Milícias lucram mais que investimento estadual em áreas sociais no RJ
Na zona oeste e Baixada Fluminense, onde vive a população negra e favelada, milicianos ganharam R$ 3,6 bilhões
Milícias atuam no comércio, de postos de gasolina a venda de gelo, em estabelecimentos legalizados. Entre os negócios informais, estão falsificação de diversos produtos, como cosméticos. Há até cobrança, via carnê, para permitir o atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
As milícias que atuam na Baixada Fluminense e na zona oeste do Rio de Janeiro lucraram R$ 3,6 bilhões anuais, sem incluir o comércio de armas e drogas. O valor é maior do que o governo estadual pretende investir em políticas de assistência social, direito humanos, cultura e habitação no próximo ano.
O levantamento da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial) identificou seis áreas de atuação das milícias em negócios legais, a maioria comércio, representando 52%. São lojas de artigos infantis, postos de gasolinas, restaurantes, lanchonetes. Milícias controlam até a venda de gelo.
O fornecimento de internet, tradicionalmente controlado por milícias, se expande. Outro ramo forte de atuação são as empresas de segurança. Foram identificadas 110, mas 70% delas não têm autorização da Polícia Federal.
Setor de serviços corresponde a 28%
Água, energia elétrica e entretenimento estão nas mãos de milicianos. “Identificamos uma série de denúncias de apagões para forçar moradores a pagar taxas para ter acesso à energia e também à manutenção do serviço feito exclusivamente por fornecedores comandados por essas frações de milícias”, afirma o relatório.
Segundo o documento, existe um carnê de pagamentos para permitir consultas médicas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Milicianos também atuam em plataformas de apostas de jogos esportivos, casas noturnas e entretenimento adulto.
Negócios informais
O mapeamento identificou 17 atividades econômicas informais dominadas pelas milícias, que vão de extorsão, jogos de azar, falsificações, comércio informal, clínicas de aborto a locais de prostituição.
As milícias estão aumentando sua participação no comércio internacional, com a ampla importação de produtos falsificados, compra de materiais eletrônicos e tecnológicos. Investem ainda em tráfico de pessoas e órgãos humanos.
No ramo de falsificação, além da tradicional comercialização cigarros e bebidas, as milícias falsificam vestuário e cosméticos. Produtos como álcool em gel, xampus e cremes para cabelos são vendidos para salões de beleza da capital, Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo. O faturamento mensal desses produtos chega a R$ 1,2 milhão.
Regularização fundiária
Entre 2021 e março de 2024 foram protocolados 74 pedidos de regularização fundiária, 89% na zona oeste. As indicações foram feitas por apenas cinco parlamentares da Assembleia Legislativa e, entre eles, dois se destacam: Jorge Felippe Neto (Avante) e Brazão (União).
Eles fizeram, respectivamente, 36 e 30 das indicações legislativas. Brazão ainda possui coautoria em mais dois projetos. Segundo o relatório, a atividade parlamentar “está sendo desvirtuada com o propósito de promover grilagem e expansão dos negócios comerciais e de prestação de serviços das milícias”.