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Neta Canoa, atleta olímpica, comia “café com biscoito de coco”

Cria do quilombo Porto de Trás, em Itacaré (BA), ela é filha de pai e mãe pescadores, com seis filhas e seis filhos

7 ago 2024 - 21h04
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Resumo
Valdenice Conceição é campeã brasileira, Sul-Americana, Pan-Americana, da Copa do Mundo, entre outros títulos, mas ainda é desconhecida do grande público. Ela prefere ser chamada de Neta Canoa, apelido com o qual conquistou a honra de ser a primeira mulher da canoagem brasileira em sua categoria a disputar uma Olimpíada.
“Vim de família humilde, a gente não tinha nada”, lembra Neta Canoa, atleta olímpica da canoagem brasileira
“Vim de família humilde, a gente não tinha nada”, lembra Neta Canoa, atleta olímpica da canoagem brasileira
Foto: Divulgação

Você certamente ouviu falar de Isaquias Queiróz e Ana Sátila, atletas da canoagem brasileira na Olimpíada de Paris. A equipe é composta também por Neta Canoa, a primeira brasileira a conseguir vaga olímpica na categoria C1 200m – “C” significa canoa, e “1”, a quantidade de remadores.

Com 34 anos, Valdenice Conceição prefere se identificar como Neta Canoa, juntando a maneira como a avó lhe chamava e o esporte que pratica. Pouco conhecida, foi a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha nos Jogos Pan-Americanos na canoagem de velocidade. E é a primeira em sua categoria a representar o Brasil na Olimpíada.

Ela vem de um quilombo com quase 300 anos, o Porto de Trás, em Itacaré, Sul da Bahia. Família grande, são seis filhas e seis filhos de pai e mãe pescadores. Neta Canoa conta rindo como veio ao mundo. “Minha mãe foi pescar grávida, depois foi lavar roupa. Duas horas depois, teve que me parir em casa”.

Entre as irmãs, é a única esportista. Um dos irmãos, Vilson Conceição, oito anos mais velho, sua grande influência, foi bicampeão Sul-Americano e prata no Pan-Americano.

O quilombo Porto de Trás, em Itacaré (BA), foi certificado como área remanescente de quilombo em 2010
O quilombo Porto de Trás, em Itacaré (BA), foi certificado como área remanescente de quilombo em 2010
Foto: Prefeitura de Itacaré

“Nada do bom e do melhor”

Neta Canoa começou a se interessar por canoagem aos 12 anos de idade. “Não tinha condições de ter nada do bom e do melhor. Quando comia pão durante a semana, era porque minha mãe conseguia vender alguma coisa que pescava, algum marisco. Em geral, a gente comia café com biscoito de coco”, lembra.

As primeiras remadas como esportista aconteceram na Associação de Canoagem do Porto de Trás. “Não era uma escolinha, o rapaz quis me ensinar. Me deixou cair várias vezes na lama”.

As condições do treino eram precárias: remo de madeira, antigos, pesados, ou de fibra de vidro. “Não tinha condição de ter material, mas fui praticando com o que dava”.

Pouco conhecida, Neta Canoa é campeã brasileira, Sul-Americana, Pan-Americana, da Copa do Mundo, entre outros títulos
Pouco conhecida, Neta Canoa é campeã brasileira, Sul-Americana, Pan-Americana, da Copa do Mundo, entre outros títulos
Foto: Divulgação

Na primeira competição, em 2005, Neta Canoa ficou em terceiro lugar. Não parou mais, foi ganhando campeonatos relevantes, quase esteve na Olimpíada de Tóquio, e realiza o sonho olímpico em Paris.

Conversamos com Neta Canoa por chamada de vídeo, em Lagoa Santa (MG), onde a seleção brasileira de canoagem treinou para os Jogos Olímpicos. Ela estava há seis meses longe de casa, sem ver os filhos e o marido.

Como imagina que será sua participação na Olimpíada de Paris?

Vai ser excepcional, coisa de outro mundo, sempre almejei isso. Qualquer dificuldade que viesse eu ia passar por cima. Estou treinando e com certeza busco uma das medalhas.

“Eu represento meu povo quilombola na Olimpíada”, diz Neta Canoa, do quilombo Porto de Trás, em Itacaré (BA).
“Eu represento meu povo quilombola na Olimpíada”, diz Neta Canoa, do quilombo Porto de Trás, em Itacaré (BA).
Foto: Prefeitura de Itacaré

Quando estiver prestes a começar a primeira prova, o que estará passando pela sua cabeça?

Um pouco de nervosismo, ansiedade. Vou começar a orar bastante, começar a agradecer a Deus e focar na prova, porque esse é o momento crucial que eu tanto esperei.

Além da sua modalidade esportiva, de que forma você se considera representante do quilombo onde nasceu?

Será uma honra representar a nossa cultura, a nossa cor, o nosso gênero – porque a mulher é um pouco discriminada. Eu represento meu povo quilombola nas Olimpíadas.

O que é ser campeã?

É ter uma história de superação para contar no futuro.

Fonte: Visão do Corre
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