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Advogada brasileira defende imigrantes na Alemanha

Criada no subúrbio do Rio de Janeiro, Delaine Kühn é uma das primeiras advogadas brasileiras a exercer a função no país

13 jun 2023 - 15h04
(atualizado em 11/8/2023 às 13h12)
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Delaine Kühn saiu do subúrbio do Rio de Janeiro para advogar na Alemanha. Ela defende imigrantes e mulheres vítimas de violência
Delaine Kühn saiu do subúrbio do Rio de Janeiro para advogar na Alemanha. Ela defende imigrantes e mulheres vítimas de violência
Foto: Arquivo pessoal

Delaine Kühn, 41, nasceu no bairro Colégio, na periferia do Rio de Janeiro. Filha de pai militar e mãe pedagoga, a carioca sempre encontrou dentro de casa apoio para os estudos. Aos 17 anos, começou a cursar Direito na Universidade de Santa Úrsula. Formou-se. Nesse período, se apaixonou pelo alemão Robert Kühn. Após concluir o curso, Delaine aceitou o convite do marido e partiu para a Alemanha. 

A história da brasileira no país europeu começou em 2004, quando morou por quatro anos na Alemanha. Em sua primeira experiência, Delaine relembra que ainda não tinha a possibilidade de advogar devido ao processo de reconhecimento do diploma. No entanto, obstinada, ela buscou alternativas sobre como atuar no cenário internacional. Sua persistência a fez encontrar uma solução.

“Primeiramente, encontrei uma possibilidade de me tornar advogada portuguesa na Alemanha. A primeira coisa que fiz foi a minha inscrição em Portugal. Eu tinha conhecimento sobre as leis alemãs e o direito migratório”, conta.

Auxiliando imigrantes, não só brasileiras

Atualmente, Delaine acumula no currículo títulos de qualificação como advogada brasileira e portuguesa, além de ser inscrita como advogada alemã na Ordem dos Advogados de Celle, cidade localizada em território germânico.

Delaine Kühn diz que mulheres vítimas de violência temem fazer denúncias por medo
Delaine Kühn diz que mulheres vítimas de violência temem fazer denúncias por medo
Foto: Arquivo pessoal

A brasileira divide a rotina de advogada nos três escritórios que possui com a função de ativista dos direitos dos imigrantes. Delaine viu com os próprios olhos como muitos advogados deixavam a desejar no aconselhamento de pessoas vindas de outros países, com promessas de documentos e honorários extorsivos.

“Isso me despertou para o poder da minha história e de como eu poderia auxiliar os imigrantes, principalmente do meu país de origem, que não teriam como pagar por uma assistência jurídica”, conta.

Engajamento no combate à violência doméstica

Delaine também se tornou referência no trabalho de prevenção à violência doméstica na Alemanha. Engajada na causa, presta apoio às mulheres estrangeiras vítimas de abusos que recorrem à ONG Brasileiras em Perigo na Alemanha (BEP).

Integrante da equipe jurídica da associação, a advogada tem papel fundamental na orientação e prevenção de mulheres em situação vulnerável. Delaine recebe pessoas alemãs e da América Latina, inclusive brasileiras, vítimas de violência e abuso cometidos por seus companheiros.

Advogada com sua equipe da ONG Brasileiras em Perigo na Alemanha
Advogada com sua equipe da ONG Brasileiras em Perigo na Alemanha
Foto: Arquivo pessoal

“São histórias de partir o coração. Como a maioria das vítimas é imigrante, elas sentem-se perdidas na hora de procurar ajuda. E ainda existem casos em que as mulheres não denunciam com medo de perder o filho, a casa, serem deportadas. Por meio dessa associação, elas encontram auxílio, vão em busca de informações e de assistência jurídica para defender seus direitos”, relata Delaine.

Ela acrescenta ainda que a causa virou sua missão de vida. A brasileira ainda atua em casos de famílias em disputa de guarda internacional.

Vítimas chegam a tentar suicídio

As mulheres atendidas pela advogada brasileira foram expostas à violência patrimonial, psicológica, verbal e física. Segundo Delaine, assim como no Brasil, a demanda das vítimas encontra barreiras tanto para fazer a denúncia, como pela falta de estrutura para acolhimento emergencial por parte do Estado. Essas falhas ficam ainda mais evidentes em relação a mulheres estrangeiras.

“As mulheres são revitimizadas pela falta de estrutura do sistema que, quando vítimas da violência de gênero, chegam a um nível de desespero tão grande a ponto de tirarem a própria vida”, relata.

Necessidade de uma legislação sistêmica

Delaine considera a falta de apoio psicológico a falha número um. Ela conta que as vítimas de violência doméstica ou de gênero começam a se culpar, não acreditam que tenham direito de se sentirem vítimas, desprotegidas e merecedoras de atenção. Para elas, falta uma rede de apoio.

Delaine Kühn, advogada brasileira, constituiu família na Alemanha. Na foto, marido e filha
Delaine Kühn, advogada brasileira, constituiu família na Alemanha. Na foto, marido e filha
Foto: Arquivo pessoal

Segundo a advogada, “dentro da migração, a gente sabe que essa rede tem um tempo orgânico muito mais longo e mais difícil em relação ao contexto em que a pessoa nasceu. Além disso, tem a questão de como o Estado vê essa mulher migrante, e a impunidade dos agressores”, resume.

Delaine aponta o que falta para a legislação europeia ser mais eficaz: um pacote de políticas públicas que trabalhe da prevenção até o julgamento, sem esquecer a vítima e sua família. A violência nunca é um problema individual. “Do outro lado do Atlântico, luto, todos os dias, por uma reforma sistêmica para todas as mulheres, imigrantes ou não”, finaliza.

ANF
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