Jovem vende trufas no trem para tentar conquistar UFC
Julia Polastri é moradora da Baixada Fluminense e sonha em ganhar cinturão de MMA
Tendo uma infância tranquila, mas fugindo das brincadeiras tradicionais, a carioca Julia Polastri, atleta profissional de MMA, começou sua trajetória no mundo das lutas esportivas quando tinha 5 anos de idade e chegou a conquistar duas cordas de graduação na capoeira. Já na adolescência, aos 17 anos, a atleta engrenou no mundo do muay thai - inicialmente por diversão - e depois de um ano e meio de muita dedicação teve sua primeira vitória profissional. Após a consagração, Júlia ainda participou de mais oito competições até chegar ao MMA.
O que nunca foi um sonho se tornou algo que fez a jovem de 24 anos mergulhar de cabeça no esporte. Com a nova rotina de treinos e dietas intensas, Julia Polastri decidiu vender trufas de chocolate no trem para arcar com os gastos extras.
Mesmo morando com os avós e recebendo ajuda deles, ela correu atrás de uma renda financeira que pudesse arcar com as novas despesas que surgiram. As trufas com sabores variados, feitas pela própria Julia, custam R$ 2,00 a unidade ou três por R$ 5,00. As vendas geralmente acontecem toda sexta-feira e sábado, no ramal do trem de Gramacho.
Há 4 anos se comunicando com passageiros na linha do trem, Julia lembra: "eu comecei a vender um pouco de trufas no trem só para fazer um dinheiro e conseguir comprar mais frango ou suplemento que eu precisava. Conforme foi passando o tempo, a minha responsabilidade nos treinos foi aumentando e consequentemente aumentou a produção de trufas. Hoje em dia ainda vendo, fico lá [na estação de trem] das 9h às 14h para não atrapalhar minha rotina de treinos."
O treinamento disciplinado é feito na academia que pertence a Douglas Bastos, marido e treinador de Julia, localizada no bairro Sarapuí, em Duque de Caxias. São realizadas de quatro a cinco sessões com média de uma hora e meia de duração, contabilizando oito horas por dia em horários flexíveis, sem ser exercícios repetitivos para garantir a qualidade física da profissional.
Mas hoje, o maior desafio para continuar no mundo das artes marciais é a falta de patrocínio. A atleta de MMA conta com parcerias locais: JGT Auto Peças, Mini Mercado Ofertão do Pilar, que envia uma caixa de ovos por mês, Jô Coiffeur cuidando da parte estética e a Clínica Rio Quiropraxia para evitar alguma futura lesão de Julia.
"Eu já cansei de chegar em várias empresas. Se eu não recebia um 'não' logo de cara, eu ouvia: 'olha, a gente entra em contato' e eu nunca mais ouvia a empresa. Então isso é o mais crucial para o atleta, porque a gente acaba entendendo que o MMA aqui [no Brasil] não é tão popular. E os eventos nacionais não conseguem pagar uma bolsa… O pior de tudo é a falta de patrocínio, e também muitas pessoas com quem eu falo não gostam por eu ser mulher e acham o MMA um esporte muito agressivo", garante.
Luta e paz
Por ser mulher, jovem e adepta dos esportes de grande impacto físico, Julia Polastri já se deparou com vários questionamentos desde o início de sua carreira. Tentando vencer essa barreira imposta na sociedade para muitas mulheres que estão nos ringues, ela destaca qual o sentimento diante dos preconceitos: "tem um ponto muito importante para o atleta que é a parte psicológica. As pessoas acham que é só você treinar que é atleta e pronto. Na luta, ou em qualquer outro esporte, você é 70% mente e 30% corpo, onde a sua cabeça vai o seu corpo segue."
Julia ainda ressalta a importância do acompanhamento psicológico para os atletas. "Eu faço acompanhamento psicológico e evolui muito nos meus treinos e até pessoalmente. É crucial, algo que muita gente não sabe ou não dá muita bola para o psicológico do atleta… Não adianta você chegar e jogar seu corpo na exaustão, não é o suficiente. A cabeça, se ela não tiver boa, nada vai dar certo", garante.
Para o futuro, Julia Polastri sonha em ser campeã mundial do UFC através da categoria peso palha, que é de até 52,2 quilos. A atual dona do cinturão é Rose Namajunas, a norte-americana que contabiliza 14 lutas na carreira, com 10 vitórias: sendo duas por nocaute e cinco finalizações. Julia também não fica atrás: levou o importante cinturão do Shooto Brasil na categoria peso palha. O evento foi realizado em 2019, na Arena Upper, no Flamengo, zona norte carioca.