Moradores de Recife se organizam para combater a fome
A principal ação do Comunidade Ativa é a distribuição semanal do sopão solidário. Fome é problema sério em Pernambuco
Enquanto não se erradica a fome em diversas periferias brasileiras, pessoas em situação de vulnerabilidade social contam com a solidariedade de outras, como as que compõem o projeto Comunidade Ativa, iniciativa criada em 2018 para proporcionar, quinzenalmente, um sopão solidário a moradores do Alto Nossa Senhora de Fátima, periferia da zona norte do Recife.
A ideia surgiu em uma conversa entre amigos, jovens da comunidade que participavam de outros projetos sociais. As primeiras ações tinham como objetivo principal amenizar a demanda mais urgente naquele momento, a fome. As arrecadações foram intensificadas e o sopão passou a ser distribuído semanalmente.
A fome é problema sério em Recife. Entre novembro de 2021 e abril de 2022, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), realizou uma pesquisa e constatou que cerca de 2,1 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, em Pernambuco. Isto significa que, a cada 10 pessoas, quatro estão passando fome ou com dificuldade de para se alimentar.
Além da ação de alimentação, o projeto atua na reivindicação de políticas públicas estruturais. “Já fomos atrás do poder público em busca de melhorias como iluminação pública, colocação de corrimão nas escadarias, recuperação de barreiras, arrecadação e distribuição de cestas básicas”, conta Adriane Suelen, idealizadora e presidente do Comunidade Ativa.
Em busca do atendimento de saúde
Antes de morar no Alto Nossa Senhora de Fátima, Adriane residiu em Coelhos, comunidade pobre da área central de Recife. Ela sempre conviveu com a dura realidade de não poder contar com serviços básicos, um dos motivos que a impulsionou a pôr em prática o projeto da sopa. A iniciativa não conta com nenhuma ajuda governamental.
"Sou beneficiária das ações do projeto aqui na comunidade, como o sopão. Eles têm muita atenção em procurar ajudar quem está necessitado, seja para alimentação, fralda, remédio para quem está acamado. Espero que cresçam, que tenham mais apoio e consigam colocar em prática o projeto de saúde", declara Cledineusa de Oliveira Rocha, de 69 anos.
O projeto citado é um dos objetivos do Comunidade Ativa para proporcionar, ao menos uma vez por semana, consultas médicas gratuitas para os moradores, visando suprir as lacunas deixadas pelo poder público. "Estamos em busca de parcerias com médicos e profissionais de saúde que possam assumir essa demanda de forma voluntária", afirma Adriane.
Voluntários precisam de mais voluntários
Amigos e voluntários do Comunidade Ativa ajudam a promover atividades esportivas, sociais, culturais e de lazer na comunidade. São eles o campeonato de futebol; cinema na rua; festa de Dia das Crianças, com brincadeiras, distribuição de brindes e brinquedos; e a comemoração de Páscoa que, neste ano, distribuiu cerca de 530 caixas de chocolates para a criançada.
"Nossa maior dificuldade é encontrar parceiros comprometidos a nos ajudar financeiramente. Esporadicamente, ongs contribuem conosco, mas a principal parte de nossas atividades é realizada por nossos esforços. Muitas vezes tiramos do nossos recursos, para não deixar de realizar esse trabalho que é tão importante, que impacta a vida de tantas pessoas e dá força e esperança para continuar lutando por uma sociedade justa e com oportunidades iguais para todos”, diz Adriane.