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Milícias lucram mais que investimento estadual em áreas sociais no RJ

Na zona oeste e Baixada Fluminense, onde vive a população negra e favelada, milicianos ganharam R$ 3,6 bilhões

7 nov 2024 - 08h10
(atualizado às 08h15)
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Resumo
Milícias atuam no comércio, de postos de gasolina a venda de gelo, em estabelecimentos legalizados. Entre os negócios informais, estão falsificação de diversos produtos, como cosméticos. Há até cobrança, via carnê, para permitir o atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Baixada Fluminense é área de atuação forte das milícias, que estão tomando conta do comércio e dos serviços.
Baixada Fluminense é área de atuação forte das milícias, que estão tomando conta do comércio e dos serviços.
Foto: Tania Rego/AB

As milícias que atuam na Baixada Fluminense e na zona oeste do Rio de Janeiro lucraram R$ 3,6 bilhões anuais, sem incluir o comércio de armas e drogas. O valor é maior do que o governo estadual pretende investir em políticas de assistência social, direito humanos, cultura e habitação no próximo ano.

O levantamento da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial) identificou seis áreas de atuação das milícias em negócios legais, a maioria comércio, representando 52%. São lojas de artigos infantis, postos de gasolinas, restaurantes, lanchonetes. Milícias controlam até a venda de gelo.

O fornecimento de internet, tradicionalmente controlado por milícias, se expande. Outro ramo forte de atuação são as empresas de segurança. Foram identificadas 110, mas 70% delas não têm autorização da Polícia Federal.

O setor de construção civil tem ampla participação de milicianos, desde regularização fundiária até empresas de terraplanagem e construtoras.
O setor de construção civil tem ampla participação de milicianos, desde regularização fundiária até empresas de terraplanagem e construtoras.
Foto: Tânia Rego

Setor de serviços corresponde a 28%

Água, energia elétrica e entretenimento estão nas mãos de milicianos. “Identificamos uma série de denúncias de apagões para forçar moradores a pagar taxas para ter acesso à energia e também à manutenção do serviço feito exclusivamente por fornecedores comandados por essas frações de milícias”, afirma o relatório.

Segundo o documento, existe um carnê de pagamentos para permitir consultas médicas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Milicianos também atuam em plataformas de apostas de jogos esportivos, casas noturnas e entretenimento adulto.

Negócios informais

O mapeamento identificou 17 atividades econômicas informais dominadas pelas milícias, que vão de extorsão, jogos de azar, falsificações, comércio informal, clínicas de aborto a locais de prostituição.

Estimativas de lucratividade das milícias na zona oeste do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, por tipo de atividade.
Estimativas de lucratividade das milícias na zona oeste do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, por tipo de atividade.
Foto: IDMJRacial

As milícias estão aumentando sua participação no comércio internacional, com a ampla importação de produtos falsificados, compra de materiais eletrônicos e tecnológicos. Investem ainda em tráfico de pessoas e órgãos humanos.

No ramo de falsificação, além da tradicional comercialização cigarros e bebidas, as milícias falsificam vestuário e cosméticos. Produtos como álcool em gel, xampus e cremes para cabelos são vendidos para salões de beleza da capital, Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo. O faturamento mensal desses produtos chega a R$ 1,2 milhão.

Regularização fundiária

Jorge Felippe Neto (Avante) apresentou 36 pedidos de regularização fundiária, e Brazão (União), 30. Juntos, fizeram 96% dos pedidos.
Jorge Felippe Neto (Avante) apresentou 36 pedidos de regularização fundiária, e Brazão (União), 30. Juntos, fizeram 96% dos pedidos.
Foto: IDMJRacial

Entre 2021 e março de 2024 foram protocolados 74 pedidos de regularização fundiária, 89% na zona oeste. As indicações foram feitas por apenas cinco parlamentares da Assembleia Legislativa e, entre eles, dois se destacam: Jorge Felippe Neto (Avante) e Brazão (União).

Eles fizeram, respectivamente, 36 e 30 das indicações legislativas. Brazão ainda possui coautoria em mais dois projetos. Segundo o relatório, a atividade parlamentar “está sendo desvirtuada com o propósito de promover grilagem e expansão dos negócios comerciais e de prestação de serviços das milícias”.

Fonte: Visão do Corre
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