Entenda o significado de “Jack”, que Marçal usou contra Datena
Antes de dar uma cadeirada no adversário, candidato a prefeito ouviu gíria ofensiva, que tem origem nas cadeias
“Jack” é alguém odiado nas prisões brasileiras, pelo tipo de crime cometido. A palavra tem origem em personagem real, um assassino em série que atuou em Londres no final do século 19. Ele matava mulheres e retirava suas tripas.
“Até Jack, tem quem passa um pano”, cantam Racionais MCs.
A gíria “Jack” aparece em músicas, está na boca dos manos, sobretudo nas cadeias, e chegou à política, no debate da TV Cultura para prefeitura de São Paulo.
Antes de tomar uma cadeirada, Pablo Marçal (PRTB) chamou José Luiz Datena (PSDB) de “Jack”.
A palavra, um nome próprio, com maiúscula, virou sinônimo de “estuprador” por causa de Jack, o Estripador, que cometeu assassinatos em série na Londres do século 19.
Estripar é retirar as tripas. O assassino inglês, nunca descoberto, costumava matar mulheres e retirar as vísceras. Ele as estripava.
Estuprar é diferente, significa cometer um crime sexual. Mas estuprar passou a ser confundido com estripar e, sobretudo nas cadeias, Jack é estuprador, tipo odiado e geralmente excluído do convívio com outros presos.
Datena, que ficou famoso mostrando crimes, sabe muito bem o significado de “Jack”. Quando deu a cadeirada, que poderia ter sido fatal, provavelmente estava fermentando um ódio mortal desde o começo do debate.
A explicação é incompleta se deixarmos de notar o seguinte: trocar “estripador” por “estuprador” não é necessariamente um erro, uma evidência de analfabetismo. A língua se transforma socialmente, nos seus criativos e inevitáveis usos.
O destino de palavras “erradas” é serem incorporadas pelo vocabulário mais amplo, como pode acontecer com “Jack”.
Se bem que a imagem da cadeirada voando ofusca qualquer discussão linguística.