O que moradores das periferias pensam sobre a greve do Metrô e CPTM?
Moradores dos extremos de São Paulo opinam sobre a greve de trabalhadores do transporte sobre trilhos e falam dos impactos na rotina
Os sindicatos dos metroviários e dos ferroviários de São Paulo estão em greve nesta terça-feira (3). A paralisação acontece para protestar contra as concessões, terceirizações e planos de privatizações propostas pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ao longo do dia, a operação de quatro linhas do Metrô e cinco da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) foram afetadas. O Visão do Corre conversou com moradores das periferias que dependem dos trens para chegar ao trabalho e a greve divide opiniões.
Daniel Lima da Silva, de Santo André
Morador de Santo André, Daniel Lima da Silva, 33, é técnico em instrumentação industrial e teve de fazer home office. “Mesmo sendo afetado, pois não pude ir para o trabalho, acho a greve completamente válida, pois o processo de privatização das linhas de trem e da Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo ] vai precarizar os serviços prestados à população”, diz.
Pamela Freitas, de Suzano
A atendente de telemarketing Pamela Freitas, 20, mora na divisa de duas estações da CPTM, Suzano e Calmon Viana, em Poá, na Grande São Paulo. De acordo com ela, “a greve é necessária, mas atrapalha por conta da locomoção”.
“Eu mesma, que trabalho em Mogi das Cruzes [na Grande São Paulo], necessito do trem ou EMTU [Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo], mas os ônibus estavam vindo de Guaianases lotados, impossíveis de entrar”, conta Pamela, sobre o impacto na rotina ao ir para o trabalho de manhã. No centro de Suzano os coletivos também estavam cheios.
Pedro Silva, de Parelheiros, extremo sul de São Paulo
“Acho a greve justa e necessária, uma vez que já temos evidências suficientes de que as concessões de serviços públicos essenciais para a iniciativa privada não dão certo. A linha 9–Esmeralda, concedida à Via Mobilidade, é a que mais utilizo e são raros os dias que apresenta funcionamento normal”, avalia o geógrafo Pedro Silva, 34.
“Já cheguei a ficar quase meia hora parado entre as estações Grajaú e Mendes-Vila Natal, sem nenhuma informação ou justificativa. Recentemente também levei 1h para andar quatro estações na lihha 5–Lilás [administrada pela Via Mobilidade].”
Para ele, a greve pode trazer melhores condições de trabalho para as categorias paralisadas, “o que reflete em uma melhor oferta de serviços para a população”. “Os funcionários das linhas concedidas possuem piores condições de trabalho, o que já rendeu, inclusive, mortes de trabalhadores”, pontua.
Alessandra Nascimento, de Ferraz de Vasconcelos
Por outro lado, a administradora de empresas Alessandra Nascimento, 25, comenta que a paralisação a impactou negativamente. “Cheguei no meu trabalho com atraso de 1h e com certeza há pessoas em situações piores que a minha, que não possuem uma chefia compreensiva.”
“Sou totalmente contra [a greve]. O debate é ideológico e politizado. Quem sai prejudicado por essas ações é o verdadeiro trabalhador que utiliza o transporte público diariamente e que em média demora entre 1h30 a 2h para fazer o trajeto casa/trabalho/casa e com toda essa situação, o tempo dobra.”
Daniela Bebiano, do Grajaú, zona sul de São Paulo
“A greve é válida. Isso quem está falando é uma pessoa que mora em uma região onde o trem foi concedido à iniciativa privada. Pelo menos duas vezes na semana tem transtorno. Elevadores, escadas rolantes não funcionam. Isso é o básico, sem contar as falhas constantes”, desabafa a analista de crédito Daniela Bebiano, 43.
Nesta terça-feira (3), ela conta que havia se preparado, por isso não teve problemas. “Transferi meus compromissos. Quanto à Sabesp, as comunidades, a periferia, sofre com a falta de água e quando tem, chega sem tratamento. É necessário ouvir a população. Privatização precariza e encarece o serviço, e só o povo paga.”
Alyne Abreu, de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo
A técnica de enfermagem Alyne Abreu, 35, se diz contra a paralisação, mas também não apoia a privatização das linhas. "A paralisação impacta diretamente no tratamento e sobrevida de pessoas em tratamentos contínuo ou específico, como hemodiálise ou quimioterapia, o que pode comprometer ou até colocar em risco a vida do paciente. Além disso, há a dificuldade dos trabalhadores de serviços essencias de chegarem ao trabalho e executarem com excelência suas atividades."
Sobre o plano de privatizações, ela não concorda, trazendo novamente os exemplos das linhas 8–Diamante e 9–Esmeralda, "as quais mais causam transtorno para os passageiros". "Fui trabalhar de táxi, a empresa disponibilizou, porém fiquei 5h dentro do carro devido ao trânsito. E a volta, Deus sabe...", relata.
Veja as linhas paralisadas:
Linha 1–Azul (Metrô)
Linha 2–Verde (Metrô)
Linha 3–Vermelha (Metrô)
Linha 15–Prata (Metrô)
Linha 10–Turquesa (CPTM)
Linha 12–Safira (CPTM)
Linha 13–Jade (CPTM)
Linhas em funcionamento:
Linha 4–Amarela (ViaQuatro)
Linha 5–Lilás (Via Mobilidade)
Linha 7–Rubi (CPTM): de Luz até Caieiras (operação parcial)
Linha 8–Diamante (Via Mobilidade)
Linha 9–Esmeralda (Via Mobilidade)
Linha 11–Coral (CPTM): Guaianases até Luz (operação parcial)