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Ativista cria site que unifica serviços carcerários

Ideia é facilitar acesso de familiares à localização de detentos, carteira de visita e pedidos de auxílio, entre outros

28 mar 2024 - 08h25
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Resumo
Jota Carvalho Júnior, 31 anos, criou o site ComuniCárcere para facilitar o acesso de familiares a direitos e serviços. O site une informações de diversos endereços eletrônicos. Ele também está trabalhando para levar o site a outros estados do Brasil.
Lançamento oficial da plataforma ComuniCárcere na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com integrantes do Eu sou Eu, de sobreviventes do sistema prisional
Lançamento oficial da plataforma ComuniCárcere na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com integrantes do Eu sou Eu, de sobreviventes do sistema prisional
Foto: Arquivo pessoal

Após passar pelo sistema prisional do Rio de Janeiro, Jota Carvalho Júnior, 31 anos, criou o site ComuniCárcere, para unificar e facilitar o acesso de familiares a direitos e serviços que já existem, mas são de difícil acesso e estão espalhados em diversos endereços eletrônicos.

O site está no ar há três meses. Com visual simples, os ícones são links diretos para localizar uma pessoa reclusa no sistema prisional, para instruções de como fazer carteira de visita, obter auxílio reclusão, os serviços mais acessados. “Nem eu sabia que ia chamar tanta a atenção. É uma plataforma super simples. As instituições já existem, eu só linko com elas”, diz Júnior.

Atendimento psicológico, assistência social, ouvidoria, defensoria, entre outras necessidades de familiares também estão reunidas no site ComuniCárcere. “Agora você imagina uma tia que passou a vida toda usando orelhão procurando isso no Google”.

Com o site no ar, Jota Carvalho Júnior não ficou esperando o mundo virtual resolver tudo sozinho. Foi à rua, acionou associações de moradores do Turano, Tijuca, Maré, Rocinha. E está trabalhando em versões do site para outros estados, como São Paulo, Bahia e Ceará.

Segundo o ativista, “existem estados no Nordeste que, para localizar alguém detido, tem que telefonar, ir pessoalmente, se identificar, ser familiar. Se for amigo, não passa informação”.

Necessidade de comunicar

O ativista é técnico em informática, formado pelo Senac. Trabalhou em empresas de médio e grande porte no Rio de Janeiro. Tem oito anos de carteira assinada. Mesmo assim, às vezes precisa do trabalho de alguém mais especializado.

No momento, está em busca de R$ 11 mil reais para concluir a ampliação da plataforma. Precisa fazer um CNPJ, além de conseguir acesso ao sistema prisional, para chegar diretamente às famílias. Dificuldades econômicas e burocráticas não são novidade para quem sobreviveu aos presídios brasileiros.

À frente, Jota Carvalho Júnior com amigos que conheceu no sistema prisional no lançamento do ComuniCárcere. São integrantes do Instituto Sobreviventes
À frente, Jota Carvalho Júnior com amigos que conheceu no sistema prisional no lançamento do ComuniCárcere. São integrantes do Instituto Sobreviventes
Foto: Arquivo pessoal

Quando era interno, Júnior e outros parceiros conseguiram livros para todos os detentos. A leitura e produção de resenhas desconta dias de pena, mas em Bangu 6, em 2017, os livros só chegavam a quem estava matriculado na escola do presídio. Os outros presos estavam excluídos, mas passaram a ter acesso.

“Foi no diálogo, sem aquela imagem agressiva de camiseta na cara. Conversamos e conseguimos”, conta o ativista. Um dos maiores aprendizados da prisão foi justamente aprender a se comunicar. E convencer.

O aprendizado da cadeia

Jota Carvalho Junior esteve preso durante quatro anos e quatro meses, mas soube tirar o melhor da experiência. Passou por presídios federais e estaduais. Trabalhou, estudou. Teve suporte atrás das grades e, do lado de fora, apoio da família “de uma maneira que eu não esperava”.

As rodas de conversa foram decisivas para sobrevivência no sistema carcerário e para os projetos que faz agora. Habilidoso na argumentação, diferencia criminoso de quem cometeu um erro e rodou. “O sistema está cheio de pessoas que cometem um erro, não levantam bandeira de facção, cometeram deslizes”, diz.

As saídas temporárias também foram fundamentais. Ele aproveitava essas oportunidades na rua para aprender, se informar, fazer contatos e ir projetando o site ComuniCárcere. Saiu cinco vezes e voltou. Na sexta, conquistou a liberdade. “Agora estão querendo acabar com a saidinha. Através desse benefício, pessoas como eu não terão mais as oportunidades que eu tive”.

Fonte: Visão do Corre
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