Explicadoras reduzem abismo educacional com aulas de reforço
Mulheres abrem as portas de suas casas para sanarem dúvidas de alunos nas favelas do Rio de Janeiro
A favela é muitas vezes vista como um espaço desafiador para o empresário pela percepção da falta de recursos em comparação ao núcleo. Isso pode ser especialmente preocupante, pois o processo empreendedor muitas vezes depende muito dos recursos locais, sejam eles na forma de recursos tangíveis (financiamento) ou intangíveis (redes sociais).
Por isso, é importante entender onde está um empreendedor para julgar que tipo de empreendedorismo é possível. Quando falamos em empreendedorismo do ponto de vista da favela, é importante levar em consideração fatores como a violência, os recursos disponíveis e a economia local.
Em locais onde há pouco investimento do governo, a carência também é refletida na aprendizagem das crianças e jovens que dependem do ensino público. É neste cenário que mulheres encontram uma solução para produzir renda e contribuir com a educação através de reforços escolares.
As explicadoras, como são conhecidas popularmente nas favelas do Rio de Janeiro, são personagens tradicionais e fazem parte da memória de muitos cariocas. São mulheres que dão aulas em suas casas e ajudam alunos a sanarem dúvidas sobre os conteúdos oferecidos nas escolas.
Além de diminuir a lacuna deixada pelo ensino público deficitário, as explicadoras também têm papel ativo na economia da região onde vivem porque geram renda e ajudam a movimentar a economia local.
Lúcia de Fátima, de 52 anos, é explicadora há 23 anos na Vila Cruzeiro, favela do subúrbio carioca. Ela conta que já ajudou alunos a ingressarem em faculdades públicas.
“Cada aluno que passa por mim considero como uma trajetória especial. Alguns eu ajudei a colocar dentro de universidades, outros chegaram aqui sem saber ler nem escrever direito e eu os alfabetizei.”
Ela, que oferece reforço de aulas de português, relata que o trabalho feito pelas escolas da região é bom, mas poderia ser ainda melhor se recebessem mais recursos do governo. A explicadora acredita que se os professores fossem melhores remunerados, poderiam se dedicar muito mais aos alunos sem precisar compor renda trabalhando em diversas outras escolas.
Lúcia conta que sente muito orgulho da sua profissão e que a renda gerada com seu trabalho fez total diferença para conseguir criar seus dois filhos.
“Eu saí de uma posição de dependente financeira com meu ex-marido e passei a ser a principal renda da casa quando ele ficou desempregado. Se não fosse meu trabalho, teríamos passado fome nesse período.”
Ela, que estudou no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, conta que a relação construída com seus alunos não é somente a de reforçar conteúdos escolares. Ela conta que as explicadoras são figuras importantes no processo de formação de muitas crianças que moram em áreas carentes da cidade. “Abrimos nossa casa para que essas crianças passem horas do seu dia conosco estudando enquanto seus pais trabalham”, afirma a professora.