Ocupação de moradia em Curitiba atua na proteção aos animais
De acordo com o levantamento dos próprios moradores da ocupação na capital paranaense, cada família tem um ou mais animais de estimação
“Eu coloco um pouco mais de água no fubá e corto os talinhos das hortaliças, que assim o almoço rende também pros bichinhos” relata dona Juliana, moradora da Ocupação Tiradentes, em Curitiba. De acordo com o levantamento dos próprios moradores da ocupação, cada família tem um ou mais animais de estimação no local.
“Eram quatro gatos, mas aí apareceu esse preto na madrugada e um mês depois uma malhada prenha toda machucada, eu não tinha como por para fora”, diz seu Sebastião, morador da Ocupação Vila 29 de Março.
Relatos como o de dona Juliana e seu Sebastião são comuns nas favelas de Curitiba, de acordo com a pesquisa de Animais em Condição de Vulnerabilidade (ACV) mais que quadruplicou entre 2018 e 2022. Os números fazem parte do levantamento do Instituto Pet Brasil, que realiza pesquisas junto às ONGs de todas regiões do Brasil. Segundo o levantamento, o Brasil possui 184.960 animais resgatados sob tutela de protetores ou ONGs em todo o país. Deste total, 96% são cachorros (177.562) e 4% (7.398) são gatos.
O Instituto considera como ACV os animais domésticos que estão sob tutela de famílias abaixo da linha da pobreza, ou que vivem nas ruas, mas recebem cuidado da população ao redor.
Na ocupação Tiradentes, a maioria dos moradores tem, pelo menos, um animal de estimação na família. A assistente social e ativista dos direitos humanos Elza Campos que atua há mais de quatro anos na ocupação relata como a interação da comunidade com os animais é importante.
“Nessas lutas, nos chamou a atenção para o número de animais em especial cachorros que muitos deles são abandonados por pessoas que param seus carros e os jogam na Ocupação. Começamos a desenvolver um trabalho de atendimento aos animais, com apoio de veterinária e estudantes. Tivemos finais de semana onde foram atendidos cerca de 100 (cem) animais entre cachorros, gatos, coelhos, aves, etc. Fizemos campanha de doação de ração e através desse trabalho, também ouvíamos as mulheres e crianças da comunidade”, explica Elza.
Apesar do cuidado e amor da comunidade com os animais, o aumento dos preços dos alimentos da cesta básica e a pandemia dificultaram muito a vida dos tutores de animais que enfrentam a carestia. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (DIEESE), a inflação no segmento de alimentos para pets foi de 22,9% no acumulado de 12 meses do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).Levando muitos donos de animais a não conseguir arcar com os custos de ração, veterinário e entre outros gastos necessários para saúde dos animais de estimação.
Nereide Cristina e Carla Almeida, coordenadoras da ocupação Tiradentes junto a outros moradores e integrantes de movimentos socais começam no mês de dezembro o projeto “Amig@s animais – Ocupação Tiradentes”, com o objetivo de ajudar as famílias e seus animais.
Gleide Costa, ativista e voluntária do projeto explica que a inciativa está no começo e é fruto da união de várias protetoras e cuidadores de animais.
“Resolvemos nos unir, muita coisa já era feita de forma individual mas agora em conjunto vamos conseguir fazer mais pelos animais e com mais eficiência. Já temos um terreno, contamos com doações para levantar uma casinha abrigo, com consultas, banhos e tosa”, comenta Gleide.