Artista da periferia de Salvador cria novo instrumento e transforma vidas com a música
Além de música, iniciativa do multi-instrumentista Marivaldo dos Santos oferece cursos gratuitos de canto, fotografia, inglês, entre outros
Na periferia de Salvador, um projeto social tem se destacado na missão de transformar vidas e promover empoderamento através da música: o Quabales, no Nordeste de Amaralina, bairro periférico. A iniciativa é idealizada pelo multi-instrumentista, compositor, produtor e performer Marivaldo dos Santos, e nasceu do desejo de contribuir com a comunidade onde mora e se criou.
Marivaldo teve a oportunidade de viajar pelo mundo como integrante do grupo percussivo Stomp, de grande destaque internacional. Em visitas ao Brasil, o artista baiano percebeu a importância de levar arte e cultura para pessoas que não tinham acesso.
Foi, especificamente, em uma visita ao projeto Meninos do Morumbi, em São Paulo, que Marivaldo sentiu que poderia criar algo semelhante em sua cidade natal, Salvador. Ao observar os jovens do Nordeste de Amaralina ociosos e sem oportunidades, partiu para a criação de um espaço para desenvolverem seus potenciais.
Ele começou criando um instrumento que dá nome ao projeto, Quabales, que tem quatro bocas (por isso o “qua”), e um formato parecido com timbales.
Além da música, objetivo principal é educar
O projeto Quabales não oferece somente aulas de música. Tem programas educacionais e de capacitação. Através de parcerias com empresas e profissionais, os participantes têm acesso a cursos de fotografia, cinema, robótica, capoeira, canto, entre outros.
“Por meio da música, os alunos têm a chance de aprender, crescer e adquirir habilidades que vão além do aspecto musical. Muitos jovens encontram uma nova perspectiva de vida, se tornam cidadãos conscientes e engajados em suas comunidades”, conta Marivaldo.
A instituição tem testemunhado histórias inspiradoras, como a da artista Laisa Moreira, 24 anos, moradora da comunidade do Rio Vermelho. Ela vai todos os dias para o Nordeste de Amaralina, de bicicleta, até chegar ao Quabales.
“O projeto desperta e desenvolve perspectivas, descobertas de talentos artísticos, culturais, influencia jovens da comunidade e potencializa a oportunidade de iniciar a vida profissional com aulas de canto, fotografia, percussão e inglês, sempre nos atualizando”, enumera.
Música muda vidas e constrói o futuro
Vitor Portella, morador do Nordeste de Amaralina, foi descoberto pelo Quabales. O jovem de 22 anos, que desde a infância teve vontade de viver de percussão, tinha passado por outros projetos sociais. Mas, após ingressar na iniciativa criada por Marivaldo dos Santos, em 2012, começou a se entender como músico.
“Consegui conquistar muitas coisas, chegando a lugares que eu nunca imaginei, inclusive conhecer outros estados e outro país. Comecei a ter um pensamento muito profissional em relação à música. Isso influenciou diretamente a perspectiva de futuro para mim e para minha família”, conta Vitor Portella, que hoje é músico e trabalha no Museu Cidade da Música da Bahia como mediador e professor de percussão.
O projeto Quabales também mudou a vida de Reginaldo Rodrigues dos Santos, de 26 anos, morador da comunidade. “Tem vários lugares que podemos alcançar através da música. Mudou até mesmo a forma como as pessoas me olham, a gente percebe isso. Hoje posso estar passando o meu conhecimento, dos lugares que já fui e das pessoas que conheci, para alguns amigos do bairro”, relata.
Rede de apoio sustenta o projeto
Não é fácil implementar e manter um projeto como o Quabales. A iniciativa conta com a ajuda de amigos e colaboradores. Essa rede de suporte é essencial para garantir a continuidade das aulas gratuitas, para que o projeto possa impactar cada vez mais vidas.
“Às vezes a gente ganha um apoio, como do Festival de Verão e de um amigo que faz o Rock in Rio. Uma pessoa de São Paulo e outra pessoa do Rio de Janeiro conseguiram isso durante um ano. Trabalhamos para que as aulas continuem sempre de graça”, finaliza Marivaldo.