Mães são as primeiras com nomes nos registros das filhas em MG
Certidões de nascimento de meninas adotadas têm os nomes do casal de mães de Uberlândia. São as primeiras da cidade
Há dez anos, um casal formado por duas mulheres de um conjunto habitacional de Uberlândia (MG) tornou-se o primeiro a ter seus nomes na certidão de nascimento das filhas adotadas. A criança chegou para a nova família exatamente nove meses depois do início do processo. A adoção da segunda filha também é cheia de coincidências, como um Dia das Mães no aniversário de uma delas.
“Nossa vida é normal, de trabalhar, tentar manter as meninas, educar da melhor forma, levar para a escola e buscar. De vez em quando, elas discutem, igual todo mundo”. Se o cotidiano da família formada por um casal de mulheres de Uberlândia é comum, há pelo menos uma diferença: elas são as primeiras na cidade a terem os nomes nas certidões de nascimento das filhas adotadas.
Nos documentos das meninas não há distinção de filiação paterna e materna, mas simplesmente “filiação”, com os nomes de Andrea Rocha Alves e Maria Luciene Simão, autora da declaração que abre esta história. A conquista está completando dez anos.
As adoções do casal começaram quando elas moravam no bairro Luizote de Freitas III, um dos conjuntos habitacionais inaugurados há 43 anos na zona oeste de Uberlândia (MG). Andrea e Luciene tinham vontade de adotar. Andrea tinha tentado anteriormente, mas desistiu para cuidar da mãe doente.
Como gestação, adoção em nove meses
Em 2013, o casal deu início à papelada de adoção. “Passaram-se nove meses certinho, quando recebi a ligação. O telefone tocou, era do Fórum, avisando que havia uma criança para adoção. Eu perguntei se podia buscar na mesma hora”. Era final de ano, e os trabalhos do Judiciário entram em recesso.
O casal aproveita para decorar o quarto da filha que viria. Em janeiro de 2014, com a volta das atividades no Fórum de Uberlândia, começaram as entrevistas e as visitas à criança. “Quando pegamos ela, estava com dois anos e sete meses”.
A criança veio para a nova casa na sexta-feira antes do Carnaval de 2014. “Quase briguei no Fórum, porque no Carnaval, fechava o abrigo, eu queria pegar antes”, conta Luciene.
Duas mães na certidão de nascimento
Até fazer os novos documentos da filha adotada, o casal de Uberlândia não pensava em colocar seus nomes na Certidão de Nascimento e demais documentos de Yanne Rocha Alves Simão. “No começo, eu nem sabia que podia ser no nome das duas”, diz Luciene.
No cartório, descobriram não só que poderiam constar como mães, as duas, como também souberam que seria o primeiro caso na cidade, considerando casais femininos e masculinos. Sem titubear, realizam o gesto pioneiro em Uberlândia. A filha adotada, uma criança negra, tem 12 anos.
Letra inicial do nome, sinal definitivo
Em 2016, Luciene conversava por telefone com uma instituição de adoção. Comentou, de passagem, o desejo de adotar a segunda criança e, do outro lado da linha, alguém anotou seus dados. No outro dia, informaram que havia alguém com o perfil desejado pelas mães, na cidade de Unaí (MG).
A criança tinha sete anos e o processo de adoção precisava ser agilizado. “Quando a assistente social começou a passar os dados da criança, falou que era Yasmin, o nome começa com y, igual ao da nossa primeira filha. Eu me arrepiei toda e falei ‘é minha filha’”, conta Luciene.
O casal de mães e a primeira filha adotada foram de carro, numa viagem confusa e cansativa, conhecer aquela que seria a quarta componente da família. Chegaram ao abrigo com 22 crianças, mas Yasmin dormia.
Dia das mães junto com aniversário
“Ficamos brincando com as outras crianças. Eu estava de costas e escutei uma funcionária falando ‘Yasmin, senta aqui’. Quando eu virei, vi que ela parecia demais com sobrinha da Andrea, minha esposa. Não precisava de mais nada. Era para ficar uma hora no abrigo, acabamos ficando três”, lembra Luciene.
O casal foi três vezes a Unaí. Em maio de 2016, uma ocasião especial. Passaram o dia das mães juntas e era aniversário de Luciene. Nascida em 8 de maio, as datas coincidiram. Por falar em dia das mães, como será a comemoração das quatro mulheres neste ano?
“Vamos ficar em casa, não faremos nada de especial, só um almoço melhorzinho”, diz Luciene, modestamente mineira.