Amanda no Espectro: a jornada de uma comunicadora autista
Como o diagnóstico tardio da ex-integrante do Programa Pânico a levou a criar um novo podcast sobre neurodiversidade
Aos 36 anos, após duas décadas de terapia e tratamento e cinco anos à frente do podcast “Esquizofrenoias”, a jornalista Amanda Ramalho descobriu ter o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A descoberta resultou em um novo podcast, o “Amanda no Espectro”, lançado na última segunda-feira (24). Com 12 episódios, será um spin-off (espécie de produto derivado de algo já existente) do “Esquizofrenoias” e abordará a questão do diagnóstico tardio no espectro autista.
Em entrevista à Agência Mural, Amanda, que cresceu na região do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, conta como agora, após o novo diagnóstico, alguns episódios da infância e da adolescência começaram a fazer sentido para ela.
Ela recorda da infância, quando costumava sentar no muro de casa, esperando os amigos a chamarem para pintar a rua durante a Copa do Mundo. O que não acontecia.
“Ficava muito frustrada porque nunca participei disso. Eles não precisavam me chamar, eu morava ali, não tinha que ter um convite. Só que eu não entendo algumas regras sociais, e quando era criança entendia ainda menos”, relembra a ex-integrante do Programa Pânico.
No primeiro episódio do “Amanda no Espectro”, a apresentadora entrevistou a colorista Marina Amaral, também autista.
“Vai ser legal para as pessoas também se identificarem, se tem uma pessoa próxima que você não sabe lidar, abrir um campo a mais, porque da depressão e da ansiedade a gente já fala, mas da neurodiversidade não muito”, conta.
A jornalista usou uma metáfora feita pela médica há 20 anos para explicar como entendeu o autismo. “Ela falou que existiam duas árvores dentro de mim, a da ansiedade e a da depressão, que os galhos se interseccionam, que eu tinha sintomas dos dois. Isso ficou na minha cabeça. Quando descobri o espectro autista, vi que havia uma terceira árvore, a da neurodiversidade.”
A neurodiversidade é um conceito que valoriza a diversidade de funcionamento do cérebro humano. Isso significa que cada pessoa tem uma maneira única de pensar, sentir e interagir com o mundo, e que todas essas formas de funcionamento são importantes e válidas.
Amanda também lembra que, durante a adolescência, chorava frequentemente e, após o novo diagnóstico, entendeu que esse choro não era necessariamente uma tristeza, mas sim a dificuldade em processar uma grande quantidade de informações.
“Tratava como um sinal da depressão, mas era uma super carga de informação que eu não sabia lidar. Penso em tudo, gosto de ter uma noção de tudo que está acontecendo, o que vou falar, como vou falar. Só que, quando eu não sei, fico muito mal e choro. Parece que estou triste, mas só ‘pifei’.”
Não há dados oficiais sobre a quantidade de brasileiros no espectro autista. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que 1% da população mundial tenha autismo, o que equivaleria a cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil.