Estudantes de Pernambuco farão intercâmbio em Portugal
Alunas e alunos de escolas públicas participam de projeto educativo que rediscute a Independência do Brasil
Voltado para o ensino de História do oitavo ano da rede pública de Pernambuco, o projeto Era Uma Vez… Brasil levará, em novembro, estudantes e professores da capital e do interior para um intercâmbio cultural de dez dias em Portugal.
Com o tema “Mais do que o Ipiranga: as independências de outros Brasis”, a iniciativa desenvolve atividades de arte-educação durante todo o ano letivo nas escolas municipais. O objetivo é evidenciar e recontar temas excluídos ou distorcidos por livros didáticos tradicionais, exaltando a importância dos povos originários na construção do país.
“Acabamos de completar 200 anos de Independência e, motivados também por isso, queremos sair da imagem engessada que todos têm desse momento, de Dom Pedro I, homem heroico, que em cima de um cavalo branco levanta uma espada e proclama a independência”, explica Marici Vila, diretora executiva do projeto.
Segundo ela, “buscaremos lançar luzes às pessoas e narrativas negligenciadas pela historiografia cristalizada, destacando a história de mulheres e homens, negros e indígenas, que lutaram pela emancipação do Brasil nas mais variadas regiões, e que não tiveram o devido reconhecimento”.
Acampamento educativo de férias
Cem adolescentes de escolas da rede municipal do Recife e a mesma quantidade de Belo Jardim, município do agreste pernambucano, tiveram em julho um programa de férias diferente. Eles participaram do Campus de Arte-Educação, uma das etapas do projeto “Era Uma Vez… Brasil”.
Durante sete dias de acampamento, os alunos participaram de oficinas de audiovisual nas áreas de interpretação, roteiro, som e fotografia, além de vivências afro-brasileiras e indígenas em encontros com representantes de quilombos, terreiros e aldeias de Pernambuco.
Para Vinícius Jadson Silva Souza, 15 anos, estudante do 8º ano da Escola Municipal Marechal Rondon, “a jornada tem ampliado minha compreensão da diversidade do Brasil e enriquecido meu respeito pelas tradições. Sinto-me honrado por fazer parte desse projeto e aguardo com expectativa o impacto positivo que ele pode trazer para a valorização das nossas raízes culturais”.
Oportunidade de revisionismo histórico
“O que o projeto trouxe foi o debate e questionamento para as salas de aula, levando nossos estudantes a pensarem que, se somos um país tão diverso, por que nos nossos livros só temos heróis homens, brancos e em sua maioria ricos? Onde estão as pessoas negras, as mulheres, os indígenas nos nossos livros didáticos, nas nossas histórias?”, pergunta Laura da Hora, professora da Escola Municipal Marechal Rondon.
Ainda segundo a professora, alunas e alunos “compreendem que as ausências também contam histórias. E ao aprender, também ensinam, levam esse debate para casa, para além dos muros da escola. Nossos alunos são multiplicadores de conhecimento”, explica.
Para a professora, o projeto Era Uma Vez… Brasil está sendo uma ótima oportunidade para reconhecer as raízes brasileiras. “O projeto ajuda a compreender que a Independência do Brasil só pode ser entendida como um processo, e não como algo factual, faz parte de um movimento que começa a ganhar o mundo, que é a ideia do revisionismo histórico”, ressalta.
Quadrinhos, filmes e intercâmbio
Na primeira etapa do projeto, finalizada em maio e chamada de Fatos Históricos, foram mobilizados professores de História do 8º ano de 14 escolas municipais de Pernambuco. Docentes participaram de encontros de formação, incluindo vivências culturais de temática indígena e afro-brasileira. A partir disso, propuseram atividades em sala de aula. Foi a segunda etapa.
Como resultado, os estudantes produziram mais de 300 histórias em quadrinhos e vídeos de até um minuto com a temática do projeto. Criadoras e criadores das cem melhores HQs avançaram à próxima fase – ao final do projeto, serão selecionadas outras cem histórias em quadrinhos, de todo o Brasil, que integrarão o livro Era uma vez... Brasil, a ser distribuído em escolas e bibliotecas no Brasil e em Portugal.
Ainda nessa etapa, foram produzidos curtas-metragens sobre o conteúdo aprendido. Esses filmes e o desempenho de cada adolescente são decisivos para a seleção dos nomes que seguirão em novembro para Portugal.