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Despedida de Adriano: conheça a Vila Cruzeiro, berço do Imperador

Comunidade faz parte do Complexo da Penha, que foi um quilombo protegido por padre abolicionista e republicano

15 dez 2024 - 17h04
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Resumo
Local histórico tem relação com o primeiro samba gravado no Brasil e com a difusão da capoeira fora do país. Madame Satã, lendário personagem da vida marginal e noturna carioca, adorava colar na Vila Cruzeiro, onde Adriano Imperador surgiu para o futebol.
O futebol na Vila Cruzeiro sempre foi importante para a comunidade e preparou o terreno para o surgimento de Adriano, o Imperador.
O futebol na Vila Cruzeiro sempre foi importante para a comunidade e preparou o terreno para o surgimento de Adriano, o Imperador.
Foto: Facebook Vila Cruzeiro

Para entender a Vila Cruzeiro é preciso focar em grande angular o Complexo de Favelas da Penha, composto por 13 comunidades, e depois ir para o micro detalhe, o pedaço onde nasceu e cresceu Adriano Leite Ribeiro, o Imperador.

O aglomerado está localizado na zona norte do Rio de Janeiro, no bairro da Penha, com favelas como Grotão, Caracol e Chatuba. Segundo os dados mais recentes do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Vila Cruzeiro tem 8.348 habitantes.

Diferente da maioria das favelas cariocas, surgidas na segunda metade do século passado com a chegada de imigrantes nordestinos, a Vila Cruzeiro está encravada em região histórica, um quilombo que existiu no final do século 19, no Morro da Serrinha.

O quilombo era administrado por um tal padre Ricardo, abolicionista e republicano, que acolhia negras e negros fugidos. Para chegar ao local de vida e liberdade, passavam pelo Morro do Alemão, da Fé e do Juramento, até chegar ao Morro da Serrinha.

No alto, Igreja da Penha. Morro abrigava quilombo no século 19. Décadas depois, surgem favelas como a Vila Cruzeiro.
No alto, Igreja da Penha. Morro abrigava quilombo no século 19. Décadas depois, surgem favelas como a Vila Cruzeiro.
Foto: Rio Antigo

Grandes nomes da música e da cultura preta

Antes de virar favela, o local era conhecido como Quilombo da Penha. A Festa da Penha foi fundamental na produção e difusão da música e da cultura pretas. O primeiro samba gravado no Brasil, Pelo Telefone, em 1916, foi “concretizado em uma dessas festas” da Penha por Donga, informa o Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Entre as personalidades importantes da quebrada, estão os mestres Touro e Dentinho, irmãos e pioneiros, levando a capoeira para o exterior. Essas rodas “foram muito perseguidas pelas autoridades locais”, afirma o Dicionário.

Um dos admiradores do mestre Dentinho era Madame Satã, negro e travesti, figura emblemática da boemia carioca, que mereceu um filme protagonizado por Lázaro Ramos. Para fugir da perseguição policial, as rodas de capoeira eram um dos refúgios de Satã.

Além da capoeira e do samba, com seus respectivos representantes, merece ser citado o senhor Ananias, ou Cachimbinho, famoso por fazer a maior fogueira do Grotão, que ficava acesa por mais de quatro dias.

Estátua dos mestres Touro e Dentinho no Largo da Penha, instalada em 2021 em homenagem aos capoeiristas.
Estátua dos mestres Touro e Dentinho no Largo da Penha, instalada em 2021 em homenagem aos capoeiristas.
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Futebol na Vila Cruzeiro e o surgimento de Adriano

Passado mais de um século de história, surge um nome que iria tornar a Vila Cruzeiro e, por tabela, o Complexo da Penha, ainda mais conhecido. Em fevereiro de 1982, nascia Adriano Leite Ribeiro, que começou no campo do Ordem e Progresso, na entrada da favela.

Na biografia Adriano: meu Medo Maior, o craque declara que não sabe porque seu time de várzea chamava Hang – um dos clássicos era contra o Chapa Quente. No mesmo livro, o Imperador declara que jogou mais bola no campo do Ordem e Progresso do que no San Siro.

Ali Adriano deitava e rolava com seus amigos Cachaça, Hermes, Jorginho. Alguns tinham apelidos hilários e representativos, como Boldo com Limão, que reclamava de tudo. É para lá que o Imperador sempre volta e se diverte, despertando moralismos e preocupações alheias.

Adriano Imperador desfila na Camisa Verde e Branco, em São Paulo, no Sambódromo do Anhembi, em 2024.
Adriano Imperador desfila na Camisa Verde e Branco, em São Paulo, no Sambódromo do Anhembi, em 2024.
Foto: Paulo Pinto/AB

A nota mais triste da Vila Cruzeiro é a chacina ocorrida em 2022, a segunda maior da história do Rio de Janeiro, com 25 mortos. À época, o governador Cláudio Castro declarou que as mortes foram um “efeito colateral” da operação policial.

Hoje, quando Adriano fizer sua despedida oficial no Maracanã, jogando pelo Flamengo contra amigos da Itália, toda a história resumida neste texto, e muito mais, que sequer pode ser expressado em palavras, também entrará em campo.

Fonte: Visão do Corre
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