Museu da Pelada faz resgate social de craques brasileiros
Projeto virtual relembra de ex-jogadores que estão fora dos holofotes e faz parcerias com escolas esportivas dentro de favelas cariocas
Que o futebol é uma paixão nacional, nós já sabemos desde criancinhas. E sabemos também que a famosa pelada é a maior diversão de meninos e de homens adultos, e já há algum tempo, vem sendo de muitas meninas e mulheres adultas também.
As regras não são muitas, basta ter um campo improvisado, jogadores e, é claro, uma bola para que a partida aconteça. Nada de sofisticação, uniformes bonitinhos, ou chuteiras profissionais. Pode até estar sem camisa e com os pés descalços. Querendo jogar, mesmo que não saiba muito, é o que vale para os chamados peladeiros.
Para os amantes de futebol, uma partidinha após a saída do trabalho, da escola e nos fins de semana, "é de lei ou sagradas", como eles dizem. Independente de como esteja o clima, é sempre tempo bom para uma peladinha, para extravasar e desestressar um pouco, deixando o humor mais leve e relaxado.
E como diz o início do texto, o futebol é uma paixão nacional, e esse sentimento dos brasileiros pelo esporte é eternizado no Museu do Futebol, que fica dentro do Estádio Mário Filho, o famoso Maracanã, ou simplesmente Maraca, como é carinhosamente chamado pelos torcedores de todos os times do Brasil. Porém, mais um local de contemplação do esporte foi criado para o deleite daqueles que não perdem uma partida e gostam de relembrar momentos memoráveis da Seleção Brasileira e de seus times.
O jornalista carioca Sérgio Pugliese criou o Museu da Pelada, que é inteiramente virtual, podendo ser visitado pelo público a qualquer hora, em qualquer lugar e em todas as plataformas digitais. Um espaço criado para os futebolistas e peladeiros poderem recordar de jogos e ídolos que marcaram e fizeram história no nosso futebol.
Sérgio Pugliese contou como surgiu a ideia de criar o museu e de seu lado social, resgatando ex-jogadores que estão fora dos holofotes, dando-lhes outras oportunidades dentro do futebol, fora do campo. O mesmo também fala das ações sociais feitas para escolinhas esportivas, que funcionam dentro das favelas cariocas.
"A ideia do Museu da Pelada surgiu depois da goleada de 7 x 1 que o Brasil tomou da Alemanha. Meus filhos estavam assistindo ao jogo com vários amigos e começaram a falar mal da seleção, dizendo que a seleção era uma porcaria. Eu fui defendendo, dizendo que essa seleção era uma porcaria, que Brasil já tinha tido outras seleções maravilhosas e outros jogadores espetaculares. Eles começaram a me perguntar onde estavam esses jogadores… Já tinha um projeto no O Globo chamado 'A pelada como ela é'. Levei quatro anos escrevendo essa coluna no O Globo, depois eu saí […] encerrei essa coluna lá, pedi pra sair para montar o Museu da Pelada, que é um projeto virtual", relembra.
Pugliese aponta que a coluna "A pelada como ela é" abordava as loucuras que os peladeiros faziam para jogar bola. Coisas como ir jogar pelada no dia em que filho nasceu, no dia em que pai morreu e, até mesmo, no dia da lua de mel. Loucuras feitas pelos "loucos por futebol", que não dispensam uma boa pelada por nada nesse mundo.
Ele também reforça que o Museu da Pelada é um "projeto social", que visa dar espaço a ex-jogadores de futebol que estão fora dos holofotes e afastados da mídia. Trazê-los a público novamente como forma de não deixar suas histórias esquecidas e apagadas na memória do povo brasileiro.
"(...) A gente pensou em ir atrás desses jogadores e descobrimos vários campeões do mundo de 70, campeões de 58, de 62, aí é legal. E hoje temos mais de 600 entrevistas com esses jogadores e tudo em torno do futebol. Não são só jogadores e nem são só os ídolos. Tem o gandula, tem o árbitro, tem o maqueiro, tem o torcedor, tem o soldado que estava de serviço no jogo, então tem de tudo, né, o médico. A gente entrevista para eles lembrarem desses momentos. Acaba que a gente melhora a autoestima de muito jogador, que estava há anos sem dar uma entrevista, a gente dá um tratamento especial para as matérias", conta Pugliese.
"Dar luz a eles". Essa foi a frase usada pelo jornalista para falar do objetivo de seu projeto, que é trazer esses jogadores de volta ao mercado. Com vídeos bem produzidos e fotos elaboradas em estúdio com alguns jogadores, ele tem conseguido colocar os ex-atletas como comentaristas ou em colunas em jornais.
"Acabou que virou um projeto social, mas a ideia surgiu depois dessa catástrofe e dessa tragédia da derrota do Brasil de 7 x 1 para a Alemanha. E a gente foi atrás dos pioneiros, dos craques, dos xodós, os xerifões, os personagens, os ídolos, os camisas 10. A gente faz encontro com esses jogadores para lembrar daquele jogo. E a gente sempre faz isso pela união e pela paz no futebol", afirma.
Mas além de ajudar ex-jogadores de futebol, o Museu da Pelada contribui com distribuições de materiais esportivos, como coletes e bolas, para escolinhas de futebol que funcionam dentro das favelas. É mais uma ação social feita pelo projeto, que não só resgata ex-atletas que estão fora da mídia, mas também contribui com os que estão iniciando e sonham em ter seus nomes eternizados no futebol brasileiro.