Mulheres das periferias criam o 1º absorvente biodegradável
A Ecociclo já possui relevância internacional, e foi, entre outras coisas, finalista da competição global de negócios verdes
Além de democratizar o acesso a absorventes e cuidar da natureza, promover renda para mulheres através da sustentabilidade é a missão da Ecociclo. A empresa desenvolveu o primeiro absorvente biodegradável do Brasil.
Enquanto um absorvente comum demora de 100 a 500 anos para se decompor, a EcoCiclo se compromete a entregar um absorvente mais saudável para as pessoas, atóxico e hipoalergênico, com decomposição em até 6 meses na natureza.
“O primeiro absorvente descartável inventado, existe até hoje. E apenas estudando que fui entender os impactos das nossas ações no mundo e como isso volta pra gente em maneira de poluição, de desastres naturais, água poluída etc”, contou a cofundadora e diretora executiva da EcoCiclo, Hellen Nzinga.
Desenvolvida por quatro mulheres periféricas de Salvador, Recife e São Paulo. Foi num mercado em seu bairro, no subúrbio ferroviário de Salvador, ao ver uma mulher sem dinheiro suficiente para comprar um absorvente, que Hellen Nzinga se inspirou para desenvolver a EcoCiclo.
De acordo com Hellen Nzinga, Ecociclo surge como negócio social para apoiar mulheres em situação de vulnerabilidade. Mas, “quando falamos de gerar renda para outras mulheres, para que elas possam sonhar, estudar, sair de uma situação de violência, nós estamos falando de nós mesmas e da nossa trajetória se não fosse o empreendedorismo”, pontuou a empreendedora.
Hellen se conectou com suas sócias, a recifense Karla Godoy e a paulista Patrícia Zanella, diretora financeira e de marketing respectivamente, através do Prolíder, um programa de formação de lideranças, onde desenvolveram o negócio. A engenheira química, Adriele Menezes, foi convidada a integrar a equipe em seguida para cuidar das questões relacionadas ao desenvolvimento técnico do produto.
Empreendedorismo Feminino Sustentável
Além do absorvente biodegradável, a EcoCiclo é uma plataforma de marketplace com produtos sustentáveis feitos por mulheres, em especial, mulheres em situação de vulnerabilidade.
A plataforma conta hoje com sete empreendimentos femininos: Mottai Cosméticos e a.Colhe Biocosméticos, com produtos de beleza sustentáveis; Acácia Santos Fios, comercializando produtos artesanais de crochê; Almanaque Lunar, com agenda viva para contar o tempo através da lua; Fraldas Abué, que vende fraldas e absorventes ecológicos; Oi, floor, com produtos feito à mão e da terra, como plantas e vasos; e Óléos da Mi, que oferece óleos e manteigas vegetais.
“Oferecemos também treinamentos em empreendedorismo sustentável e com foco no ciclo menstrual e uma plataforma de educação empreendedora sustentável para mulheres”, acrescentou Hellen.
Segundo a diretora executiva, estas frentes de atuação se conectam com o objetivo de promover um mundo mais sustentável através da geração de renda para mulheres. “A gente sabe que ter dinheiro no bolso é ter escolha”, afirmou.
Sendo assim, o pilar da sustentabilidade é a base mais forte de EcoCiclo porque “não existe mundo saudável sem pessoas saudáveis, assim como, não existem pessoas saudáveis, sem um mundo saudável, tudo precisa estar em harmonia”, considerou Hellen.
Impacto mundial
Sendo a sustentabilidade, pobreza menstrual e desigualdade social e de gênero, problemas reconhecidos mundialmente, entre 2021 e 2022, o trabalho desenvolvido pela EcoCiclo tem ganhado relevância e reconhecimento de organizações internacionais.
O negócio foi finalista da competição global de negócios verdes, do Climate Venture, uma organização especializada em apoiar os empreendedores brasileiros pelo clima. Através também de competição receberam seis investimentos da Universidade de Minnesota.
Participaram da competição de empreendimentos sociais promovida pela Zurich Foundation e a EcoCiclo foi um dos empreendimentos escolhidos para receber uma doação. Ecociclo também contou com o apoio de três investimentos da prefeitura de Salvador e da Fundação Avina.
“Tem sido muito importante pra gente porque quando a gente fala de Brasil, são muito poucas as oportunidades e investidores que querem acreditar em um empreendimento feminino ou sustentável. Então, mais do que uma relevância e reconhecimento, é uma estratégia de sobrevivência porque se fossemos depender apenas do que acontece no Brasil já estaríamos mortos”, finaliza Hellen sobre a falta de incentivos para empreendedores no Brasil.