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Quilombo na periferia de Porto Alegre sofre “perda ancestral”

Líder do Quilombo dos Machado diz que destruição não é novidade ao atingir “povo preto, pobre, indígena, periférico”

8 mai 2024 - 10h52
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Resumo
O Quilombo e a Vila Respeito, ambas na região de Sarandi, zona norte de Porto Alegre, foram quase totalmente submersos devido às fortes chuvas, causando prejuízos considerados "ancestrais" pelo líder quilombola Luís Rogério Machado - o problema não é pontual, mas resultado de séculos de descaso.
Moradores do Quilombo dos Machado e da Vila Respeito tentar salvar o que sobrou em uma das áreas mais afetadas de Porto Alegre
Moradores do Quilombo dos Machado e da Vila Respeito tentar salvar o que sobrou em uma das áreas mais afetadas de Porto Alegre
Foto: Instagram Quilombo dos Machado

O Quilombo dos Machado, um dos oito quilombos na área urbana de Porto Alegre, está quase todo submerso, assim como a Vila Respeito, ao lado. São áreas periféricas na região de Sarandi, zona norte, uma das mais afetadas pelas chuvas.

“Em noventa e sete por cento da área, é perda total”, resume Luís Rogério Machado, o Jamaica, liderança do Quilombo dos Machado e da Frente Quilombola do Rio Grande do Sul. Apesar do alagamento em quase toda a região, a sede do quilombo escapou. Ela centraliza o apoio a quem perdeu tudo, como os moradores da comunidade vizinha, a Vila Respeito.

Eles “estavam em situação vulnerável antes mesmo da enchente”, diz o produtor musical Jay-Gueto, nascido e criado na Vila Respeito há 27 anos. “Desde que me conheço por gente, as chuvas fortes causam enchentes, e o saneamento básico é precário”. Na parte mais baixa da vila, a água chegou a cinco metros de altura.

Para o seu parceiro de corre e de vida, o líder quilombola Jamaica, as perdas não são materiais, mas ancestrais, vêm de séculos. “A gente vê isso faz 524 anos, não tem novidade nenhuma”, afirma em entrevista ao Visão do Corre.

Jamaica, liderança do Quilombo dos Machado, na zona norte de Porto Alegre, aponta séculos de descaso
Jamaica, liderança do Quilombo dos Machado, na zona norte de Porto Alegre, aponta séculos de descaso
Foto: Reprodução Instagram Quilombo dos Machado

Poderia descrever a situação do Quilombo dos Machado e da Vila Respeito?

A situação é de catástrofe. Em noventa e sete por cento, é perda total.

De quais doações vocês mais precisam?

Água potável, com certeza, e produtos de higiene, roupas, colchões, para a sobrevivência de agora. Daqui a pouco tempo a gente vai precisar de telha, cama, armário, casa completa. A maioria perdeu tudo.

Para onde foram as pessoas?

Para vários abrigos nas redondezas e para comunidades quilombolas que não foram afetadas e estavam oferecendo pouso. Quem tinha familiar em lugar não atingido, foi para lá.

Os outros quilombos urbanos de Porto Alegre também alagaram?

Além daqui, na encosta do Guaíba, chegou também no Quilombo do Lemos. No interior, como São Roque, destruição total.

A sede do Quilombo dos Machado escapou da enchente e centraliza apoio às vítimas quilombolas e da região
A sede do Quilombo dos Machado escapou da enchente e centraliza apoio às vítimas quilombolas e da região
Foto: Instagram Quilombo dos Machado

Haveria alguma coisa que poderia ter sido feita para evitar o que aconteceu?

Muita coisa. A gente vê isso faz 524 anos nos locais que mais foram afetados, que mais se ralaram. Com essa enchente não seria diferente: o povo pobre, preto, indígena e periférico. Não tem novidade nenhuma.

Quando a água baixar, quais serão as primeiras providências?

Estamos na primeira fase desse inferno, se preparando psicologicamente para a segunda. Na primeira, o alagamento e a perda das casas. Na segunda, tentar recomeçar. Quem tem dinheiro, é uma perda material. Mas para o povo da periferia, é uma perda ancestral porque muita gente demorou décadas para fazer sua casinha, seu pequeno confortinho, e perderam em questão de segundos.

Qual a mensagem da sabedoria ancestral diante da enchente?

O ser humano tem que ter mais respeito e mais educação com a natureza.

Fonte: Redação Terra
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