Escritor e quadrinista de Salvador criam campanha para lançar HQ
Estados Unidos da África atingiu metade da meta de arrecadação
O escritor Anderson Shon (34) e o quadrinista Daniel César (40), ambos moradores da periferia de Salvador, lançaram uma campanha na internet com o objetivo de editar e publicar a história em quadrinhos (HQ) Estados Unidos da África. Em processo de financiamento coletivo pelo Cartarse, a dupla precisa arrecadar em torno de R$ 25 mil reais.
A ideia começou através de um romance criado por Shon. Ao terminar de escrever um livro só com palavras, entendeu ter criado um argumento para quadrinhos. Decidiu guardar o projeto.
Inicialmente concebida em prosa, a história ganhou agora nova roupagem com a entrada do quadrinista César. Agora, é uma HQ com imagens e textos.
“Eu sempre fui nerd e viver toda uma vida sem ser representado nas narrativas que eu mais apreciava construiu em mim a vontade de criar o meu próprio herói”, conta Shon.
Enredo
A HQ conta a história de Rei Bantu, homem camaronês que ganha poderes de forma inusitada e, então, unifica o continente africano. Mas ele percebe que não dá para matar a fome com raios saindo dos olhos e, por conta disso, começa a extrapolar seus poderes.
Rei Bantu precisará lidar com o ódio e preconceito para manter a hegemonia dos Estados Unidos da África, pois negros no poder não são bem-vistos por outros governos.
A história do Rei Bantu não é apenas mais uma HQ. Ela evidencia aspectos invisibilizados ou nunca representados em histórias em quadrinhos. Apresenta temas como racismo, equidade e coloca no centro um super-herói negro.
“Um herói americano luta contra o crime e os criminosos. Mas um herói brasileiro ou de países africanos, o inimigo dele não é o ladrão da rua, o mal lá é outro, o mal é toda a construção social daquele país. O vilão não é o ladrãozinho de esquina, é o sistema”, conta o quadrinista César.
Além dos clichês
Shon e Daniel constroem um personagem falível. Ninguém tão poderoso seria tão perfeito. Essas nuances promovem reflexão muito importante para o debate sobre como o mundo é pluralizado. E de como isso é bom, apesar de muita gente ainda não ter percebido.
“Há um abismo entre negros e a naturalidade de suas existências no mundo ficcional. Infelizmente, para chegarmos no dia em que um negro não falará sobre racismo, precisaremos tocar muito no assunto e, mais que isso, combatê-lo”, diz Shon.
Segundo ele, “o Rei Bantu é o ser mais poderoso do planeta, é o criador dos Estados Unidos da África, é o homem que carregará a luta pela equidade. Esse quadrinho é a narrativa mais real dentro de uma ficção possível”.
O escritor ainda comenta a importância de produções representativas, como a do filme Pantera Negra. “Nós vimos o poder da representatividade com o filme do Pantera Negra e, de forma mega ambiciosa, queremos fazer o mesmo com Estados Unidos da África. Afinal, uma pessoa é do tamanho do seu sonho”, conclui Shon.
Serviço
Para aqueles que têm interesse em apoiar o projeto, ajudando a espalhar as palavra do Rei Bantu, a campanha estará no ar até o dia 19 de janeiro de 2023.
Link da campanha: https://www.catarse.me/estadosunidosdaafrica