O que é e como surgiu o baile funk?
Desde 1980 os bailes de favela giram a economia nas quebradas e são pontos de cultura para jovens periféricos
Uma festa de rua, democrática, presente nas quebradas e favelas. É assim que o baile funk faz seu papel de divulgar a sonoridade da bateria eletrônica que se espalhou pelo mundo na década de 1980. Fazendo referência aos bailes black, as festas no rio foram as primeiras a ganhar destaque no Brasil.
De acordo com o Dicionário de Favelas, centenas de equipes de som organizavam festas por toda a cidade, reunindo milhares de pessoas. A equipe mais prestigiada era a que tivesse os equipamentos de som mais potentes e as melhores músicas.
Nos anos 1980, equipes de som como a Furacão 2000, Pipo’s, Cash Box e Soul Grandprix se consolidaram na cena e se popularizaram. Nas festas, até hoje, é comum ter o DJ, que toca o beat para animar o público, e o MC, que canta as letras estouradas nas caixas de som.
A maioria dos bailes rolava em clubes nos subúrbios da região metropolitana do Rio de Janeiro, mas também havia bailes em favelas e até mesmo em escolas públicas. Hoje, os bailes se espalharam pelas periferias e favelas brasileiras, em espaços ao ar livre.
O cenário de um baile é por vezes caótico e aglomerado, uma verdadeira explosão cultural. Nas vielas ou ruas onde acontecem, há ambulantes vendendo bebidas e diversas caixas de som (ou carros) que trazem variados subgêneros do funk.
Com muita criatividade, a moda e a dança também são um show à parte. O passinho do funk, ou o passinho do romano, por exemplo, dominam as ruas. São danças características do universo do funk.
Funk da Cidade de Deus
Nos anos 2000, as favelas do Rio de Janeiro foram o difusor do funk no Brasil. Uma favela foi especialmente importante neste período, a Cidade de Deus, localizada na zona oeste da cidade. De lá surgiram Tati Quebra-Barraco, Bonde do Tigrão e Bonde do Vinho.
Também foi na Cidade de Deus que o famoso tamborzão ecoou pela primeira vez. Embora não tenha sido o criador desta base rítmica, o DJ Duda foi o responsável por usar o tamborzão em diversos hits. A base marcante sintetiza a união entre os gêneros eletrônicos norte-americanos e traços da música afro-brasileira, presente nos bailes.
Mas apesar do protagonismo, o baile da Cidade de Deus era apenas um entre centenas. O baile do Buraco Quente (na Mangueira), Borel, Turano, Fazendinha (no Complexo do Alemão), Chatuba (no Complexo da Penha), Árvore Seca (no Lins), Cantagalo, Curva do S na Rocinha, entre outros, eram alguns dos mais conhecidos.
Na primeira década dos anos 2000 também se popularizaram as músicas que narram o universo da criminalidade, narrando as mazelas de um cotidiano violento, miséria, fome e precariedade de direitos em locais marginalizados.
Resistência e economia
Atualmente, o funk segue sendo uma resistência em muitas camadas. É a favela falando sobre si, para os seus. Além disso, os bailes de favela geram renda que é fonte de sustento para centenas de famílias de trabalhadores, entre MCs, técnicos de som e comerciantes.