Com 3 atletas olímpicas, rugby de Paraisópolis busca patrocínio
No melhor ano esportivo, projeto social não tem recursos suficientes e funciona com “equipe reduzidíssima”, diz fundador
Projeto social Rugby para Todos, na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, perdeu o patrocínio de cinco grandes empresas. Pela primeira vez em vinte anos, não conseguiu captar o mínimo autorizado pelo Lei do Esporte. Momento crítico é vivido “quando a comunidade mais precisa”, diz Maurício Draghi, fundador do projeto de onde saíram as atletas olímpicas Bianca Silva, Gisele Gomes e Leila Silva.
No ano em que coloca três atletas no time feminino de rugby da Olimpíada de Paris, o projeto social Rugby para Todos, da favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, está praticamente sem nenhum recurso financeiro. É a primeira vez, em vinte anos.
“Estamos trabalhando com equipe reduzidíssima”, diz o fundador do projeto, Maurício Draghi, que perdeu o patrocínio de cinco grandes empresas. Ele aponta a dificuldade do rugby ainda não trazer medalhas olímpicas, apesar da reconhecida importância social.
Draghi avalia o momento como “bastante crítico”. O projeto de rugby está mantendo “uma operação mínima quando a comunidade mais precisa”. Ele conta que chegou a pagar do próprio bolso a corrida de um carro de aplicativo para trazer a comida que é distribuída às terças-feiras em Paraisópolis.
Projeto custa R$ 1 milhão por ano
Até o ano passado, os recursos financeiros do Rugby para Todos vinham da captação autorizada pela Lei do Esporte. O projeto custa R$ 1 milhão por ano.
Para começar a usar os recursos de patrocínio, mesmo que o total não tenha sido obtido, é preciso conseguir 20% do montante.
“Não conseguimos. Estamos viabilizando um programa de socio-torcedor, captação internacional e vaquinha online para ir cobrindo os custos operacionais”, diz Draghi.
Segundo ele, outra explicação para a falta de patrocínio é “alta concorrência de projetos com uma bela narrativa, mas de transformação e impacto rasos”.
Melhor ano esportivo, pior de Paraisópolis
A seleção olímpica feminina de rugby, com três atletas de Paraisópolis, teve um ano esportivo histórico. Está na décima colocação no circuito mundial e conquistou o oitavo lugar em etapa de elite do circuito, o melhor resultado até hoje. O time conquistou também o terceiro lugar no Pan-Americano.
Na semana passada, em amistosos contra os EUA, mais cinco atletas de Paraisópolis foram convocados para a seleção brasileira masculina. Mas a comunidade está vivendo um ano tenso.
“Com operações ao redor do campo, a gente nunca cancelou tanta aula, está tendo uma evasão como nunca teve antes. A gente viu tiroteio na rua, morte. A comunidade está sendo tratada com muita hostilidade. Realmente, é um ano muito difícil”, resume o fundador do Rugby para Todos.
20 anos em São Paulo, 10 no Rio de Janeiro
O Rugby para Todos está no epicentro da favela, realizando treinos no campo do Palmeirinha. Mantém dois times, As Leoas e os Leões de Paraisópolis. Oferece rugby e formação educativa em cinco dos sete dias da semana.
Atende mais de 300 pessoas e, em vinte anos, atendeu mais de cinco mil. Teve 25 atletas convocados para a seleção masculina e feminina e o time adulto, o Leões de Paraisópolis, “vai ser um dos clubes top quatro”, acredita Draghi.
No Rio de Janeiro, o projeto funciona há dez anos. Há um polo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Vila Olímpica, no Morro do Pinto. Atendem comunidades como Santa Marta e complexo de favelas da Maré.
Existem dois documentários sobre o projeto social. Leões de Paraisópolis, Rugby que vem da Favela, de 2017, e Intercâmbio Social das Leoas de Paraisópolis à França, de 2019.