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Conheça mulheres que fazem o futebol na periferia de Guarulhos

No Jardim Munira, projeto social em que meninos predominam tem mulheres na fundação, administração e dentro de campo

25 jul 2024 - 06h53
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Resumo
Enquanto a seleção brasileira de futebol feminino disputa a Olimpíada de Paris 2024, mulheres e meninas realizam projeto social na periferia de Guarulhos, redefinindo os rumos do esporte para cerca de 80 alunos, única iniciativa do gênero no bairro. Na vida das crianças, o celular deu lugar à bola, e as redes sociais, à rede do gol, que vivem estufando.
Mães, filhas e alunas da escolinha de futebol Flipper, no Jardim Munira, periferia de Guarulhos
Mães, filhas e alunas da escolinha de futebol Flipper, no Jardim Munira, periferia de Guarulhos
Foto: Yasmin Araújo

A maior prova da organização das mulheres envolvidas na escolinha de futebol Flipper, no Jardim Munira, periferia de Guarulhos, é a rapidez com que se articularam para esta reportagem: em uma tarde, transmitiram contatos de mães e alunas, deram entrevistas, se reuniram para fotos e, para isso, acionaram a fotógrafa cujo sobrinho é aluno do projeto social.

Surgido há três meses e atendendo 80 alunos, em meio à maioria de meninos há meia dúzia de meninas destemidas. Fora de campo, mães, entre elas ex-futebolistas, administram o projeto, levam a trazem filhos e filhas de outas mães para os treinos e batalham por doações.

O surgimento do projeto social se deve à obstinação de Elaine dos Santos, 44 anos. Interessada em manter seu filho treinando, insistiu com o marido, ex-jogador de futebol, para iniciarem a escolinha. “Com um profissional dentro de casa, comecei a pôr pilha, provocava”.

Seleção feminina de mães: Elaine dos Santos, Carolina Silva, Anali Costa e Mariza Barros
Seleção feminina de mães: Elaine dos Santos, Carolina Silva, Anali Costa e Mariza Barros
Foto: Yasmin Araújo

“É maravilhoso ver as meninas em campo”

Com o marido convencido, o casal correu atrás e conseguiu autorização para usar a quadra da escola pública Vereador Gilmar Lopes, onde rolam treinos às terças e quintas à noite. Aos sábados de manhã, é no campo do Jardim Veloso.

Marcelo dos Santos, o marido, é o técnico. Elaine, envolvida há décadas com projetos sociais, administra. “Sou a pidona do projeto, mil e uma utilidades”.

Entre as ações, pechinchou e conseguiu comprar o uniforme do time com camiseta, calção e meião, “tudo de primeira”. O material, orçado em sete lojas, será distribuído em modesta cerimônia, em breve.

Segundo Elaine, “é maravilhoso ver as meninas em campo. A primeira vez que eu vi uma menina jogando, fiquei encantada. Era a Luiza, de nove anos, a menorzinha. Ela chegou toda equipada, com uniforme, chuteira, bola”.

Da esquerda para direita, atrás: Emily, Mel, Isabela; na frente, Luiza e Sara. Futuro do futebol feminino.
Da esquerda para direita, atrás: Emily, Mel, Isabela; na frente, Luiza e Sara. Futuro do futebol feminino.
Foto: Yasmin Araújo

Mariza, ex-jogadora, agora é coordenadora

Mariza da Silva Barros tem dois filhos, de oito e doze anos, na escolinha Flipper. Ex-jogadora, abraçou a causa. “É minha primeira vez, e como é uma coisa que eu amo muito, faço tudo”.

Isso significa providenciar lanches, fazer cadastros, fichas, anotações e correr atrás de patrocínios. Até agora, a Padaria Souza fornece os pães e Alemão Transportes leva e traz o time dos treinos aos sábados.

O projeto pretendia começar com 20 alunos, mas “estamos com uns oitenta, está difícil. Tem criança até sem tênis”. Apesar disso, Mariza está realizando um sonho interrompido.

