“Não precisa de creatina”, diz influencer de corrida do subúrbio carioca
Com mais de 500 mil seguidores no Instagram, ele ficou famoso com vídeos de treinos e o bordão “correr é bom demais”
Sem o aparato de equipamentos, suplementos e locais adequados para corrida, que começou a fazer de madrugada, professor de Educação Física mostra que se exercitar é mais simples do que parece.
No último ano, Pedro Paulo Amorim ficou conhecido como o influenciador PP, que corre pelas madrugadas saindo de Maria da Graça, subúrbio do Rio de Janeiro, repetindo incansavelmente a frase “correr é bom demais”. Seus vídeos viralizam, mas como ele se destacou no disputado mundo de influencers fitness?
Pode parecer mentira, mas PP, que hoje vive de internet, sequer pensava em ser influenciador. Formado em Educação Física, era um esforçado funcionário de academia, mesma profissão da esposa, atualmente sócia naquilo que virou o sustento da família, a internet.
“O que pegou é que eu sou uma pessoa comum, não sou atleta. Moro em um lugar comum, periferia, e corria num horário que alguém poderia correr, sempre tarde da noite ou de madrugada, sempre perigoso”, explica PP, de 33 anos.
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Sua primeira fisgada pela corrida aconteceu quando fazia faculdade. A volta de metrô, no final da tarde, era incômoda, com vagões lotados. Começou a caminhar, depois a correr. Sua decisão é explicada por pesquisas como a do Terra Insights: 37% dos entrevistados preferem corrida de rua, o maior percentual; caminhada, 28%.
“Na minha área, é incomum alguém correr filmando”
Ao concluir a faculdade, PP começou a trabalhar e a se interessar por musculação e fisiculturismo. Fez curso de árbitro, passou a morar com a namorada, batalhavam o dia inteiro em academias. Até que veio a pandemia de covid-19.
PP descobriu que “correr é bom demais” saindo de madrugada, para evitar riscos no período de isolamento. “Só tinha morador de rua. Foi quando eu consegui relaxar minha cabeça. Corria sem fone de ouvido, até minha perna aguentar”, conta.
Corria por prazer e com crescente interesse até que “uma vez, saí com o celular no bolso. Decidi filmar o percurso e fiz o primeiro vídeo, com uma repercussão infinitamente grande”. Aí não parou mais.
Ele e a esposa deixaram os empregos para viverem de internet e criarem o filho recém-nascido. A ascensão aconteceu rápido, em um ano. Hoje, PP tem até assessor de imprensa.
Um mês na Europa, com a família
Com o sucesso, a vida mudou completamente. No ano passado, PP passou um mês na Europa, durante as Olimpíadas. Levou esposa, filho, mãe e pai.
“Financeiramente mudou tudo. Aparecem possibilidades que eu nunca pensei. Tinha convicção que seria impossível fazer uma viagem para fora do país, matematicamente falando. Fui e gastei tudo”, conta.
Seu recado nos vídeos é sempre inclusivo, nada a ver com infinitas dicas e sugestões de compra de equipamentos e suplementos. “O nível de investimento pode ser muito baixo, mesmo. Não precisa de creatina e outras coisas. Come um macarrãozinho com frango que está tudo certo”.
Quebrada de PP nem pagava IPTU
O bairro Maria da Graça, na zona norte, onde PP nasceu, é cercado de comunidades como Jacarezinho, Alemão, Manguinhos. Embora tivesse família e casa, viveu na rua “caindo e se quebrando, jogando bola”.
“Sempre convivi com pessoas que, de fato, viviam em carência absoluta, muitas vezes chegavam malcheirosas, sem chuveiro em casa, faltava água. Convivi com a pobreza extrema, muito de perto”, conta sobra a infância.
A região “tem pouquíssima infraestrutura para corrida”. Para se ter uma ideia, faz somente dois anos que ele paga IPTU, antes não era cobrado por ser área de risco. “Foi incomum alguém correr aqui, e correr filmando”.
Mas a vida reservou um futuro promissor a PP. Somente no Instagram, são mais de 500 mil seguidores. “Vem treinar e tenta fazer o básico, da forma mais tranquila possível. É o suficiente”, garante o influencer, simplesmente “porque correr é bom demais”.