Lima Barreto nasceu em 13 de maio, antes da Abolição
Escritor carioca veio ao mundo sete anos antes da questionada data histórica e tem obra pioneira na crítica ao racismo
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 1881. Artista da palavra com enorme consciência crítica, tem a obra marcada pelo combate ao racismo, inclusive em cartas. Ele é um anunciador da abolição de preconceitos, que vão da cor da pele ao extrato social das pessoas. Trata-se de uma das produções literárias mais importantes do país, não só pela combatividade.
Certas coincidências fazem pensar que há, realmente, mais mistérios entre o céu e a terra do que podemos imaginar. Uma delas é o nascimento de Afonso Henriques de Lima Barreto em 13 de maio de 1881, exatamente sete anos antes Abolição. Ele foi o artista da palavra mais consciente, combativo e pioneiro em relação ao racismo em sua época.
Entre os dramas que viveu e retratou, o racismo é um dos principais. No final do século 19, o chamado “darwinismo social” pregava a diferença entre raças. Segundo Lilian Moritz Schwarcz, autora da mais recente biografia sobre Lima Barreto, o escritor foi um dos poucos a combater a onda pseudocientífica.
“Os modelos eram totalmente equivocados e falaciosos, hoje é fácil notar. Naquele período, porém, tais conceitos alcançavam grande sucesso, e Lima Barreto foi um dos poucos a manter-se cético diante de sua validade, e pronto a desautorizar um tipo de concepção que, no limite, implicava a justificação científica do racismo”, escreve na introdução de Triste Visionário.
A crítica do racismo e, de forma mais ampla, ao preconceito contra os pobres, marca toda sua obra. No romance de estreia, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, o protagonista é um negro e, logo nas primeiras páginas, é tirado por ser preto.
Antes de escrever o livro, em carta a um amigo, o escritor afirmou que o personagem principal seria “batido, esmagado, prensado pelo preconceito”. A obra foi publicada em 1909. Em 1920, outro romance combate o racismo, Clara dos Anjos, do mesmo ano do conto O Moleque.
Ao descrever o espaço da história, afirma que “em suas redondezas, é o lugar das macumbas, das práticas de feitiçaria com que a teologia da polícia implica, pois não pode admitir nas nossas almas depósitos de crenças ancestrais”, e conclui: “a Igreja católica unicamente não satisfaz o nosso povo humilde”.
A obra de Lima Barreto é fundamental para pensarmos o antes, o durante e o depois da Abolição – o período posterior chega até hoje, 143 anos depois.