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Estudantes pobres não precisam de bolsas em colégios ricos

É preciso desmistificar o vestibular, a pretensa qualidade de certas escolas e a universidade pública como único caminho

28 ago 2024 - 10h10
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Resumo
Depois do suicídio do estudante Pedro Henrique Oliveira dos Santos, aluno bolsista de 14 anos do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, alegando bullying, a escola pode rever o acordo com a ONG que seleciona bolsistas, o Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos, Ismart. Mas estudantes pobres precisam mesmo de bolsa em escolas de ricos?
Imagem do projeto de reforma e ampliação recente do Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, em São Paulo.
Imagem do projeto de reforma e ampliação recente do Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, em São Paulo.
Foto: Divulgação Afralo/Gasperini

Até que ponto pais e filhos devem se sacrificar para conseguir bolsa de estudo em colégios de suposta excelência? Como professor, pai e ex-aluno bolsista de escola de rico, tenho motivos para jamais encaminhar nenhuma das minhas duas filhas a qualquer um desses lugares.

Se não existem barreiras de convivência intransponíveis na relação entre ricos e pobres num colégio de boy, existem enormes possibilidades de danos psicológicos gravíssimos, talvez irreversíveis. Nada justificaria fazer minhas filhas correrem esse risco.

Respeito imensamente pais e mães que batalham por bolsas de estudos para seus filhos, sangro pela dor da mãe de Pedro Henrique, mas não faço. Temos que desmistificar o vestibular e essas escolas “de excelência”.

Pais, acreditem e confiem: é preciso menos do que vocês imaginam para passar na maioria dos vestibulares brasileiros. Na média, o nível da concorrência é baixo, uma boa redação e mais algumas notinhas em outras disciplinas garantem o ingresso em vários cursos superiores.

Alimentar a ideia exagerada do vestibular inacessível, da dificuldade extrema, afasta candidatos capazes e justifica a existência da indústria de cursinhos, apostilas, escolas particulares com mensalidades astronômicas.

E colégios ricos não são necessariamente “fortes”, “puxados”, só adestram bem. A metodologia é mais quantitativa do que qualitativa. Porém, em boa parte dos vestibulares, é desnecessária a carga de “conhecimento” que enfiam goela abaixo.

Precisamos também desmistificar as universidades públicas, centros de excelência, mas não são o único caminho para pobres periféricos fazerem faculdade. Jamais foram. Se seus filhos não entrarem na USP, qual o problema?

Se sua filha ou filho se dedica, se interessa e se esforça mesmo em escola pública, tira boas notas desde sempre, não precisa passar por humilhações em colégios ricos para serem aprovados na maioria dos cursos superiores, inclusive de universidades públicas.

Alguns entrarão até em graduações concorridas fazendo, no máximo, um cursinho pré-vestibular. Duvida?

Nesta semana o Visão do Corre publicou três perfis de moradores da favela São Remo que estudam na USP – a comunidade é vizinha da Universidade. Nenhum precisou de bolsa em escola de rico.

Vieram de escolas públicas. Um deles fez cursinho pré-vestibular comunitário na favela São Remo e passou em Educação Física. Outro está concluindo Arquitetura e Urbanismo, além de uma aluna de Engenharia.

Claro, não foi fácil, mas também não foi impossível. Estudaram em casa, revisaram apostilas, resolveram exercícios, viram aulas na internet. E passaram.

Mas como fazer diante de cursos superiores concorridíssimos, como Medicina? Só com bolsa em colégio de rico?

Se for, é legítima toda luta dos pais e filhos para obter a bolsa e suportar a convivência, mas com os riscos cada mais conhecidos, que um caso extremo como o de Pedro Henrique escancara.

Vale a pena? Lógico que não.

Fonte: Visão do Corre
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