Ativista cria projeto para gestantes e pessoas trans no Morro do Juramento
Objetivo é o acompanhamento humanizado de mulheres no pré-parto, parto e pós-parto, evitando a violência obstétrica
Louise Monier, 39 anos, ativista do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, zona Norte do Rio de Janeiro, atua combatendo o racismo, a violência obstétrica e levando informações sobre gestação, parto e amamentação. Como se não bastasse tudo isso, ela criou, com a parceira de trabalho Keylla Moreira, o projeto Gerando no Juramento, para auxiliar gestantes e pessoas trans da comunidade.
O objetivo principal é garantir o direito de mulheres grávidas. O trabalho começou em maio com rodas de orientação. O Gerando no Juramento quer dar atenção ampla a gestantes e após o parto.
“Não é só educação perinatal que as pessoas querem, porque para botar isso em prática, é preciso ter outras necessidades supridas, como saber que se terá um absorvente pós-parto para usar. Não é só da informação que se precisa, mas também, ter arroz e feijão na panela”, resume Louise Monier.
Ela é doula e educadora perinatal desde 2028 e consultora em lactação desde 2019. Doula é a profissional que presta serviços de auxílio à gestação, parto e pós-parto. A consultoria em lactação orienta a amamentação.
A dupla que criou o Gerando no Juramento custeia com o próprio dinheiro kits de higiene pessoal e de recém-nascidos para sortear para duas famílias que estejam nas rodas de conversa do projeto. Os encontros acontecem em espaço cedido pela associação de moradores do Morro do Juramento e conta com o apoio do comércio local, que doa alimentos e fraldas.
Descobrir a doulagem liberta
Um dos motivos para Louise Monier ter entrado para a doulagem foi ter tido uma doula em seu primeiro parto, uma voluntária do projeto que hoje a ativista coordena na maternidade Herculano Pinheiro. Ela tinha uma rede de apoio, o que é raro. Trabalhava como caixa de supermercado e sabia que, quando chegasse em casa, teria comida feita pelo seu marido. Louise Monier foi a primeira mulher da família a proporcionar um quarto separado para a sua primeira filha.
Quando teve a oportunidade de ter uma doula auxiliando em seu parto, Louise sabia da existência da profissão e ficou muito feliz de ter sido contemplada pelo projeto de voluntariado. Na época, conheceu melhor a doulagem, quando começou a se questionar o porquê de todas as mulheres do mercado onde ela trabalhava terem seus filhos por cesariana.
Então descobriu que era porque utilizavam o plano de saúde oferecido pela empresa. Paralelamente, ficou sabendo, entre outras informações que a empoderaram, que as doulas ajudam a reduzir as taxas de cesáreas.
Batalhando em várias frentes pelos direitos das gestantes
A trajetória até o primeiro parto com doula foi cheio de aprendizado. Na primeira consulta, a médica do pré-natal informou que não fazia parto normal e iria deixar a cirurgia agendada. Mesmo assim, Louise descobriu que era possível parir no Sistema Único de Saúde (SUS) mesmo tendo a gestação acompanhada na rede privada.
E assim fez: resolveu dar à luz na maternidade onde as pessoas da sua família costumavam nascer. E lá teve a sorte de ser contemplada com o acompanhamento de uma doula. Desde então, Louise Monier se envolve cada vez mais com o parto humanizado, consequentemente lutando contra a violência obstétrica, quando gestantes passam por situações agressivas, vexatórias e são submetidas a procedimentos desnecessários.
Tornou-se ativista e atua em diversos grupos e projetos. Entre eles, atualmente é tesoureira da Associação de Doulas do Rio de Janeiro (ADoulas), além de coordenadora do projeto de voluntariado institucional de doulas no Hospital Maternidade Herculano Pinheiro, que fica em Madureira, no subúrbio do Rio. Também integra a Comissão Especial que Combate à Violência e o Racismo Obstétrico da Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro.
Doulas são fundamentais antes, durante e depois do parto
Louise Monier faz parte de uma tomada de consciência cada vez maior no Brasil, que envolve parto humanizado e o acompanhamento de doulas. Elas se mobilizam para serem contratadas pelas maternidades públicas. “Como mulher preta, mãe e favelada, eu considero de suma importância que todas as pessoas que gestam possam ter acesso aos benefícios que a Organização Mundial da Saúde recomenda, como a presença da doula tanto no pré-parto, parto e pós-parto”.
Um Projeto de Lei (3.946/2021) que visa a regulamentação da profissão de doula foi aprovado pelo Senado em maio deste ano e passará pela análise da Câmara dos Deputados.