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Jovens chegam a ganhar R$ 8 mil por mês para ir em baladas

Mulheres das periferias de São Paulo vão a eventos para fazer a divulgação de casas de shows

9 set 2022 - 17h34
(atualizado às 17h38)
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Giovanna Paiva
Giovanna Paiva
Foto: Reprodução/Instagram

“Hoje eu consigo me manter bem. Consigo ajudar em casa, manter minha família, consigo fazer o que quero. Não passo vontade com nada. Já cheguei a ganhar R$ 500 para ficar 30 minutos a mais em uma balada. Eu levo isso como um emprego sério também”, diz Giovanna Paiva, 18, que também trabalha com marketing digital, como modelo fotográfica, e tem de conciliar seus empregos com sua nova profissão: presença vip. 

Ela conta que começou a trabalhar no ramo a partir de divulgações de eventos e baladas em seu Instagram, durante o período de pandemia da covid-19, quando recebeu a primeira proposta para estar en um evento presencialmente. Além de Giovanna, o Visão do Corre ouviu mais duas jovens meninas de periferias que atuam como presenças vips em baladas em diferentes regiões de São Paulo. Em média, as jovens chegam a ganhar até R$ 8 mil por mês com suas presenças em eventos. 

Cria do Grajaú, periferia do extremo sul da capital paulista, onde mora com sua mãe, irmão e cunhada, Giovanna conta que o trabalho das presenças vips já existia em baladas mais requisitadas de São Paulo, em regiões nobres, mas que ficou ainda mais reconhecido nos últimos anos, pela visibilidade de espaços que querem atrair diversos públicos.

“Hoje, o meu trabalho de presença custa R$ 120. Mas varia muito de balada, de perfil das meninas. Chegam a pagar entre R$ 100 e R$ 250, além de comissões por vendas de camarotes e bebidas, que a gente ganha um percentual. Uma profissão que ajuda muitas jovens de periferias a terem a sua independência financeira. Conheço muitas que deixaram o emprego fixo para viver só disso”, relatou a jovem. 

Stephany Santos
Stephany Santos
Foto: Reprodução/Instagram

Stephany Santos, 29, é mãe de um menino de 12, chamado Miguel. Formada em marketing, ela já atuou como gerente de projetos, dançarina e presença vip quando vivia na zona leste de São Paulo. Atualmente ela mora na Turquia, com bailarinos de uma companhia de dança em que trabalha, que são de outros três países: Argentina, México e Colômbia. 

Ela relata que, no início, os convites para fazer presença vip eram variados. Então, ainda muito nova, ela viu uma oportunidade de estar em lugares inacessíveis para se divertir. Logo depois, surgiram os primeiros pagamentos, que, segundo ela, eram R$ 50. 

“Eu sempre dancei nas presenças, e assim acabava chamando a atenção de outros contratantes. Antes de sair do Brasil, era o dinheiro da presença vip que sustentava minha casa. Eu morava sozinha, com meu filho, então precisava me manter”, disse Stephany, que também é passista de uma escola de samba de São Paulo.  

Carla (nome fictício) tem 23 anos, mora com o seu filho, de três anos, e já foi casada por cinco anos. Cria de Osasco, ela tem feito presenças vips em baladas em todo Estado de São Paulo, com uma renda diária de até R$ 250.  

“Faço presença desde os meus 18 anos, quando ainda era casada, e quando trabalhava em um supermercado. Meu ex-marido não reclamava, até ele ficar desempregado, e eu ter de fazer mais presenças para complementar a renda em casa e sustentar nosso filho”, revelou Carla*

A jovem de Osasco disse que, em 5 anos como presença, conseguiu tirar sua habilitação, conseguiu colocar o filho em uma escola particular, e hoje mora em um apertamento que o aluguel custa cerca de R$ 1.300 por mês. “Como estou sem um emprego de carteira assinada, estou levando isso como minha profissão. E é, por enquanto. Independente de qualquer coisa, estou ganhando meu dinheiro e colocando o pão e o leite do meu filho na mesa”, relatou ela. 

Preconceito

Do lado leste ao sul de São Paulo, de uma balada e outra, as presenças vips chegam a receber calotes e até pagamentos inusitados, incluindo viagens, joias, comidas e bebidas. Por causa disso, as jovens relatam que ainda sofrem com o preconceito, e dizem que tentam lidar com isso com naturalidade. 

“Ainda existe muito preconceito, principalmente na forma que algumas meninas se vestem. Eu, particularmente, já sofri na pele com homens que me relaciono. Eles não aceitam ou enxergam isso de forma pejorativa. Acontece com outras também, eles não levam as meninas a sério. Mas fora dali, elas também têm uma vida, há algumas que sustentam famílias, que sustentam filhos com a renda da presença vip”, comentou Giovanna. 

Para ela, a visibilidade e o comportamento de uma presença vip pode abrir novas portas para outros projetos. “Há meninas que hoje trabalham só com o Instagram, através da presença. Um ramo de muitos contatos. Há algumas que não têm uma boa conduta, poucas, mas uma postura legal pode ajudar a acabar um pouco que esse preconceito que ainda existe. 

Já para Stephany, agir com naturalidade é uma boa estratégia diante do preconceito. “Nunca dei espaço para as pessoas crescerem seus discursos preconceituosos comigo. Sempre fui incisiva. A maioria do tempo até bem humorada. Logo o preconceito virava curiosidade: ‘mas o que você faz lá?’ e ‘mas você tem que ficar com os homens nos camarotes?’ e ‘e o assédio, não é pesado?’”, relatou ela. 

Stephany também diz que a presença vip pode escolher o ambiente em que ela quer atrelar à sua imagem. “Depois de um tempo a gente aprende que nem todo lugar é para gente. Haviam festas que eu não fazia porque não queria minha imagem ligada ao local ou ao tipo de festa que ia rolar”. 

Carla* se sente uma prova viva do preconceito. Segundo ela, além de seu ex-esposo, sua família não reconhece seu trabalho. “Já disseram que eu sou garota de programa, e mesmo que fosse, seria uma profissão como qualquer outra. Mas estou trabalhando, conhecendo lugares, fazendo novas amizades, e, o principal: ganhando meu dinheiro honestamente”. 

Fonte: Visão do Corre
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