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'Nos espantou ninguém ter contado essa história antes', diz diretor do filme sobre Claudinho e Buchecha

20 anos depois da morte trágica de Claudinho, cinebiografia da dupla de funk chega aos cinemas, com direção de Eduardo Albergaria

11 set 2023 - 05h00
(atualizado às 12h29)
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Filme conta a trajetória dos músicos que conquistaram o Brasil com a poesia da periferia
Filme conta a trajetória dos músicos que conquistaram o Brasil com a poesia da periferia
Foto: Angélica Goudinho/Divulgação

"Nosso Sonho", a cinebiografia de Claudinho e Buchecha, dupla de maior sucesso do funk melody nacional de todos os tempos, é uma das produções mais aguardadas de 2023. Com direção de Eduardo Albergaria e produzido por Leonardo Edde, o filme estrelado por Juan Paiva e Lucas Penteado chega aos cinemas em 21 de setembro. 

Mais de 20 anos separa o trágico acidente de Claudinho – Cláudio Rodrigues de Mattos morreu aos 26 anos, no dia 13 de julho de 2002, no auge da carreira – da estreia do filme que retrata a história de força e sonho dos jovens, cuja amizade começou ainda na infância, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. 

Em entrevista ao Visão do Corre, Albergaria conta que a história do longa começou a se desenvolver em 2014, há quase 10 anos. A ideia chegou ao diretor por Fernando Velasco, roteirista da Urca Filmes. E naquela época houve espanto ao perceber que dois nomes icônicos da música brasileira, e referências do movimento funk, ainda não tinham ganhado uma homenagem no cinema.

“Quando a gente começou a desenvolver a ideia já tinha uma década [da morte de Claudinho]. Em 2014 nos espantava o cinema brasileiro ainda não ter contado uma história com tamanha potência, no sentido mais amplo”, diz.

“E esse espanto tem de ser colocado na mesa. Qual o critério que vem norteando as nossas seleções [de produções audiovisuais]? Que história interessa contar sobre o Brasil. Uma coisa é líquida e certa: [‘Nosso Sonho’] é um recorte de Brasil, um espelho para o Brasil real.”

Diretor Eduardo Albergaria e Juan Paiva
Diretor Eduardo Albergaria e Juan Paiva
Foto: Divulgação

O produtor Leonardo Edde, presente no projeto desde o início, também compartilha desse espanto. “Nos olhamos e pensamos ‘ah, não é possível que ninguém tenha feito alguma coisa?’, ‘Não é possível que ninguém tenha esses direitos?’, por exemplo, e realmente não tinha”, completa ele.  

“Desde o primeiro momento nos sentimos muito honrados, ainda mais pelo fato do Buchecha também ter nos franqueado. Ele nos abriu uma história muito pessoal, de muita dor e muito íntima. O nosso esforço foi fazer justiça a essa história, ao valor simbólico que ela carrega”, comenta Eduardo Albergaria. 

O funk como protagonista

O funk carioca, por essência, é um gênero revolucionário. Nasceu nas comunidades do estado do Rio de Janeiro nos anos 1970 e movimenta a economia das favelas até hoje. Os bailes, e equipes como a Furacão 2000, tornaram o ritmo conhecido nacionalmente.

No entanto, a rejeição ao funk ainda é presente, envolvendo questões de racismo e o preconceito de classe social. Historicamente, a produção cultural feita pela população negra no Brasil é alvo de discriminação de outras parcelas da socidade. 

“Mesmo o funk sendo uma espécie de commodity brasileira, é um produto que ainda hoje carrega uma série de preconceitos”, emenda Albergaria. No filme, o funk tem um papel fundamental que atravessa as vidas de Claudinho e Buchecha.  

“Essa história [de ‘Nosso Sonho’] carrega dentro dela um peso ainda maior que transborda o filme. Nesse sentido, é bonito, mas é injusto. É uma dívida que o país tem com o movimento, com um patrimônio da cultura brasileira e, em última instância, com os artistas do funk.”

‘O país tem uma dívida com o movimento funk’, diz diretor
‘O país tem uma dívida com o movimento funk’, diz diretor
Foto: Angélica Goudinho/Divulgação

Uma história de Brasil, mas universal 

“Nosso Sonho” pode não pagar uma dívida por completo, mas promete impactar públicos de diferentes gerações e trazer identificação. 

“Conta uma história muito forte, que é saborosa e por um lado densa também. Fala de uma família, amizade, fala de relações humanas, desse corre de todo dia. É a história do nosso país, da nossa cultura, a história do movimento [funk]. No fim das contas isso impacta todo mundo”, explica Edde. 

“Por acaso ainda tem nostalgia, temperos de uma boa música, uma batida incrível, uma boa fotografia, direção, direção de arte e uma boa produção. É um filme potente que não fala apenas do sucesso, mas fala de vida.”

Sem dar spoiler, o diretor pontua que o longa vai iluminar aspectos que não se conhecem da história do Claudinho e Buchecha. E, se definisse o filme em poucas palavras, seria “sobre o direito de sonhar no Brasil”. 

“Faz um convite à alegria como resistência, como mola propulsora para sobreviver num país como o nosso”, finaliza Eduardo.

Elenco de "Nosso Sonho"

O filme conta a trajetória dos músicos que conquistaram o Brasil com a poesia da periferia. O público também conhecerá como foram compostas algumas das canções que marcaram gerações e são emblemáticas na cena musical até hoje, como "Só Love", "Rap do Salgueiro", "Quero te Encontrar", "Fico Assim Sem Você", que serão relembradas nas vozes dos protagonistas Lucas Penteado e Juan Paiva, Claudinho e Buchecha, respectivamente.

Protagonismo negro no elenco de "Nosso Sonho"
Protagonismo negro no elenco de "Nosso Sonho"
Foto: Angélica Goudinho/Divulgação

No elenco se destacam Tatiana Tiburcio e Nando Cunha, que interpretam Dona Etelma e Souza, os pais do Buchecha; Lellê e Clara Moneke, que vivem Rosana e Vanessa, as namoradas dos músicos; e Vinicius "Boca de 09" e Gustavo Coelho, que fazem Claudinho e Buchecha na infância, respectivamente. 

A produção  ainda tem participações especiais de Antonio Pitanga, como Seu Américo, Isabela Garcia, como Dona Judite, Negão da BL como um DJ do baile, e FP do Trem Bala e Gabriel do Borel, como a dupla Cidinha e Doca, e ainda Flávia Souza e Reinaldo Júnior.

Oscar 2024

No dia 5 de setembro a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais divulgou os seis filmes pré-selecionados para concorrer à categoria de Melhor Filme Internacional na premiação do Oscar em 2024. “Nosso Sonho” está entre os destaques. 

Fonte: Visão do Corre
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