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Designer de unhas vai da favela a título estadual de boxe

Mulheres de periferias de Salvador venceram o Campeonato Baiano de Estreantes, e agora buscam desenvolver carreira profissional no esporte

12 jul 2022 - 05h00
(atualizado às 12h48)
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Tamara Alves (vestida de azul) disputando a final do Campeonato Baiano de Estreantes.
Tamara Alves (vestida de azul) disputando a final do Campeonato Baiano de Estreantes.
Foto: Lane Silva.

Quando se pensa em talentos brasileiros do boxe, com certeza a Bahia vem à mente. Apesar do baixo investimento, a terra de talentos como Popó, e, mais recentemente, Hebert Conceição e Bia Ferreira, permanece criando lendas. No último Campeonato Baiano de Estreantes, realizado em maio, a academia Dragon Boxe do bairro de Sussuarana, voltou com duas campeãs baianas: a designer de unhas Tamara Alves, 28 anos, e a autônoma Tailana Santana, 24 anos.

Durante o dia, a boxeadora Tamara faz alongamento de unhas, mas, obviamente, apenas nas clientes, já que durante a noite, suas mãos vão ao encontro das luvas. “É babado, no momento, não faço em mim. Tudo que faço ou deixo de fazer ou falar, tem o boxe como enredo”, garantiu Tamara.

O Campeonato Baiano de Estreantes é promovido pelo presidente da Federação de Boxe Olímpico e Profissional do Estado da Bahia, Joilson Santana, com apoio da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). A competição é voltada para quem não teve lutas oficiais, portanto, costuma lançar talentos.

Campeã baiana na categoria 56 kg do Campeonato Baiano de Estreantes, Tamara fala sobre a sensação de subir no ringue para disputar pela primeira vez. “É uma experiência surreal, uma adrenalina à mil. Todo mundo tem um plano antes do primeiro soco, depois disso é você por você”, disse Tamara. 

É exatamente neste caminho que a atleta pretende seguir. “Estou treinando duro para isso”, afirmou Tamara que começou a treinar com o objetivo de se vingar de outras meninas que batiam nela no bairro, mas o boxe também a educou e “hoje o objetivo é virar uma campeã da seleção brasileira”.

E para alcançar esse objetivo, Tamara conta com a ajuda e é grata aos mestres da academia Dragon Boxe, localizada no bairro de Sussuarana. “Meu mestre Adriano Santos me impulsionou a isso tudo, com muita dificuldade, tenho que agradecer tudo a ele”, comentou.

E o objetivo do mestre Adriano Santos, 47 anos, ao abrir a academia de boxe na periferia foi justamente proporcionar um espaço construtivo para os jovens, “livre de más influências”.

Para o professor, “não só o boxe como qualquer modalidade esportiva é de suma importância nas periferias, pois o esporte em si socializa, transforma, resgata, forma cidadãos, dá uma perspectiva de vida melhor não só para o praticante, como para seus familiares e inúmeras outras coisas importantes para às comunidades periféricas”, considerou.

Com o sonho de fazer parte da trajetória de um campeão e estar num mundial como técnico. O trabalho desenvolvido com os atletas é voltado para o alto-rendimento, a parte física, mental e técnica.

Mas, além disso, Tamara conta que Adriano também é quem consegue todo material necessário para treinos e competições. Para ajudar nos custos ela costuma vender rifas, mas não tem sido suficiente e efetivo. 

Tamara Alves e Tailana Santana no Campeonato Baiano de Estreantes.
Tamara Alves e Tailana Santana no Campeonato Baiano de Estreantes.
Foto: Lane Silva.

E foi na laje do professor Sinho, outro mestre da Dragon Boxe que Tailana Santana começou a praticar. “Sempre amei o boxe e só esperava a primeira oportunidade”. Cerca de oito anos depois, Tailana se torna campeã baiana no Campeonato Baiano de Estreante, na categoria 75 kg. No início, essa realização seria suficiente, mas hoje seu desejo é “não parar e chegar a ganhar o mundial de boxe”.

No entanto, socialmente, domina no boxe, o estigma de esporte praticado apenas por homens. Nesse sentido, o preconceito, descrédito e piadas sexistas se tornam uma luta ainda mais intensa a ser travada diariamente pelas campeãs baianas.

Contando apenas com o apoio da esposa Simara, Tailana diz que no começo a chamavam de “moleque macho”, “brigona” etc. “Não tive o apoio de muitas pessoas, mas eu tenho um sonho, e vou atrás dele, o boxe é minha vida, meu ar, meu coração, vou lutar até não poder mais”, garantiu Tailana.

Já Tamara diz que por várias vezes pensou em desistir. “Porque ouvir dos homens que o boxe não é lugar para mulher, que homem são mais fortes e mais interessantes que as mulheres, ver que a maioria recebe mais atenção, isso acaba nos influenciando e desanimando, tem que ter muita força de vontade”, desabafou Tamara.

O que ambas têm em comum além do título de campeã baiana é o desejo de representar e inspirar outras mulheres. “Lugar de mulher é onde ela quiser”, concluiu a boxeadora Tamara. 

ANF
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