Estudantes de Embu das Artes lançam livro na Bienal do Rio de Janeiro
Alunos da rede pública participaram de um projeto na escola Estadual Professor João Luiz de Oliveira que reuniu 70 poemas
Um projeto de incentivo à leitura nas aulas de língua portuguesa ultrapassou os muros da escola Estadual Professor João Luiz de Oliveira, em Embu das Artes, Grande São Paulo, e levou uma obra escrita por 70 alunos da instituição para a última Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no início do mês de setembro.
O livro “Chover Poesias”, com textos dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental e 1ª série do ensino médio, foi lançado no evento com a presença de 21 dos jovens autores.
A ideia inicial partiu do professor Alexandre Rodrigues da Silva, que estimulou os alunos a explorarem a obra de alguns escritores, como Sérgio Vaz, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana.
“Os alunos foram provocados a pesquisar diferentes autores, sejam eles poetas ou não, que tenham se destacado por escrever sobre suas raízes e origens. A ideia era promover um debate sobre as questões socioculturais do Brasil, mas também da nossa localidade.”
E assim surgiu o projeto Choveu Poesias, no ano passado. “Definimos que o mote seria a identidade como o aluno vê onde mora e as questões sociais. A partir disso nós fomos para o processo de escrita”, conta Alexandre.
No fim de 2022, os estudantes organizaram uma exposição com os 70 poemas selecionados, que foram impressos e colocados em guarda-chuvas. E, por meio de uma parceria que a unidade de ensino tinha desde 2018 com a antiga editora Futura, atual editora Conejo, foi possível publicar o livro com as produções dos alunos.
“A gente começou a trabalhar internamente a possibilidade de ir para o Rio de Janeiro e escolhemos o tema do livro 'Chover Poesias'”, diz o professor.
Para a estudante Ruth Oliveira da Silva, 16, moradora da Chácara Maria Alice, a ida ao evento provou a capacidade de novas conquistas aos colegas de sala. “Nós que somos de uma escola pública temos condições de ir além, de chegar em qualquer lugar. Tivemos apoio do professor e da família, e isso ajudou muito”, diz a jovem.
Ruth é negra e autora de um poema em que procurou abordar o sofrimento do povo negro no passado e nos dias de hoje. Ela enfatiza a importância de não esquecer as lutas históricas dessa população.
“A sociedade, as pessoas, querem trazer assuntos mostrando que a escravidão passou há muito tempo e deixou a história do povo negro lá atrás. E, por isso, quis trazer algo dizendo que o povo negro batalhou tanto até aqui para se libertar da escravidão, mas que ainda temos os escravizados da modernidade”, explica a estudante do primeiro ano no ensino médio.
Já a aluna Geovana Silva Amaral, 15, moradora do bairro Pirajussara, em Embu das Artes, foi responsável pela arte da capa do livro. Na imagem, uma garota em um barco se protege com um guarda-chuva de gotas coloridas. “Fiz algo que representasse as palavras, um lugar escuro onde as gotas simbolizam a estrutura”, diz.
A adolescente também escreveu um poema sobre a sua vivência e a diferença entre as classes sociais. Ela diz ter contado com o apoio da avó, que a acompanhou na exposição do livro na Bienal. “Gosto de ler desde pequena e lançar um livro foi uma conquista. Tive a oportunidade de mostrar meu trabalho junto com os colegas para outras pessoas”, afirma a aluna.
Para o estudante Maycon Lima Sousa, 15, contar sobre a própria vida possibilitou reflexões, além do incentivo à leitura e à pesquisa por livros de poesias. “Tenho me identificado com os poemas e tento criar. O professor Alexandre faz a gente enxergar o futuro e aprender coisas novas.”
Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, os jovens autores realizaram ainda uma sessão de autógrafos da obra. O professor Alexandre considera o lançamento do livro um marco. "Foi uma experiência muito bacana, vai ficar marcada para todo mundo. Estamos pensando na próxima Bienal do ano que vem.”
A professora Valquíria Vieira de Souza e Silva, diretora da escola, também acompanhou os estudantes e considera o trabalho um sucesso.
“Esse lançamento é resultado de um projeto que busca o desenvolvimento do hábito de leitura, escrita e construção da autonomia dos estudantes. Isso é reflexo de uma série de atividades planejadas e articuladas com o currículo, envolvendo alunos, professores e pais que participam ativamente do cotidiano escolar”, diz.