Elaine Santos e Mariza da Silva Barros. Fora de campo, a fundadora e a mãe jogam em todas as posições.
Elaine Santos e Mariza da Silva Barros. Fora de campo, a fundadora e a mãe jogam em todas as posições.
Foto: Yasmin Araújo

Ela jogava futebol desde a infância em Garanhuns (PE). Mudou para Guarulhos, chegou ao Corinthians, mas uma lesão aos 19 anos tirou a atacante de campo. Agora, ela atua fora dele, e tem feito golaços.

Janaina, mãe da Isabela, de 11 anos

Janaina Ferreira dos Santos Barbosa também sonhava em ser jogadora de futebol. Vem de uma família de futebolistas. Praticou futebol e outros esportes desde o início da vida escolar. Não seguiu profissionalmente, “mas continuei jogando com os moleques”.

Ela é mãe de Isabela Ferreira dos Santos, 11 anos, atacante como a mãe. “O que me inspirou a jogar futebol foi o Cristiano Ronaldo. Eu acompanho muito ele, joga muito bem, eu queria jogar como ele”, diz Isabela.

Isabela Ferreira dos Santos, 11 anos, fã de Cristiano Ronaldo. Quer jogar futebol e ser modelo.
Isabela Ferreira dos Santos, 11 anos, fã de Cristiano Ronaldo. Quer jogar futebol e ser modelo.
Foto: Yasmin Araújo

Sua mãe ficou sabendo da escolinha no bairro pela mãe de outra aluna. “O ensino é melhor, porque é a raiz, pegam no pé. Sem dinheiro, o incentivo é o que conta”, diz Janaina.

Além de jogadora, a filha quer ser modelo. Ela acompanha futebol de perto, assiste tudo, e sobre a seleção feminina de futebol na Olimpíada, “espero que elas consigam pelo menos uma medalha”.

Carol, mãe da Emily

Carolina Cristina Rodrigues Silva, 32 anos, é pedagoga. Casada, palmeirense como o marido, proporciona oportunidades variadas à filha Emilly Pereira Rodrigues, 11 anos. A menina faz teatro, dança, toca violão e joga futebol.

“É para tirar um pouco das redes sociais, do celular”. Emilly é articulada e desinibida, joga entre os meninos da escolinha e na rua. “Ela cai pra dentro”, conta a mãe.

Quando ela não pode levar à filha aos treinos, a vizinha Mariza, coordenadora do projeto, leva.

Entre a arte e o esporte, Emily fica com os dois, deixa o celular e vai para os palcos, campos e quadras
Entre a arte e o esporte, Emily fica com os dois, deixa o celular e vai para os palcos, campos e quadras
Foto: Yasmin Araújo

“Arte sempre foi meu sonho”

Apesar do envolvimento futebolístico, Emilly tem uma paixão ainda maior. “Gosto muito de futebol, mas prefiro teatro. Me apaixonei”.

O curso despertou sua vocação dramatúrgica. Ela sabe o valor das atividades esportivas e artísticas. “Ajudou a sair do telefone, preciso decorar texto, me concentrar para aprender um lance em campo”.

Ela assiste futebol feminino, conhece a jogadora Marta, na escola a professora fala do assunto. Sobre a seleção brasileira na Olimpíada de Paris, “tudo é possível, mas é claro que estou torcendo pelo Brasil”.

A escolinha de futebol Flipper, em Guarulhos, tem três meses e atende 80 crianças, que não param de chegar
A escolinha de futebol Flipper, em Guarulhos, tem três meses e atende 80 crianças, que não param de chegar
Foto: Yasmin Araújo

Em tempo: o nome da escolinha, Flipper, homenageia o golfinho que protagoniza um filme de ação, aventura e superação. “Estamos no meio do nada, tentando lutar pela melhoria das nossas crianças, todo dia a gente vai se superando”, explica Elaine, cofundadora do projeto social.

Fonte: Visão do Corre
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