Carnavalescos são contra “cidade provisória” em Porto Alegre
Ela seria construída no Porto Seco, onde existem barracões de escolas de samba. Representantes alegam falta de estrutura
A possibilidade de instalação de uma “cidade provisória” era discutida internamente na prefeitura de Porto Alegre, mas vazou para a imprensa. O acampamento seria construído no Porto Seco, onde estão instaladas escolas de samba. A posição contrária dos carnavalescos foi comunicada ao prefeito Sebastião Melo (MDB) no último sábado, 18 de maio. Ele teria se comprometido a priorizar outros locais.
Representantes de escolas de samba instaladas no Porto Seco, na periferia da zona norte de Porto Alegre, são contra a instalação do que está sendo chamado de “cidade provisória”, que abrigaria dez mil pessoas. Eles alegam falta de estrutura e de segurança.
A posição foi comunicada ao prefeito Sebastião Melo (MDB) no último sábado, 18 de maio, em reunião com integrantes de grupos carnavalescos. O prefeito teria prometido que a área não seria prioritária, embora não descarte a possibilidade.
A assessoria do prefeito não confirma a mudança de prioridade, conforme alegam carnavalescos presentes à reunião. “Esse assunto está em debate. O governo está estudando várias alternativas e, tão logo tenhamos definição, será amplamente comunicado. Por ora, são possibilidades”.
Segundo o vice-presidente da União das Escolas de Samba de Porto Alegre (Uespa), André Nunes, “aqui seria o último lugar que o prefeito procuraria. A gente acredita que nossa mobilização foi uma vitória”.
Manifestação coletiva
“O local não é apropriado em função do frio, da falta de luz, de água, de segurança. A gente acha que as pessoas estão passando por problemas, e colocar aqui em barraquinhas não é a melhor coisa do mundo”, diz Kelly Ramos, presidente da União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre (UECGAPA).
Segundo André Nunes, da Uespa, “não fomos consultados. Chegaram aqui para fazer uma vistoria sem a gente saber. Parece que não estávamos fazendo nada, que não queríamos acolher as pessoas”. O Porto Seco é local de coleta e distribuição de doações. Quem não pode buscar, recebe em casa em locais como Sarandi, Santa Rosa, Cohab e Nazaré.
“As pessoas não têm nem como buscar. Tem desabrigados, e os atingidos indiretamente, que não conseguem trabalhar, gente que trabalha no comércio, e mesmo autônomos, como cabeleireiros”, descreve Nunes.
O que é o Porto Seco?
Localizado no bairro Rubem Berta, zona norte e periférica, o Porto Seco tem vinte anos. No local estão instalados 15 barracões de escolas de samba e a pista de desfiles, onde é realizado o Carnaval de Porto Alegre. O complexo é patrimônio cultural estadual.
Há um descampado, onde seriam instaladas barracas para dez mil pessoas. Além da falta de estrutura, como esgoto, que só existe para os barracões, há o frio e a presença de facções criminosas no entorno – Bala na Cara, Antibala e Mano são algumas delas.
Existem outras dificuldades, como transporte público escasso. Carros de aplicativos dificilmente aceitam corridas para o local. “Não teria como implementar uma cidade aqui”, diz André Nunes.
Dez escolas de samba estão com barracões abertos para o socorro às vítimas. Além deles, um está ocupado com animais, outro serve de local para distribuição e coleta, três são depósitos. Um poderia virar abrigo. Nele caberiam 300 pessoas, mas precisa instalar infraestrutura.
Quem falou em “cidade provisória”?
A possibilidade de instalação de uma “cidade provisória” era discutida internamente na prefeitura de Porto Alegre, mas acabou vazando para a imprensa.
Um dos motivos da urgência em realocar desabrigados é a necessidade das escolas, onde estão acolhidos, voltarem a funcionar.
Na reunião com o prefeito, carnavalescos sugeriram a ocupação de prédios desocupados em Porto Alegre. Kelly Ramos listou alguns, como o edifício vazio do INSS, com vinte andares, no centro.
Citou ainda o antigo hospital Parque Belém Velho e o Amparo Santa Cruz, locais que têm quartos e banheiros. Outra possibilidade seria a Casa dos Brigadianos, além do Centro Vida.