O que é preciso mudar na educação na visão de jovens eleitores
Adolescentes das periferias de SP falam sobre as expectativas em relação as propostas dos candidatos e o que eles precisam dar atenção
O estudante Jonathan Batista, 17, está de olho nas propostas de educação dos candidatos nas eleições 2022. Mesmo sem obrigação (o voto é obrigatório a partir dos 18 anos), ele decidiu que votará pela primeira vez este ano. No entanto, ele não gostou muito do que viu até aqui.
"Ao ver que alguns candidatos têm como proposta tentar recuperar alunos que tiveram o ensino prejudicado por conta da pandemia, mas não preveem investimento para essas melhorias, fica difícil acreditar que eles estão pensando no futuro", reflete Jonathan, que é morador de Pirituba, na zona norte de São Paulo,.
Dos mais de 150 milhões de brasileiros, cerca de 2 milhões são jovens eleitores com idades entre 16 e 17 anos. Na capital, são quase 100 mil nessa faixa etária.
A pouco menos de um mês para o primeiro turno, a Agência Mural ouviu estudantes das periferias de São Paulo que votam pela primeira vez sobre o que esperam dos próximos dirigentes do país e sobre o que falta nas promessas que têm entrado em debate até aqui.
ELEIÇÕES 2022: Este ano, a eleição é para a escolha de deputado federal, deputado estadual, senador, governador e presidente da república. O primeiro turno será em 2 de outubro.
Sair da escola sem preparo
Jonathan estuda na Etec (Escola Técnica) Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara, em Pirituba, na zona norte da capital, onde também mora. Faz o terceiro ano do ensino médio, integrado ao técnico de administração, e diz que é preciso pensar em mudar o conceito das aulas que são oferecidas hoje no ensino público.
"Somos preparados pela escola para prestarmos uma prova [o vestibular] e não para a vida", opina. "Muitos jovens até saem da escola conseguindo calcular a fórmula de Bhaskara, por exemplo. Que é uma função importante. Mas não sabem lidar com o próprio dinheiro", acrescenta Jonathan.
Outra proposta que Jonathan gostaria de ver seria "maior investimento em escolas públicas de bairros periféricos". "Visto que uma escola presente no Alphaville , por exemplo, mesmo sendo pública, tem alto padrão. Não vejo esse mesmo investimento e padrão em escolas públicas de zonas periféricas. Isso poderia mudar."
Foco nos professores
Também em Pirituba, a estudante Vanessa Santos Barbosa, 17, sente que a educação tem ficado em segundo plano. "Eles falam mais sobre a crise econômica. Fazem promessas de que vão diminuir os preços das coisas", comenta.
Ela ainda não viu todos os planos de governo dos candidatos à presidência, mas aponta que a contratação de professores deveria ser a prioridade. "Principalmente na rede pública. Faltam muitos professores", afirma a estudante. "Mas não basta só prometer. É preciso fazer".
"Os candidatos poderiam pensar também em colocar atividades extracurriculares nas escolas. Muitos estudantes se interessam por isso"
Vanessa Santos Barbosa, 17
Morador de Perus, na zona noroeste de São Paulo, Rafael de Souza Silva, 18, tem pensamentos semelhantes. Espera que tanto o governador quanto o presidente proponham mais projetos de capacitação gratuita no contraturno escolar, com parceria com entidades e sites educacionais.
Estudante do terceiro ano do ensino médio, na escola estadual Brigadeiro Gavião Peixoto, ele gostaria de ver propostas sobre a formação dos educadores.
"Têm professores de inglês que não sabem o idioma corretamente. Têm professores de eletivas que assumem não ter a capacidade de dar a aula escolhida, por ter que pegar aula para preencher grade ou porque sobrou para a escola", diz Rafael.
O jovem também defende aulas sobre "habilidades essenciais para o mercado de trabalho". Ele não está sozinho. Uma pesquisa recente da ONG Todos pela Educação, encomendada ao Datafolha e que ouviu estudantes do ensino médio para saber o que eles querem da escola, indica que "98% dos estudantes concordam (totalmente ou em parte) que deveria haver opções de formações voltadas para o mercado de trabalho."
Infraestrutura
Morador do Jaraguá, na zona norte de São Paulo, Cauã Schatzmand de Souza, 17, está atento se os candidatos mencionam em suas propostas outros pontos relacionados à educação.
"Primeiro a infraestrutura das salas de aula e das escolas. Até para evitar a superlotação das salas", pontua Cauã que cursa o terceiro ano do ensino médio no Colégio Amorim, que integra uma rede particular.
"Também tenho em mente que os candidatos devem incentivar a população a ir atrás de conhecimento e fornecer também conhecimento. Tanto para o aluno, quanto para o professor", diz.
Apesar de estar atento ao que os candidatos estão propondo para a educação, Cauã enfatiza que também está observando outros pontos. "Como segurança e economia. Quero entender como eles planejam lidar com tudo daqui para frente", conclui.
O QUE CADA FUNÇÃO DESEMPENHA NA EDUCAÇÃO
PRESIDENTE: o presidente não age diretamente nas redes de ensino que acabam tendo mais relação com governadores e prefeitos.
No entanto, por meio do MEC (Ministério da Educação), pode articular propostas, criar programas e políticas públicas que beneficiem a educação - caso do Prouni e do Enem (Exame Nacoinal do Ensino Médio). Também está com o MEC a administração de recursos para universidades e institutos federais.
GOVERNADOR: Ele administra os recursos básicos que sustentam as políticas educacionais no estado. A legislação prevê que o governo estadual deve destinar 25% do dinheiro dos impostos na educação.
Em São Paulo, cuida das escolas públicas estaduais, em especial as de ensino fundamental e médio, além das escolas técnicas. Também pode propor projetos de lei e, inclusive, investir na criação de instituições de educação superior, além de mandar recursos para as universidades estaduais.
Agência Mural