Na eleição para a Prefeitura de São Paulo, a favela venceu?
Principais candidatas e candidatos disputam o posto de representantes legítimos da periferia como nunca fizeram antes
Eleições 2024: há quem nasceu na quebrada, mora ou morou nela, e conhece seus problemas profundamente. Descobriu-se a periferia. Seria de se imaginar que estamos garantidos. Será?
Em campanhas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo, as promessas e visitas às periferias sempre aconteceram, o que era motivo de desconfiança, pois os políticos “só aparecem em época de eleição”.
Mas, em 2024, mudou: um dos principais temas da campanha, senão o principal, foi a associação com as quebradas. Candidatas e candidatos podem ser muito diferentes dependendo de quem se compara, mas todas e todos são da periferia, e se não são, prometem lutar por ela.
Há quem nasceu na quebrada, mora ou morou nela, e conhece seus problemas profundamente. Descobriu-se a periferia. Seria de se imaginar que estamos garantidos. O problema é que só saberemos o quão verdadeiras são as propostas no final do próximo mandato.
Daqui quatro anos, se a memória ajudar, quem está aí no fundão poderá conferir. Mas e agora, às portas da eleição, como fazer? Eu gostaria muito, muito mesmo, de ter uma resposta certeira, definitiva, uma receita, mas soaria como falsa promessa de campanha.
Esse é o nosso maior problema: como saber se, desta vez, a favela venceu? Não tem como saber. É angustiante. Se nesta eleição continuássemos como coadjuvantes, seria até mais fácil, seria a continuidade histórica, mas na posição de protagonistas, complica tudo.
Complica porque, ao invés de alívio, aumenta a desconfiança, o que é péssimo para a democracia, para a política, para o futuro da cidade. Quando o milagre é demais, o santo desconfia.
Talvez o único saldo positivo seja o seguinte: no final do próximo mandato, se a vida na periferia não melhorar, você foi enganado. E saberá exatamente por quem.