
Se reconhecer pelas artes
“A gente precisa ter uma base, uma arte, ter uma literatura. Tem um parque aqui atrás, o parque do Rodoanel, e ele não está acabado. Não conseguem acabar um parque pro pessoal periférico ir curtir no domingo. Eu espero ver essas coisas acontecerem, os meninos entrando na faculdade.”
Isabela Alves – João XXIII
RAFAEL SHOUZ
Política e rap para a favela ir mais longe
“Um dos meus sonhos é conseguir arranjar algum patrocínio pra gente pintar a vila, não só as casas, mas as vielas daqui, fazer como um beco do Batman. Conseguir ver muito mais gente em curso técnico, fazendo poema, arte, rap. A vila que eu quero ver daqui alguns anos é uma vila bonita, com mais pessoas engajadas em arte.”
Rafael Shouz – Cidade Ademar
RAQUEL MOTTA
Colocando os pretos no jogo
“Eu espero que as oportunidades aqui dentro cresçam, porque a gente ainda vê a boa parte das pessoas que moram na periferia saindo da periferia para consumir nos grandes centros, sendo que aqui já tem alto poder de consumo.”
Raquel Motta – Vila Medeiros
LUCAS RODRIGUES
Design, rap e o escudo da seleção
“Quero muito que as pessoas que estão à frente de qualquer instituição entendam que a gente precisa de oportunidade. Acho que daqui 10 anos, trabalhando e confrontando isso, a gente consiga criar um ambiente onde as oportunidades são mais flexíveis a ponto da gente conseguir se desenvolver.”
Lucas Rodrigues – Brasilândia
JOANA MOREIRA
Nas passarelas pela negritude
“Gostaria de ver meu bairro com a arquitetura renovada. Sem lugares perigosos, com ruas asfaltadas, saneamento básico, direitos iguais a todos. Gostaria que tivessem mais projetos sociais.”
Joana Moreira – Itaim Paulista
MATHEUS CARDOSO
Reformando realidades
“O Jardim Pantanal do futuro que eu quero ver, é um polo que gire a economia e que traga prosperidade para todo mundo. É o futuro de todas as periferias, porque é onde as pessoas são inovadoras de verdade e criam laços de verdade. O que a gente precisa é enxergar isso e tratar essas potências como elas devem ser tratadas.”
Matheus Cardoso – Jardim Pantanal
LOUIS GUSTAVO
LGBTs na moda de quebrada
“[Quero ver] um Capão Redondo onde as pessoas dão mais valor pra gente e nos enxerga como sociedade também. Onde possamos andar normal, do jeito que a gente quiser na rua, e não acontecer nada. Esse é o caminho, o Capão que eu quero ver é esse.”
Louis Gustavo – Capão Redondo
MC SOFFIA
Minha Rapunzel tem dread
“Sempre tive que sair da minha quebrada para poder fazer alguma coisa [cultural]. Queria que tivessem diversas fábricas de cultura, onde cada andar era alguma profissão: tocar piano, tocar flauta, ser cantor, dançar. E em cada andar essas profissões iriam abrir o olho dessas pessoas da periferia e falar ‘Nossa, eu quero isso para minha vida’.”
MC Soffia – Cohab Raposo Tavares
* Reportagem: Cleberson Santos e Patrícia Vilas Boas | Projeto gráfico: Magno Borges | Ilustrações: Matheus Pigozzi | Edição de vídeo: Léu Britto | Edição: Paulo Talarico