Com a bola toda, futebol mobiliza indígenas em Copa na Bahia
A 2ª Copa Indígena de Futebol da Bahia reuniu times de todo o estado. Mulheres jogaram amistoso e querem mais espaço
A 2ª Copa Indígena de Futebol da Bahia – Kwá Tepé Turusú Yapisáwa, reuniu times do norte, sul, extremo-sul e oeste do estado. Foi disputada em três fases por 32 etnias e consagrou, no final de novembro de 2023, a Seleção Pataxó Aktxurá Eoató, que ergueu a taça no Estádio de Pituaçu, em Salvador.
A equipe da Terra Indígena Coroa Vermelha, dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, no extremo-sul da Bahia, venceu por 5 a 2 a Seleção Indígena Tuxá Coité/Ibotirama, representante das comunidades do oeste baiano.
“Nós estamos aqui não só representando o povo Pataxó, mas as 32 etnias que existem na Bahia, o segundo maior estado indígena”, disse o capitão do time campeão e chefe da aldeia Pataxó, cacique Tururim.
O terceiro lugar ficou com a Seleção Indígena Tamandaré Tupinambá, que representou a região sul baiana, ao vencer, na disputa por pênaltis, a Seleção Indígena Tuxá Banzaê, do norte.
Fiel torcida, indígena
Na partida final, em 26 de novembro de 2023, o público foi pequeno. Na torcida, técnicos dos times, familiares e amigos dos atletas, além de aliados da causa indígena, como o defensor público federal Gabriel Cesar, que atua em ações de conflitos em territórios indígenas na Bahia.
América Cesar, professora aposentada e integrante da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anai), ativa na torcida, vai ao ponto ao conceituar a prática esportiva. Para ela, deve “sublimar as tensões e criar espaço sadio para as necessidades humanas de competir e desenvolver habilidades”.
“Foi uma copa belíssima. Somos os povos originários do nosso estado, representamos a cultura”, agradeceu a superintendente de Políticas para os Povos Indígenas, Patrícia Pataxó.
Olhar feminino
Antes da final da Copa, aconteceu o amistoso feminino entre os Tuxá e os Tupinambá, com o placar de 2 x 1 para Tuxá de Coité, em Ibotirama. Os times masculino e feminino dos Tuxá participam pela primeira vez da Copa Indígena. Os homens se classificaram para a final contra os Pataxó.
A técnica do time Tuxá feminino, Dilma Janaína Silva, mãe da jogadora Monique Mickaelle Silva Rodrigues, defendeu a criação de uma copa feminina e reclamou da falta de reconhecimento para o futebol praticado pelas mulheres.
“É a primeira vez que participamos, viemos prestigiar o evento com as equipes masculina e feminina e não fizemos feio no primeiro ano, graças a Deus”, diz a técnica.
Monique Rodrigues, 23 anos, meia atacante do time Tuxá, avalia a experiência como positiva. “Foi única, nem nos meus melhores momentos poderia imaginar. Tenho sonho de fazer um teste, jogar como profissional, meu sonho desde pequena.”
Ela teve oportunidade no futsal, mas tinha pouca idade, não pode seguir. Mas não desanima. “Se eu tiver essa oportunidade, farei de tudo para conquistar e dar orgulho aos meus pais.”
Alguns marcos históricos
As práticas esportivas estão presentes na vida das comunidades indígenas no Brasil, dos esportes tradicionais, como a corrida de tora, até os populares, como o futebol. Alguns povos do Alto Xingu praticam o Katulaiwa, parecido com o futebol, mas só com o uso dos joelhos. Já os Pareci, do Mato Grosso, jogam o “futebol de cabeça”, o Xikunahity.
Na Bahia, os Kiriri, que moram em Banzaê, ao norte do estado, se destacam pela organização de escola de futebol, de campeonatos internos e com outros povos. Em 1974, lideranças Kiriri organizaram uma caravana com cerca de cem pessoas para visitar os Tuxá, no município de Rodelas. E jogaram futebol, entre outras trocas de experiências.
Desde 1996, o Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC), coordenado por Marcos e Carlos Terena, promove os Jogos Indígenas no Brasil, que conta com uma programação esportiva e cultural.