Afinal, qual é a quebrada onde nasceu Linn da Quebrada?
Artista criada no interior paulista é da região de Sapopemba, área de vulnerabilidade social no extremo leste da capital
Imigrantes nordestinos iniciaram a ocupação da Fazenda da Juta no final dos anos 1970. Luta por moradia atravessou décadas, teve morte de ativistas pela polícia militar e levou trinta anos para ser regularizada.
Quando Lina Pereira dos Santos nasceu, em 18 de julho de 1990, sua quebrada, a Fazenda da Juta, na zona leste de São Paulo, estava tensa: oito dias depois, cerca de duas mil famílias invadiram novamente a área exigindo desapropriação e implantação de um núcleo habitacional, noticiou a Folha de S. Paulo.
Imigrantes nordestinos cegaram ali no final da década de 1970. A antiga fazenda cultivava juta, vegetal usado na indústria têxtil. O problema de moradia vinha se agravando desde 1986, quando o prefeito Jânio Quadros declarou a utilidade pública da área – 780 famílias viviam na Fazenda da Juta.
As ocupações continuaram, como em 1988, quando 500 famílias tomaram o local. Somente em 2003 foi inaugurado o primeiro núcleo habitacional, e somente em 2016 houve a regularização fundiária, exatos 30 anos após a tentativa de legalização do ex-prefeito Jânio Quadros.
A Fazenda da Juta está na região da subprefeitura de Sapopemba, no extremo leste da capital paulista. A regularização fundiária formalizou cem quadras do território onde Linn da Quebrada nasceu.
Moradores eram enganados na compra de terrenos
A luta pela terra marca a Fazenda da Juta. Em 1997, no governo de Mário Covas, três sem-teto foram mortos em confronto com policiais militares em uma reintegração de posse – 410 famílias ocuparam um conjunto habitacional em construção.
O advogado Miguel Reis Afonso atuou desde o início dos conflitos pela posse de terra na Fazenda da Juta. “O antigo caseiro do proprietário alugava os terrenos para os moradores que – enganados porque pensavam que estavam comprando o lote – sofriam com ações de despejo”, conta.
A primeira linha de ônibus com ponto final na Fazenda da Juta veio no início dos anos 1980. Em dezembro de 2019, três estações do monotrilho (Linha 15-Prata) foram inauguradas na região: Sapopemba, Fazenda da Juta e São Mateus. O ano é emblemático para Linn da Quebrada.
Ela atuou na série Segunda Chamada, da Rede Globo, interpretando a travesti Natasha. Saiu o documentário sobre sua trajetória, Bixa Travesty, e Linn da Quebrada estreou como apresentadora do programa TransMissão, do Canal Brasil, primeiro talk show comandado por pessoa trans no país.
População, segundo o IBGE
Em 2016, quando houve a regularização fundiária da Fazenda da Juta, a prefeitura de São Paulo estimava a população local em 5 mil famílias.
O Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide a Fazenda da Juta e sua população em quatro áreas numeradas.
Fazenda Oratório, da Juta: 2.579
Fazenda da Juta III: 758
Fazenda da Juta Fazenda da Juta IV: 3.469
Fazenda da Juta V: 963
Total: 7.769