Operação da Marinha vai atravessar o Ano Novo no Lins (RJ)
Ação começou após morte de médica com tiro na cabeça no Hospital Marcílio Dias, vizinho à comunidade. Moradores reclamam
Operação começou em 12 de dezembro com oito blindados e 32 viaturas. Segundo carta da Marinha para a Associação de Moradores do Morro do Gambá, cerca de 250 fuzileiros navais acompanham funcionários do Hospital para “manutenção do muro”, sem data para terminar.
A operação da Marinha no Complexo do Lins, zona oeste do Rio de Janeiro, iniciada após a morte da médica Gisele Mendes de Souza e Mello, começou em 12 de dezembro e chegará a 2025, sem previsão de término.
A médica foi atingida com um tiro na cabeça durante cerimônia no auditório do Hospital Naval Marcílio Dias, em 10 de dezembro. O Hospital faz divisa com comunidades do Complexo do Lins, como morro do Gambá.
“Estão xingando, estão maltratando. Então, a gente não tem que pagar pelo erro de ninguém. A gente só quer ter o direito de ir e vir” – Relatório da Ouvidoria
A operação da Marinha implantou o sistema “pare e siga”, com barreiras nas ruas Cézar Zama, Heráclito Graça e Maria Luiza. Elas circundam o Hospital Naval Marcílio Dias. Moradores reclamam do controle de acessos, dificultando o trânsito, cujo fluxo aumenta no final de ano.
Veículos e motocicletas são vistoriados. Ficam de dois a três tanques nas esquinas, dia e noite. Por uma das entradas bloqueadas, moradores costumam subir ao Santa Teresinha de carro, moto, Kombi. Com as barreiras, sobem a pé. São cerca de 250 militares da Marinha na operação.
“A gente tem que subir e descer”, diz morador
O trânsito estava complicado antes da operação da Marinha por causa de uma obra de saneamento realizada na rua Maria Luiza. Uma moradora que trabalhou com a médica da Marinha morta no Hospital Marcílio Dias, diz que “quem chega do trabalho cansado é que está sofrendo”.
A Ouvidoria Externa da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro produziu um relatório com reclamações de moradores. Contém relatos recebidos por mensagem de texto, áudio e vídeo.
“Colocaram os fuzileiros navais na entrada da comunidade fazendo periódicas incursões onde quem está sendo punido são as crianças, são as senhoras de idade são os velhos da comunidade” – Relatório da Ouvidoria
“Ninguém aqui quer atrapalhar o trabalho deles. Só que também a gente tem que subir e descer. A gente tem que levar para o hospital, a gente tem que levar para a escola, está difícil”, diz um dos relatos recebidos pela Ouvidoria.
Outro morador reclama que “a gente não tem nada a ver se eles não conseguem punir os culpados, estão punindo a gente. Entendeu? Que não temos nada com isso. Então, eu queria pedir às autoridades que olhassem com atenção para as pessoas de bem, de dentro da comunidade. Muito obrigado.”
Fuzileiros fazem segurança para “manutenção de muro”
Segundo comunicado da Marinha ao presidente da Associação de Moradores do Morro do Gambá, “fuzileiros navais embarcados em viaturas” acompanham funcionários do Hospital Naval Marcílio Dias para “manutenção do muro”.
São “questões de segurança”. O comunicado da Marinha informando sobre a realização dos trabalhos de “alvenaria, pintura, elétrica e pode de árvores” veio em 20 de dezembro, dez dias depois da morte da médica, oito após o início das operações.
“Devido à grande extensão do muro e a complexidade dos trabalhos, estima-se algumas semanas de duração para a conclusão dos serviços”, diz informe da Marinha à Associação de Moradores.
Posicionamento da Marinha
Em resposta à reportagem, a Marinha confirma que a operação no Complexo do Lins começou em 12 de dezembro, dois dias após a morte da médica no Hospital Naval Marcílio Dias.
O comunicado enviado à Associação de Moradores do Morro do Gambá, datado de 20 de dezembro, informava que a operação começaria três dias depois – porém, havia começado 11 dias antes.
Ainda segundo a Marinha, são empregados aproximadamente 250 militares, oito veículos blindados de transporte de pessoal, além de 32 viaturas. A operação deve atingir, no máximo, 1.320 metros a partir do Hospital Naval Marcílio Dias.
A Marinha não divulgou dados sobre a operação, como número de apreensões de drogas, armas e prisões. “Dados desta natureza serão divulgados oportunamente”, diz a nota oficial.