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Mano Brown e Ray-Ban, mais um favelado se vendendo ao sistema?

Esse pensamento não é algo que cerca somente Mano Brown, esses mesmos questionamentos já chegaram a Emicida ao realizar um discurso no Rock in Rio 2022 sobre a burguesia, enquanto vestia em seu corpo artigos de luxo da marca Gucci. Favelados, pretos usando marcas ou ocupando espaços de fala significativos causam um incômodo, que é reflexo de um movimento que responsabiliza os pouquíssimos favelados que conseguiram ter mobilidade social, como únicos responsáveis pela mudança de todos os males que cercam […] O post Mano Brown e Ray-Ban, mais um favelado se vendendo ao sistema? apareceu primeiro em AUR,.

12 jul 2023 - 11h18
(atualizado em 22/8/2023 às 10h03)
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Esse pensamento não é algo que cerca somente Mano Brown, esses mesmos questionamentos já chegaram a Emicida ao realizar um discurso no Rock in Rio 2022 sobre a burguesia, enquanto vestia em seu corpo artigos de luxo da marca Gucci.  Favelados, pretos usando marcas ou ocupando espaços de fala significativos causam um incômodo, que é reflexo de um movimento que responsabiliza os pouquíssimos favelados que conseguiram ter mobilidade social, como únicos responsáveis pela mudança de todos os males que cercam a favela. 

Como se o acúmulo de renda e progresso deles devesse voltar completamente à favela. Beleza, mas qual a importância de termos favelados como o Mano Brown se tornando embaixadores de marcas gigantes como a Ray-Ban?

Foto: AUR

Quando personalidades vivas como o Mano Brown começam a ocupar espaços simbólicos dentro da nossa sociedade, como em capas de revista (Revista Elle) e em campanhas como a da Fila e agora a da Ray Ban, automaticamente os seus corpos quebram paradigmas e constroem vírgulas, que marcam espaços de possibilidade. 

Ainda assim, surgiram comentários do tipo na publicação oficial do Mano Brown no instagram:

"A Ray Ban é parte do problema. Ser garoto propaganda de algo inacessível ao seu público e às pessoas que te seguem é desumano".

A empresa Ray-Ban tem produtos que custam entre 3 mil e 600 reais e, como é de costume, marcas como essa no Brasil acreditam que seu público alvo é a classe média alta. Porém, as lógicas de consumo funcionam de outras formas nas periferias e para algumas pessoas, dói imaginar que favelados estão usando artigos como esse. 

A presença do Mano Brown pode até ser compreendida como representatividade, levando em consideração as outras personalidades que também se tornaram embaixadoras, como o Marcos Mion e Giovanna Ewbank. 

Foto: AUR

Ter o Mano Brown como embaixador desta marca, fortalece narrativas periféricas de poder e contribui para o letramento de favelados sobre seus corpos em nossa sociedade. Marcas, produtos e serviços estão nas periferias, porém os favelados não estão nas equipes dessas empresas. São raros os momentos como esse.

Inclusive, recentemente o Major RD, um artista com mais de 1 milhão de seguidores (após soltar algumas prévias do que seria um novo lançamento de uma música, na qual citava o banco NuBank), recebeu uma notificação de advogados do Nubank sobre um processo, caso a música fosse publicada oficialmente. Um detalhe importante é que a música não agredia a marca, pelo contrário, a contextualiza como a marca jovem que ela reforça ser. 

Seja nas músicas ou nas ruas, o ato de consumir nas periferias caminha lado a lado a militância, nos colocamos no mundo afirmando nossa presença, preservando e se esforçando para projetar símbolos visuais que garantem nosso trânsito seguro no mundo. A velha história de que o favelado, o preto precisa se vestir duas ou três vezes melhor.

Um favelado de Ray-Ban em um pôster ou site oficial abre espaço para pensarmos como nossos corpos estão pelo mundo.  A ocupação de espaços como esse marcam passos muito importantes no caminho para o letramento dos favelados e dos desafios da mobilidade social no Brasil.

Afinal, quantos anos de carreira excepcional foram precisos para o Mano Brown ocupar tal espaço?

AUR
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